Quarta-feira, 20 de julho de 2016 - 22h25
Samuel Castiel Jr. (*)
" Nunca se deve cutucar onça ( ou cobra ) com vara curta."
As águas frias e límpidas, como um espelho, refletiam as nuvens do céu e as frondosas arvores da mata verde. O barco rasgava essa superfície quebrando o silêncio daquelas paragens. Seus companheiros eram: o único filho José de 12 anos, sua mulher Jussara e o cachorro Malboro. O destino era a cabeceira do Rio Preto, onde pretendiam pescar principalmente a Jatuarana e o Surubim, peixes nobres da região. Esse era o “hoby” de Arthur nos finais de semana há muitos anos.Ficavam ali acampados, dormindo em barracas de lona. A noite deleitavam-se com o céu estrelado e a lua prateada. O silêncio da mata só era quebrado pelo grito de macacos e pássaros noturnos. Muito longe, as vezes, conseguiam ouvir o esturro de uma onça pintada. A pescaria geralmente era mais proveitosa no final da tarde e início da noite, ou então ao raiar do dia, quando os peixes estão mais vorazes. O barco de Arthur era um Mercury, de 40 HP. Um pequeno toldo com estampa de listras os protegia do sol inclemente do verão.
Ao passar por uma curva do rio, todos foram surpreendidos por um forte estrondo e, na sequência, o barco foi perdendo velocidade até parar. Imediatamente Arthur coreu até o motor, desligando-o e constatou que sua hélice havia se quebrado ao chocar-se com uma tábua de madeira que flutuava nas águas.
- Fiquem todos calmos, não foi nada de grave – falou Arthur. A hélice do motor se quebrou ao chocar-se com uma tábua que flutuava e eu não a vi. Vamos ter que descer um pouco a favor da correnteza para que eu troque essa hélice. Ainda bem que tenho outra de reserva.
O barco começou a descer levado pela correnteza até que Arthur conseguiu jogar a corda e prendê-lo ao galho de uma arvore à margem do rio. Enquanto Arthur trabalhava na hélice do motor, ao longo do rio passava uma cobra d'agua nadando sinuosamente na superfície das águas, levada pela correnteza. Era uma visão interessante e curiosa, pois a cobra, como o barco quando em movimento, também quebrava aquela superfície lisa das águas, produzindo minúsculas ondas. Todos no barco estavam com os olhos voltados para a cobra que, tranquila e ecologicamente, passava. Foi quando o menino José resolveu pegar sua baladeira (estilingue), juntou algumas pedras e começou a atirá-las na cobra que passava. Arthur e sua mãe o repreenderam, mas ele continuou a fustigar a cobra com as pedras de sua baladeira. Uma dessas pedras acertou em cheio a cobra que afundou e não mais foi vista na superfície da água. O menino José comemorou gritando que conseguira acertar seu alvo. Correu em direção a sua mãe e a seu pai e, de mãos espalmadas, bateu e deu soco como um vitorioso!
Feito o reparo da hélice, Arthur desatracou o barco, ligou o motor,e logo estavam novamente navegando em alta velocidade nas águas do Rio Preto.
De repente algo aconteceu: um barulho e um chiado de cobra chamou a atenção de todos no barco. Ao olhar para a traseira do barco, no assoalho e próximo ao motor, ninguém acreditou no que viu. A mesma cobra que passava a pouco tranquilamente nadando, encontrava-se agora dentro do barco, com aspecto ameaçador, chiando e pronta para dar o bote em quem dela se aproximasse. Arthur sempre foi muito precavido e nunca deixara de usar e obrigar seus passageiros a usar os coletes salva-vidas. Foi o que os salvou.
Assustados, em pânico e com pouco espaço para correr, não tiveram nem tempo para raciocinar. Atiraram-se n'água, tentando se salvar da picada da maldita cobra. Ninguém soube explicar o que aconteceu. Como aquela cobra foi parar dentro do barco depois que foi atingida pela pedra da baladeira do menino José. Nadaram todos para a margem do rio, sob o comando de Arthur. Outro mistério que não conseguiram decifrar é que quando o Arthur voltou ao barco, agora armado com um pedaço de pau para matar a cobra, lá não havia nenhuma cobra, nenhum sinal da serpente.
Antes de retomar a viagem, Arthur todo molhado e com cara de poucos amigos foi até ao José e, com a mão espalmada disse: bate campeão! Sua pontaria foi quase fatal! O menino José baixou a cabeça. Nenhum dos três disse mais nada até o destino final da pescaria.
(*) Samuel Castiel Jr., médico, poeta, cronista, músico, membro da Academia de Letras de Rondônia
Depois de uma quarentena cruel e monótona, o idoso já se encontra no seu limite físico e mental
A pescaria "Nunca se deve cutucar onça ( ou cobra ) com vara curta."
As águas frias e límpidas, como um espelho, refletiam as nuvens do céu e as frondosas arvores da mata verde. O barco rasgava essa supe
Ele era médico da imagem, mas também misófobo. Aliás, fez especialização em radiologia, depois fez ultra-sonografia e ressonância magnética, pois assi
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Quando o poeta brasileiro Olavo Bilac ( 1865-1918 ) escreveu seu soneto “Lingua Portuguesa”, no primeiro verso , ele diz “ Ultima flor do Lácio