Quinta-feira, 15 de maio de 2008 - 10h17
ÉLSON MARTINS (*)
Está na internet (site www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br) a edição número um, acompanhada de uma longa entrevista feita 20 anos depois, em 1997, no efêmero jornal O Acre com seus editores, repórteres e colaboradores. A entrevista ajuda as gerações mais novas a entenderem o que se passou naqueles tempos difíceis, porém instigantes para o jornalismo regional e nacional.
A idéia dos editores do site é disponibilizar uma edição por mês, até completar a coleção de 24 números feitos no período de 1977 a 1981. Disponibilizado em PDF, o jornal pode ser baixado e copiado à vontade, como instrumento de luta das forças populares do Acre, principalmente, dos povos da floresta contra aqueles que chegavam aos montões do centro-sul do país desmatando, queimando e expulsando famílias dos seringais.
A justificativa dos invasores que apesar da resistência local se tornaram donos de latifúndios e continuam ameaçando a floresta, além de introduzir modismos, ganância e outros maus procedimentos na vida social, cultural, econômica e política do Estado – é sempre o "progresso" que prevê a derrubada da floresta para plantar capim, soja, cana ou outra desgraça semelhante, trocando a rica biodiversidade amazônica e os povos que com ela se identificam pela solidão e perversidade da monocultura.
Na redação do Varadouro nasceram a Comissão Pró-Índio do Acre, o Sindicato das Lavadeiras, a proposta de criação do Partido dos Trabalhadores e tantos outros movimentos que não aceitaram a ditadura militar nem o que esta queria fazer da Amazônia, sobretudo do Acre, enterrando e cobrindo a cultura tradicional com bosta de boi e mijo de vaca.
Os líderes seringueiros Wilson Pinheiro e Chico Mendes morreram nessa luta, assassinados, mas deixaram um legado que não pode escapar das mãos de seus herdeiros – extrativistas, ribeirinhos, pequenos agricultores, posseiros e índios que vivem nas reservas extrativistas e nos assentamentos do Incra, ou mesmo em outras unidades de conservação protegidas por leis ambientais, muitas vezes sem se dar conta da riqueza natural que possuem. Convém a esses herdeiros não desperdiçar o ano 2008, decretado Ano Chico Mendes pelo governo que eles ajudaram a criar.
Existe muita conversa perniciosa em circulação por falta de reflexão, leituras, tolerância entre companheiros e, sobretudo, por falta de valorização do conhecimento tradicional construído com sangue e suor por quem aprendeu a viver na floresta e tem em mãos a tarefa desafiadora de construir uma sociedade nova, sustentável, ética e ambientalista.
À espera de um discurso novo
As lutas socioambientais do Acre, das quais Varadouro pode simbolizar a gênese e ainda hoje sugerir realinhamento de conduta, estão aí para serem postas sobre a mesa, como diria o poeta amazônida Thiago de Melo. E a sociedade acreana, creio, está à míngua de um discurso novo, verdadeiro, do qual possa se valer para expressar seu talento, sua vontade de participar e partilhar conquistas coletivas. O governo atual – podemos indagar - se não é da floresta como propala respaldado na história recente do Estado, é de quem ou de quê? E os herdeiros do legado do movimento que Wilson Pinheiro e Chico Mendes lideraram nos anos setenta e oitenta temem o quê, quando percebem desvios e nada falam ou fazem?
A história do Acre é secular, original e exemplar. Esses valores estão reforçados por uma ancestralidade que desconhecemos, mas que tem nos ajudado superar seguidas ameaças. Ela fala pelo coração, independe de sofisticadas consultorias e tem sempre um pé atrás quando o discurso imposto inclui falsidade, personalismo, pobreza de espírito e mesquinhez. Leiam, colecionem e façam difusão do Varadouro.
É possível descobrir em suas páginas que, não faz muito tempo, pessoas comuns e subletradas enfrentaram ditadura militar, meia dúzia de governos reacionários e corruptos, além de jagunços, políticos, empresários, policiais e membros do judiciário que se tornaram cúmplices da enorme maldade praticada contra os povos da floresta. Sem a resistência daquelas pessoas comuns e especiais, provavelmente, o Acre teria perdido sua melhor identidade.
(*) Jornalista, colaborador do site da Biblioteca da Floresta. Foi um dos editores do Varadouro.
Fonte: Montezuma Cruz
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