Terça-feira, 30 de julho de 2019 - 18h02
RADARES – Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha anunciado publicamente que não renovaria os contratos de funcionamento dos radares nas rodovias públicas, a Justiça Federal divulgou um acordo assinado entre o Dnit e a União para instalarem 1.140 radares de monitoramento de 2.278 faixas de rodovias federais não concedidas à iniciativa privada. O acordo foi assinado após sentença da 5ª Vara da Justiça Federal de Brasília, que reverteu a decisão de Bolsonaro em desativar os radares. A União tem dois meses para recolocar em funcionamento os radares e dar início às novas instalações.
NÚMEROS – Os prognósticos disponíveis apontam que os números de acidentes nas rodovias federais diminuíram em todas aquelas em que os radares foram instalados. São dados importantes que influenciaram de forma concreta a decisão judicial. Somente um ignóbil não percebe que estabelecer limites de velocidade, em particular nas rodovias que cortam os municípios, é importante para diminuir os acidentes e o número de óbitos. Em qualquer país civilizado as rodovias são policiadas e com redutores de velocidade. O papo de Bolsonaro em liberar geral a velocidade sob a justificativa de ser uma fábrica de multas não passa de lorota, visto que a multa somente é aplicada em quem ultrapassa os limites de velocidade estabelecidos pelas normas.
FALASTRÃO – Como fala pelos cotovelos o que dá na telha e sem filtros, o presidente Bolsonaro tem provocado muita confusão e, não raro, grosserias contra os desafetos. Ao atacar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, Bolsonaro não mensurou as palavras fazendo ilações sobre o desaparecimento e morte do pai de Felipe, executado, segundo a Comissão da Verdade, pelo estado brasileiro em 1974, por se opor ao regime militar. A fala foi considerada uma crueldade por várias instituições e dezenas de autoridades, inclusive ligadas ao Bolsonarismo. A língua do mandatário faz tanto estrago ao governo quanto os péssimos índices da economia. Todos os dias temos uma nova pérola do falastrão.
POLEMISTA – Acompanhei nas mídias sociais e na mídia nacional a reação enorme - a maioria reprovando – um discurso feito pelo antropólogo e médico Ari Ott, reitor da Universidade Federal de Rondônia. Não estivesse no cargo de magnífico certamente as palavras ditas por Ott no ambiente acadêmico não ressoariam tão estridentes quanto ressoaram. Conheço o magnífico desde os idos 1989, ano em que exerceu a vice-reitoria na gestão José Dettoni. Vem desta época a forma argumentativa, recheada de sarcasmo e ironia que Ott utiliza para abordar os mais variados temas, em particular aqueles que provocam reações apaixonadas dos libertários e incendiários puritanos. Ari sempre foi um polemista por natureza. Engana-se quem achar que ataques os mais acerbos vão muda.
INFELICIDADE – Assisti ao vídeo em que Ari Ott – gravado num ambiente acadêmico - faz um discurso cheio de sarcasmo e ironia com uma dose provocativa a temas complexos para a realidade atual, a exemplo de religião, droga e nudismo. Embora este cabeça chata tenha dado boas risadas com o que viu, Ott foi infeliz na ironia e exagerado no sarcasmo. Ainda assim, tais exageros e infelicidades quando assistidas fora do contexto. Diria que, embora compreendendo a fala e não vendo nela nada de anormal, exceto ditas soltas, ou digamos, editadas, descontextualizadas, o Ari Ott que conheci no século passado é idêntico ao atual. Nada mudou! Ele se mantém fiel à mesma forma antropológica de se expressar o que provoca nos milicianos virtuais atuais a igual ira dos puritanos de outrora. Para alívio dele, consegue ovação dos velhos hippies e dos novos gêneros. É a vida moderna pós internet que deixa os ânimos exaltados.
IRONIA – Um artigo publicado pela professora Ida Lúcia, analisando tais fenômenos, explica melhor a forma pela qual Ott utiliza para expressar intelectualmente suas posições. Na argumentação, a professora diz que a ironia, como um paradoxal meio de comunicação, traz em si mensagens claras para uns, obscuras para outros; inteligentes para uns, agressivas para outros. Análise que este escriba subscreve.
AXIOMA - De modo geral, o humor presente nas trocas linguageiras é bem visto e considerado simpático. A ironia tende a ser mal vista e o sujeito que ironiza é mais temido que querido por seus interlocutores que, por vezes, não hesitam em lhe colar a etiqueta de pessoa irônica com uma carga axiológica não-positiva. O magnífico se encaixa bem nesse axioma.
PANTOMIMA - Talvez essa seja uma visão estereotipada tanto do humor quanto da ironia, mas não deixa de ser algo que temos escutado bastante ao longo das pesquisas sobre o assunto. A ironia é como o diabo que salta de uma caixa, ela pode surgir sem que esperemos em um enunciado provocador ou brincalhão (ainda que com ar inocente), em uma palavra, em um gesto ou em um olhar. Não raro provoca perplexidade, mas em geral, para a plateia presente, contextualizada, não passa de uma tirada cheia de humor. É verdade que chocou alguns pelo traje estalar que cobre os ombros da magnificência, mas Ott nunca perderia a chance de uma boa pantomima, particularmente quando as academias, como na idade média, são apedrejadas.
TESTEMUNHA – Meditei muito antes de meter meu bedelho nesta cruzada contra os cruzados, o problema é que desde o século passado nutro uma admiração pessoal que beira a irmandade com Ott. É na adversidade que os amigos aparecem, embora eu e Ari não nos vejamos com a mesma frequência que gostaríamos. Sou testemunha da colaboração intelectual dada a Rondônia por vossa magnificência Ari OTT, mesmo sabendo que não foi a primeira nem a última vez que seu discurso ressoa e provoca polêmicas. Quem o conhece pessoalmente, seja os que o odeiam, seja os que o amam, reconhecem nele um professor com atributos intelectuais bem diferenciados, o que contrasta com a mediocridade imperante em alguns meios acadêmicos. Ele não precisa da defesa feita nestas mal traçadas linhas, no entanto, a intolerância alcança níveis tão absurdos que ficar calado num episódio desse é uma covardia. Covarde este PB nunca vai ser. Ari é de longe o mais brilhante e erudito professor que conheço e até os desafetos reconhecem.
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