Sábado, 17 de dezembro de 2016 - 05h41
Samuel Castiel Jr
Ele estava postado sobre aquela pedra desde bem cedo, quando o orvalho caído durante toda a noite deixara sua superfície úmida e escorregadia. O sol subia rapidamente no nascente e ele começava a sentir sua pele ficar suada, pegajosa. O rifle pendurado em sua costa e o chapéu de palha de abas largas completavam a figura sinistra de um matador. Tinha tudo planejado nos mínimos detalhes. Desde o dia que foi procurado por aquele desconhecido e lhe foi passada uma foto da vítima. Não tinha e nem queria saber dos dados pessoais do encomendado tais como nome, idade, estado civil, se tinha família e filhos. Nada disso lhe importava, não lhe seriam úteis. Queria apenas o trajeto que aquele infeliz percorria de sua casa até seu trabalho, na garimpagem de pedras preciosas num igarapé bem escondido e camuflado no meio da selva densa. Muitos chamavam de trabalho sujo mas... era o que ele sabia fazer! Executava e recebia muito bem pelo seu trabalho. Pedia sempre adiantado a metade do pagamento e depois da execução recebia o restante. Dessa vez tentou saber sutilmente quem encomendara o serviço mas foi imediatamente desestimulado:
-- Olha aqui cara: você aceita ou não aceita o serviço? É pegar ou largar!... Nada de ficar fuçando com conversa “mole”. O Chefão não iria gostar nada de saber que você andou insinuando e fazendo perguntas.
-- Ok, Ok. Não está mais aqui quem perguntou!...
Mas depois, com o passar dos dias, ficou matutando ainda por algum tempo sobre aquele homem que o contratara. Tinha os olhos da morte, frios e iguais aos seus.
Aquele local fora escolhido minunciosamente por ele. Um local perfeito para uma emboscada. Ficava num desfiladeiro, numa escarpa de enormes rochas escondidas pela mata e que pareciam amarradas por inúmeros cipós que passavam por cima dessas pedras como tentáculos de um invisível e gigantesco polvo. A uns setenta metros de altura, escolhera ficar de tocaia naquele ponto. De lá tinha uma visão perfeita da estrada lá embaixo. Adaptara uma luneta a seu rifle winchester para tornar sua pontaria mais precisa, fatal. Sabia que não poderia dar mais que um tiro. Sabia também que um segundo disparo seria bem mais difícil acertar o alvo, pois perderia o fator surpresa; o susto da montaria faria o animal disparar tornando sua pontaria falha mesmo com o auxílio da luneta.
O silêncio era quase total não fosse quebrado vez por outra pelo piado da inambu distante chamando seu companheiro. Sabia que deveria ficar praticamente imóvel, pois alguns pássaros e macacos costumam avisar aos outros animais da presença de perigo ou intrusos no seu habitat. Sem dúvida alguma ele era um profissional competente ---pensava. Sua folha corrida mostrava isso. Perdera a conta de quantas almas já tinha despachado para o inferno.
Com um binóculo olhava insistente e nervosamente para aquela curva da estrada de chão batido. Era por ali que sua vítima deveria aparecer e caminhar para a morte. A temperatura subia e o calor ficava cada vez mais intenso. Nenhuma corrente de ar soprava, nenhuma folha nas arvores se mexia. De repente, montado em seu cavalo surge na curva da estrada a sua vítima. Parecia despreocupado, com um cigarro de palha na boca, trotando em sua montaria. Posicionou-se então com o corpo deitado sobre a pedra coberta de musgo. Esperou. Prendeu a respiração já com o dedo no gatilho. Atirou. O estampido forte ecoou na mata e reverberou nas rochas. Pássaros assustados voaram em polvorosa. A vítima caiu ao solo fulminada pelo tiro certeiro que transfixou seu peito. Sua montaria disparou em desenfreado galope. Satisfeito consigo mesmo, o atirador levantou-se para começar a descer a escarpa pedregosa, pois ele próprio precisava constatar a morte irreversível daquele infeliz. Mal ficara de pé e outro tiro ecoou, desta vez bem próximo ele, vindo de uma rocha um pouco acima dele. Só deu tempo de ver um rastro de fogo que o atingiu perfurando seu peito. Olhando para cima, antes de fechar seus olhos para sempre, ainda viu aquele perfil e aquele olhar frio da morte, iguais aos seus, que tanto o impressionaram. Caiu e deslizou no lodo das pedras para o abismo da escarpa rochosa.
Depois de uma quarentena cruel e monótona, o idoso já se encontra no seu limite físico e mental
A pescaria "Nunca se deve cutucar onça ( ou cobra ) com vara curta."
As águas frias e límpidas, como um espelho, refletiam as nuvens do céu e as frondosas arvores da mata verde. O barco rasgava essa supe
Ele era médico da imagem, mas também misófobo. Aliás, fez especialização em radiologia, depois fez ultra-sonografia e ressonância magnética, pois assi
O ESTRANGULAMENTO DA ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO
Quando o poeta brasileiro Olavo Bilac ( 1865-1918 ) escreveu seu soneto “Lingua Portuguesa”, no primeiro verso , ele diz “ Ultima flor do Lácio