Domingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Um recorde: professora Berenice Luz doa 418 livros ao Museu da Memória


Um recorde: professora Berenice Luz doa 418 livros ao Museu da Memória - Gente de Opinião

Chegaram ao Museu da Memória (MERO) esta semana e já fazem parte do seu acervo, 418 livros doados pela professora Berenice Luz da Silva. Os exemplares pertenciam à família dela e de seu falecido marido, ex-vereador pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) e relator da Constituição do Estado de Rondônia, deputado Amizael Gomes da Silva.

Até agora, esta foi a maior doação de acervo bibliográfico feita por admiradores do museu e da história rondoniense e amazônica.

Assinado por ela e a administradora do MERO, Liliane Sayonara, o termo de doação dá início à liberação da leitura pelo público interessado.

Nascido em Bacabal (MA), Amizael faleceu em 5 de março de 2003. Desde jovem ele abraçou as letras, e antes de ser o “professor Amizael”, atuou na reportagem do extinto jornal O Guaporé, cobrindo conflitos fundiários, o mais notável deles, com a implacável perseguição policial federal aos colonos do Igarapé Amola Faca, em Espigão do Oeste, a 539 quilômetros de Porto Velho.

A professora, mãe de cinco filhos, mora atualmente numa chácara.

Ela doou, entre outros: Amor de perdição de Camilo Castelo Branco; clássicos da literatura sobre a região Amazônia: As raízes da destruição, de Ricardo Lessa; Amazônia: natureza, homem e tempo, de Leandro Tocantins; Na planície Amazônica, de Raymundo Moraes; Estado do Acre: geografia, história e sociedade, de Leandro Tocantins.

De autoria de Amizael, já estavam no acervo: Amazônia Porto Velho; Da chibata ao inferno e Forte Príncipe da Beira.

A biblioteca do ex-deputado fortificou-se graças ao seu constante interesse por obras que lhe revelassem detalhes até hoje compreendidos e ainda estudados em páramos remotos regionais.

“Amizael amava a Amazônia, viajamos muito por aqui e por outras grandes cidades do País; adquirimos muitos livros. De Manaus e Brasília trouxemos muitos exemplares distribuídos pela Editora Ler”, ela lembra.

Nas coleções do casal também se destacam exemplares de suplementos literários de jornais [algo comum na imprensa dos anos 1950 a 1980] e até poemas de Berenice, alguns deles publicados.

Sempre que chegava a uma cidade, museus e demais pontos culturais eram os preferidos na visitação. Na Biblioteca do Exército Brasileiro Amizael obteve diversos títulos.

Doar é um verbo que Berenice conjuga na prática desde os 15 anos, quando iniciou o voluntariado na Igreja Assembleia de Deus, sob a inspiração de seu fundador, Paul Aenis.

Ao longo da vida, ela o ajudava a anotar e pesquisar, e segue procurando com esperança de encontrar, Abaitará e Urumani, um romance que ele escrevia há algum tempo.


RELEMBRANÇAS


Na página exata do livro Amazônia Porto Velho, ela mostra ao fotógrafo Luiz Brito a foto da 1ª turma de Licenciatura Plena formada pela extensão da Universidade Federal do Pará em Porto Velho.

Berenice dividia-se entre o voluntariado na igreja e a educação pública. Ela conta que seu primeiro salário foi um relógio no governo Paulo Nunes Leal. “Professores eram depois contratados com a verba 1613, do MEC”.

Estudou no curso normal e fez o técnico em contabilidade, chegando à coordenação pedagógica no Colégio Carmela Dutra, e subdiretora na gestão da professora Odaleia Penha Sadek. Em seguida, dirigiu o Departamento de Educação da Seduc, levando aos rondonienses os benefícios da Fundação Educar para jovens e adultos. E no podium, foi delegada do Ministério da Educação, vencendo o Oscar Mulher 1992.

 “Na gestão do professor Vitor Hugo na antiga Secretaria Estadual de Cultura, Esportes e Turismo, movimentamos escolas periféricas com o projeto chamado Interação-Escola-Comunidade: práticas do saber, autorizado pelo MEC”, ela relata.

