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Samuel Castiel Jr

O ESTRANGULAMENTO DA ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO


O ESTRANGULAMENTO DA ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO - Gente de Opinião

Quando o poeta brasileiro Olavo Bilac ( 1865-1918 ) escreveu seu

soneto “Lingua Portuguesa”, no primeiro verso , ele diz  “ Ultima flor do Lácio

inculta e bela” referindo-se ao idioma português como a última língua  

derivada do Latim Vulgar falado no Lácio, uma região italiana. Dessa língua

mãe, previamente, vários outros idiomas como o francês, o italiano, o Espanhol  se originaram e se firmaram, coexistindo até os dias de hoje. Não sabia entretanto o poeta, que uma epidemia avassaladora poderia acometer essa flor do Lácio, estrangulando e sufocando toda sua beleza e pureza.

           

            Revelada e decantada na pureza de Bilac, Camões, Castro Alves

Machado de Assis, Eça de Queiroz e tantos outros expoentes da nossa

literatura, viu-se o nosso idioma  no auge de sua plenitude e forma. Mas,

seus guardiões não foram suficientes para salvá-la de uma epidemia fatal e

sorrateira, que semelhante a um câncer silencioso, vai corroendo sua vítima

de dentro pra fora. Trata-se do Neologismo estudado na literatura e na

história dos idiomas. Pois bem, essa praga, vem sorrateiramente chegando,

invadindo o idioma pátrio até instalar-se de forma definitiva, enfraquecendo

e descaracterizando a língua. Antigamente, vinha da invasão dos povos

bárbaros que, vencendo batalhas dominavam seus inimigos e lhes impunha

seus idiomas, suas religiões, suas moedas e seus costumes. Atualmente, esse neologismo  vem nas asas do capitalismo e da tecnologia. Assim é que vemos hoje uma invasão epidêmica e sistêmica de vocábulos, principalmente copiados do inglês.


             Desde nomes próprios, passando por comidas, roupas, perfumes, nomes de

estabelecimentos comerciais, de  boutiques, sem contar o maior destaque

nas maquinas eletrônicas, computadores e insumos de tecnologias da

informática e da robótica, bem como em todas as áreas profissionais, sejam

elas liberais ou não. Assim é que temos os nomes próprios desde Jhon Lenon

da Silva, Elton Jhon Pereira, etc. Nas comidas temos os “fast foods” vendidos

nos Mc Donalds  repletos de “Burgers e Chesses”. Nas roupas temos os

“Shorts” suéter tommy, os “bores”, as “Fashions”etc. Nos perfumes, os

nomes mais extravagantes, como “Exuberrant Paris” “Cacto Green”.

“Animale” etc. As máquinas eletrônicas contribuem com os “ Computer “

Toner”  “Back Up”,”” disc “, “pen-drives””Tean Viewer’ etc.

            

            O que está acontecendo então? Não fomos a nenhuma guerra, não

fomos dominados por nenhum  outro povo. Será? Porque então esse “macaquismo”sem precedentes?  As pessoas deliberadamente ou levadas pelo modismo vazio e fútil,

de uma hora pra outra começaram achar que “macaquear” vocábulos do

inglês ou de outro idioma está na moda, dá um charme especial. Até no “Facebook” tem gente que só se comunica em inglês, francês ou italiano, mesmo que seja  com seus amiguinhos do interior do sertão!...Pura ignorância, deslavada idiotice!


           Não sei, mas a verdade é que a última flor do Lácio sente-se estrangulada e sufocada  dentro de sua própria casa, dentro de sua própria  pátria-mãe. Invadida e enfraquecida. Impotente.


           Que soneto o poeta Bilac escreveria hoje?

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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