Samuel Castiel
Maike era o nome dele. Assaltante de Banco, perigoso é procurado em todo país, inclusive no seu próprio país, a Argentina. Branco, alto e louro, tinha olhos azuis e tatuado com sÍmbolos diabólicos e caveiras em quase todo o corpo. Maike foi procurado pelo Escrita Fina para pagar a taxa mensal cobrada por Tião Medonho, um negro brutamonte, que comandava os detentos a ferro e fogo! Era pra pagar as despesas do túnel. Porém Maike se negou a pagar e ainda ameaçou entregar tudo.
- Não vou contribuir com porra nenhuma! -- disse o Maike. Diga pro Tião Medonho pra parar de mandar me cobrar, pois considero isso um insulto -- e cuspiu nos pés do Escrita Fina. Não acredito nesse plano que vai acabar ferrando todo mundo. E se ele continuar me enchendo o saco entrego tudo de bandeja. Não tenho medo dele!
- Mas Seu Mike...
-Não tem mais nem menos. Vaza daqui seu veado senão te quebro no meio!...
Escrita Fina voltou cabisbaixo até chegar ao Tião Medonho.
- Filha da Puta esse gringo! Pois ele vai ver uma coisa. Quem ele tá pensado que é?
- Sei não Tião. Esse cara além de não contribuir com nada pode estragar tudo, ferrar todo mundo. Temos que ter calma.
- Fica frio Escrita. Vou mostrar pra ele quem manda aqui!
O Maike já tinha conquistado a liderança de um grupo dissidente que fora humilhado pelo Tião Medonho. Durante o banho de sol diário eles não se misturavam e ficavam se encarando e produzindo provocações. Muitas vezes iam as vias-de-fato e precisavam ser separados pelos agentes penitenciários. Os brigões então eram levados para o calabouço, chamado de "solitária" onde ficavam dias sem ver a luz do sol, a pão e água.
Os dias iam se passando e com eles a tensão tomava proporções crescentes. O dia da fuga pelo túnel se aproximava. O túnel com mais de 100 metros ficara pronto. O dia marcado para a fuga seria num sábado, quando a segurança ficava menos ativa. Seria no horário da meia noite. Após saírem do túnel, já fora do presídio, todos fugiram tomando rumos diferentes, para dificultar suas recapturas. Tião Medonho estava nervoso e irrequieto. Chamou o Escrita Fina e disse-lhe:
- Escrita, alguma coisa tá me incomodando. Nunca tive tão nervoso assim. Tô sentido algo estranho. Preciso me acalmar.
- Calma meu querido chefe. O Escritinha aqui sabe como fazer você relaxar.
Aproximou-se do Tião Medonho e, segurando seu queixo, com a outra mão tocou com leveza o seu sexo. Aos poucos foi sentindo aquele volume crescer até ficar rijo na sua mão. Tião Medonho então jogou o Escrita Fina na sua cama virando-lhe de bruço.
Em alguns poucos segundos, na escuridão da cela, seus gemidos foram ouvidos pelos demais detentos. O que se seguiu foi uma explosão e gritos de pavor, impropérios e pedidos de socorro. Vários disparos de arma de fogo. Tião Medonho de um salto pegou uma pistola que mantinha sob seu colchão.
- Vamos embora Escrita. Chegou nossa hora. A liberdade nos espera. Tirou de sua cintura as chaves das celas deixada na véspera pelo agente penitenciário que era seu cúmplice e fazia parte do plano. Os detentos começaram a tocar fogo nos colchões e a fumaça se espalhou rapidamente. Tião Medonho gritou para o Escrita Fina:
- Comece a abrir as celas Escrita, mas só abra daqueles que estão com a gente. Aquele bando de frouxos que não quiseram se juntar a nós vão pegar fogo junto com os colchões.
-E o Maike, o que fazemos com ele?
-Esse é por minha conta!
Correndo abriram as celas dos seus comparsas, com o Tião Medonho dando as instruções:
- Corram todos para a cela 29 e entrem no túnel. Lá fora espalhem-se pra nunca mais os malditos policiais nos encontrarem...
O negão Tião Medonho chegou na cela de Maike com a pistola em uma das mãos e um ferro pontiagudo retorcido na outra. Era um chucro feito especialmente para acabar com a vida de Maike. Aquele gringo filho da puta que o desafiara por muito tempo. Agora chegara a hora da vingança – Pensava Tião. A fumaça era densa, gritos eram ouvidos em todas as direções. Abriu a cela de Maike e começou a gritar.
- Agora sai pra morrer seu gringo filho da Puta e covarde. Vou te soltar pra te matar!
Mas ninguém saía da cela, ninguém respondia, Não havia ninguém na cela. E quando Tião tentou abrir a porta da cela, ela estava aberta. Na sequência `tudo aconteceu muito rápido. O cano frio do revolver de Maike encostou na cabeça de Tião Medonho.
- Não se mexa nêgo safado! Agora você vai morrer! Quando ia apertar o gatilho, uma explosão no seu ouvido o atirou ao solo. Era o Escrita Fina que, vendo seu ídolo Tião prestes a morrer, veio por trás e, a queima-roupa, disparou na cabeça de Maike. Já moribundo, no chão, Maike debochou de Tião:
- Você tem inveja de mim! Você é negro, eu sou branco e louroi, tenho os olhos azuis...
- De que vão te servir esses olhos azuis, gringo maldito? Para os vermes comer ?...
Uma golfada de sangue saiu pela boca e pelo seu nariz. Maike estava morto.
- Vamos embora Escrita! Precisamos alcançar o túnel na cela 29. Corra com todas as suas forças! Estamos próximos da liberdade!.
E saíram em desabalada carreira, envolvidos pelo fogo e uma camada densa de fumaça que os sufocava e os fazia tossir continuamente. Passaram e pisaram em cadáveres e cabeças decepadas e espalhadas pelo chão.
Quando penetraram no túnel, a fumaça não dava quase nenhuma visibilidade.
As lâmpadas estavam ligadas mas não dava pra ver quase nada no interior do túnel. Mesmo assim Tião Medonho e Escrita Fina corriam em desabalada carreira.
Tião começou a estranhar as vozes e gritos que vinham lá de fora do túnel. Será que aqueles malditos comparsas estavam discutindo entre si? Estava chegando ao final. Com a respiração ofegante, olhou pra trás e viu o Escrita Fina que parecia ser a sua sombra.
- Corre home!
Quando o Tião Medonho botou a cabeça pra fora do túnel, quis morrer: um pelotão inteiro de agentes policiais os esperava, com cães adestrados mostrando-lhes os dentes afiados. Várias viaturas policiais piscavam intermitentemente suas luzes vermelhas.
- Não deu certo desta vez Escrita. O maldito gringo nos entregou!...
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)