Segunda-feira, 10 de maio de 2010 - 12h37
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Variedade de peixes nas bancas atende ao gosto da freguesia exigente de Belém /FOTOS MONTEZUMA CRUZ |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
BELÉM, Pará – O galo canta às 7h30. Aliás, canta o tempo todo, desde a madrugada. Patos, codornas e passarinhos se alvoroçam nas gaiolas. Varredores saem limpando o chão, sem se importar muito com quem passa. O dia nasce e o grande mercado Ver-O-Peso respira às margens da Baía de Guajará.
Em março o Ver-O-Peso completou 383 anos, oferecendo atualmente à cidade uma fartura de legumes, frutas — bacuri, pupunha, tucumã, muruci, piquiá e taperebá — e cereais. O prédio construído em 1688 concentra as bancas de peixe fresco desembarcados diariamente no cais. Tricentenário, o mercado oferece à cidade cereais, peixe- fresco e frito na hora, tacacá, tucupi, caruru, açaí, mandioca, beijus, sabão de cacau, farinha e outros derivados, cupuaçu, castanhas, salgados diversos, roupas e camisetas.
Peças de ferro e alumínio esparramadas pelo chão exigem o cuidado para o freguês não tropeçar. No alto da pequena arquibancada de cimento estão expostas peças de artesanato — peneiras, paneiros, abanos, tipiti, cestos etc.
Há remédios para todas as necessidades: óleo de anta, andiroba, óleo de jibóia, copaíba. Para curar a tosse e doenças da garganta, destacam-se chá de gengibre ou de alho-macho.
A razão do nome
O mercadooriginou-se de um posto fiscal criado naquele ano, no porto do Piri. Ganho esse nome por ser obrigatório ver o peso das mercadorias que saíam ou chegavam à Amazônia, arrecadando-se os impostos correspondentes.
Num dos corredores estão expostos bichos vivos e de pau. Os vivos fazem muito barulho. Uma voltinha aqui, outra ali, o repórter encontra araras feitas do braço do meriti, uma palmeira regional. Dário Prestes, 39 anos, casado, dois filhos, vende cada uma a R$ 30. Ao lado dele, Benedito Monteiro de Souza Júnior, 29, casado, um filho, conta que herdou do avô a venda de cerâmica marajoara, cujos vasos custam entre R$ 80 e R$ 120. Ele mesmo confecciona e uma transportadora faz entrega nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Descascadores, bilheteiros e talhadores
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Farinheiro oferece opções de preços e produtos da terra |
BELÉM — Entre as barracas se encontram o vendedor de banana com camisa enrolada à altura do peito e pés descalços; o menino oferecendo sacos de papel; o descascador de camarão; os vendedores de bilhetes de loteria; o jornaleiro com todas as publicações locais; o talhador de peixe com seu boné característico; o caboclo tostado pelo sol carregando caixas cheias de piramutabas e os bilheteiros de loterias. E ainda há espaço para os camelôs, nas calçadas.
Lizete Trindade Azevedo, 79 anos, veio com quase quatro anos de idade de Friúmes (Portugal). Teve 11 filhos, dos quais nove estão vivos. Vende charque e defumados. Sempre cercada por amigos e admiradores, essa senhora é um dos símbolos do mercado, onde se instalou há 55 anos, “no tempo dos paus no chão”. Ainda não havia barracas, ao lado do Ver-o-Peso.
Qual o seu time, dona Lizete? “Remo!”, ela grita, erguendo os braços e virando para a esquerda o corpo franzino. (M.C.)
Mandioca, tucupi, patchuli...
BELÉM — A mandioca da variedade Ouro Preto, amarelada, pequena e roliça, vem de Acará. Rica em betacaroteno (precursor da vitamina A), ela custa R$ 2 o quilo. “Chego aqui de madrugada e vendo duas caixas grandes por dia”, conta Roberto Rivelino, 30, torcedor do Remo e do Fluminense.
De longe se avistam as bancas de tucupi acondicionado em garrafas plásticas. A unidade com dois litros custa R$ 3. Dali, o freguês dobra à esquerda e localiza as bancas da medicina natural amazônica, algo tão procurado quanto os bons pratos paraenses.
Edivaldo Teles, 40, casado, quatro filhos, trabalha há 25 anos com andiroba, copaíba, buchinha, patchuli, leite de súcuba para gastrite e dezenas de outros produtos.
— Vendo bem, graças a Deus. O senhor encontra tudo aí, devidamente rotulado – diz. E vai mostrando o restante dos produtos: mel de abelha e muita perfumaria. Os que mais saem: “Chega-te a mim” e “Abre caminho”, “Comigo ninguém pode”, “Limpa corpo”, “Atrai freguês” e “Amansa sogra” – todos à base de ervas.
Uma prosa de dez minutos com seu Patrício, 73, no estreito corredor entre o prédio do mercado e as barracas vizinhas, permite conhecer o que ali existe em produtos dedefumação, apetrechos umbandistas (colares e outros), “tudo para afastar o mau-olhado”, garante.
Tem ainda os compostos de babosa, para a queda de cabelos; juá, capim marinho, jaborandi e amor crescido. Ele recomenda o uso três vezes ao dia e fornece o telefone à freguesia: 91 96070192. (M.C.)
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Há 25 anos Edivaldo Teles trabalha com andiroba, copaíba, buchinha, patchuli e leite de sucuba |
Japoneses, nordestinos e europeus se misturam
BELÉM – Fora do prédio, avista-se à beira da baía dezenas de canoas e vigilengas, abarrotadas de frutas e legumes. Logo cedo elas atracam na escadinha do Ver-o-Peso. As pessoas param para ver a cena. A partir daí os vendedores arrumam suas barracas. Por volta das 9h o movimento aumenta. Frutas, legumes, cereais, farinha, ervas medicinais e diversos produtos têm diferentes procedências.
A tapioquinha recheada com coco e manteiga agrada a todos os paladares. Comerciantes caboclos se misturam com japoneses e, muitas vezes, com turistas americanos e europeus. As melancias se destacam entre os produtos oferecidos pelos japoneses. Grupos de nordestinos tocam sanfona, triângulo e zabumba perto da feira. Cantam alto e atraem multidões. Os chapéus de palha usados por japoneses contrastam com os chapéus de cangaceiros. (M.C.)
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Açaí na tigela e peixe frito: prato matinal na banca do Léo |
Léo serve açaí fresco na tigela
BELÉM — Peixe frito na brasa não falta no cardápio dos arredores. O molho de pimenta e tucupi aumenta o sabor, dizem as cozinheiras, satisfeitas com a “freguesia estrangeira”. Sempre há turistas no Ver-O-Peso. E a maniçoba? E o pato no tucupi? A comilança é das grandes.
Com R$ 6 bebe-se a tigela de açaí. Com R$ 10 acrescenta-se o peixe frito e a farinha. Verdadeiro almoço, dependendo do apetite do freguês.
Léo, que me vende oito litros de açaí, esnoba seu conterrâneo no balcão:
— O moço aqui vem de Brasília e bebe a tigela cheia com peixe frito e farinha, e tu nem se mexe!? — esbraveja.
Leo diz que essa pessoa, com alguma posse, ali circula, todos os dias, mas não demonstra a mínima vontade em provar um dos melhores frutos amazônicos, cuja popa é “exportada” para o sul e sudeste do País. Pensei: será que o paraense enjoou do açaí? Só uma minoria, com certeza. (M.C.)
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Aves e pássaros são vendidos num dos principais corredores próximos aos açougues e peixarias |
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