E da gestão do professor Vigor Hugo, ela se lembra que integravam a equipe técnica da ex-Setec: Yêdda Borzacov, Natalina Ferreira Hubner, Nazaré Silva, Isaías Vieira e Itajá Malta de Alencar, todos colaboradores do Projeto Rondon. “A equipe de ação social promovia feiras culturais nas escolas, com doces e artesanato, especialmente na região do distrito de São Carlos de Calama. Iam para lá também médicos e de dentistas, entre eles, os doutores Diogo, Pedro, Aparício Carvalho, Heitor Costa, que atendiam os ribeirinhos”.

Na gestão da professora Yêdda Borzacov, a equipe técnica promoveu uma feira cultural com doces e artesanato e visitou a região do Baixo Madeira. “Naquele período, a professora Natalina coordenava o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).

Em contato direto com as pessoas, a equipe de promoção social organizou oficinas de reciclagem, dando noções sanitárias para a perfuração de poços e fossas, e ainda conseguia filtros.

Berenice foi diretora da 1ª à 4ª série e da 5ª à 8ª; no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) ficou nove anos; foi secretária municipal adjunta de educação na gestão do professor Lourival Chagas.

“No Senai, participei da montagem da sala ambiente de ciências, para atender à carpintaria, construção civil, desenho arquitetônico e mecânica de automóvel. Fui fazer o curso em Manaus, e tinha apostilas até em espanhol”, conta.

Até a aposentadoria, em 1992, ela fez de tudo um pouco a serviço da educação: trabalhou com fé e coragem na alfabetização no antigo território federal, coordenando a aplicação do programa João da Silva, a primeira telenovela educativa da tevê brasileira, produzida pela Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa e que recebeu Menção Honrosa do Júri do Prêmio Japonês de melhor programa didático de 1973.

Dirigida por Jacy Campos, o programa João da Silva constituiu-se um misto de telenovela e curso supletivo de primeiro grau entre 1973 e 1974 (pela TV Cultura e TV Rio), com a veiculação de cem capítulos, 25 aulas retrospectivas, dez programas complementares e cinco livros de apoio.

“Olha, no Carmela Dutra a professora Marise me incumbiu de montar um musical cênico, eu tremi e até hesitei, mas juntamos um grupo de alunos e deu certo! Demos o nome sugestivo de E agora, José?

Berenice se considera recompensada por participar do rico período cultural brasileiro que abrangia Rondônia. “Fomos contemplados pela Empresa Brasileira de Cinema (Embrafilme), Fundação Pró-Memória e o antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan).”

Da horta comunitária ao teatro e ao cinema, de tudo um pouco era feito pela Secet, ela enfatiza. “Eu me lembro do maravilhoso trabalho do psicólogo, ator, diretor, dramaturgo e mímico Alejandro Bedotti, do poeta José Monteiro, da maestrina Sílvia, do violinista Valdemar, todos eles responsáveis pelo resgate de culturas e tradições.” 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Taxa de 30% sobre remessas internacionais enviadas desde os EUA, acima de US$ 200, auxiliaria política imigratória, sugere Samuel Saraiva ao Governo Norte-Americano

Taxa de 30% sobre remessas internacionais enviadas desde os EUA, acima de US$ 200, auxiliaria política imigratória, sugere Samuel Saraiva ao Governo Norte-Americano

O cidadão Samuel Sales Saraiva propôs nesta quarta-feira ao presidente dos Estados Unidos, estudos técnicos legislativos ou medidas executivas feder

De cada 60 homens que partiam, dez morriam e 20 ficavam doentes; libras de ouro circulavam em Santo Antônio (2)

De cada 60 homens que partiam, dez morriam e 20 ficavam doentes; libras de ouro circulavam em Santo Antônio (2)

Quando o nível do rio permitia, o transbordo obedecia à correnteza nas cachoeiras Jirau, Ribeirão e Teotônio, no Rio Madeira. Santo Antônio, via circu

Saraiva sugere a Trump conclamar cidadãos a ajudar Polícia Federal de Imigração com informações que permitam a prisão e deportação de criminosos e fugitivos

Saraiva sugere a Trump conclamar cidadãos a ajudar Polícia Federal de Imigração com informações que permitam a prisão e deportação de criminosos e fugitivos

Em carta enviada ao Presidente Donald Trump, com cópia para a direção da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE), o cidadão americano Samuel Saraiva

Novo livro de Lúcio Flávio revela paixão pela floresta

Novo livro de Lúcio Flávio revela paixão pela floresta

Jornalista mais premiado da história na Região Norte, de acordo com o Ranking + Premiados da Imprensa Brasileira 2024, Lúcio Flávio Pinto acaba de lan

Gente de Opinião Domingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)