A Arma preferida do Bolsonaro presidente não tem bala como a preferida do Bolsonaro Capitão. É a arma da dubiedade política como método, aprendizado adquirido na Câmara dos Deputados ao longo de mandatos seguidos marcados pela medíocre produtividade legislativa que nem de longe justificou seu elevado custo para os cofres públicos. Atua com duas faces como se fosse Janus (da mitologia grega). Com uma delas faz de conta que combate o toma lá dá cá para ficar bem com a sociedade e com a outra estende seus tentáculos, para cooptar o lado podre majoritário do corporativismo político brasileiro. Propala bater na corrupção mas afaga a cabeça de corruptos contumazes a exemplo do pernambucano Fernando Bezerra (MDB-PE), investigado pela operação policial lava-jato e ‘ex-apoiador de Lula, ex-ministro de Dilma Rousseff e avalista da nomeação do primogênito Fernando Bezerra Filho para o posto de ministro de Minas e Energia da gestão de Michel Temer’, bem lembrado pelo jornalista Josias de Souza em matéria imparcial abaixo transcrita para reflexão dos que demonstram não haver abdicado a capacidade de discernir.
Esse é o líder que Bolsonaro escolheu, a sua semelhança moral e ética no melhor estilo do oportunismo malandro, causador de constrangimentos absurdos às figuras de bem que lhe emprestam o conhecimento e a credibilidade.
Eis o teor:
Bolsonaro viajou acompanhado da ‘improbidade’… (UOL - 05/05/2019)
O "diz-me com quem andas que eu te direi quem és" não quer dizer muita coisa para Jair Bolsonaro. Em sua primeira visita ao Nordeste depois de eleito, o capitão levou a tiracolo seu líder no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE). Por uma trapaça da sorte, a viagem ocorreu no mesmo dia em que o TRF-4, tribunal que julga as causas da Lava Jato, determinou o bloqueio de R$ 258 milhões em dinheiro ou bens de Bezerra. Deve-se a decisão a uma ação de improbidade administrativa movida pela força-tarefa de Curitiba. Ou seja: o presidente da República voou na companhia da suspeita de improbidade. Antes de virar líder de Bolsonaro, Bezerra foi apoiador de Lula, ministro de Dilma Rousseff e aval...
Antes de virar líder de Bolsonaro, Bezerra foi apoiador de Lula, ministro de Dilma Rousseff e avalista da nomeação do primogênito Fernando Bezerra Filho para o posto de ministro de Minas e Energia da gestão de Michel Temer. O senador frequenta a ação movida pela Lava Jato ao lado de outros políticos do MDB e do seu antigo partido, o PSB. O processo envolve também as legendas e empresários. No total, foram bloqueados cerca de R$ 3,6 bilhões. O dinheiro será usado para ressarcir os cofres públicos em caso de condenação. Fernando Bezerra acaba de exercer no Congresso a estratégica função de relator da medida provisória editada por Bolsonaro para remodelar a Esplanada dos Ministérios. Incluiu no seu relatório final o artigo que retirou o Coaf das mãos de Sergio Moro, devolvendo o órgão do Ministério da Justiça para a pasta da Economia. Coisa já aprovada na Câmara.
Bezerra pendurou também no seu relatório a emenda-jabuti que impunha uma mordaça aos auditores da Receita Federal, proibindo-os de comunicar ao Ministério Público sem ordem judicial a descoberta de crimes não-tributários —corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade, por exemplo.
Esse jabuti, por indigesto, foi retirado do texto de Bezerra graças a um acordo dos líderes partidários na Câmara. Líder do DEM, o deputado Elmar Nascimento (BA) disse, com uma ponta de ironia, ter enxergado por trás da movimentação de Bezerra a anuência do Planalto. Se não concordasse com as providências sugeridas por Bezerra, Bolsonaro teria afastado o senador da função de líder do governo, disse Elmar. Além de não asfastar, confraterniza com ele, viaja com ele, grava vídeo ao seu lado.
A semana foi marcada por declarações esquisitas de Bolsonaro. Em discurso na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, o capitão disse que o Brasil "é um país maravilhoso que tem tudo para dar certo, mas o grande problema é a nossa classe política." Ouviram-se reclamações suprapartidárias no Congresso.
Depois, em café da manhã com jornalistas, Bolsonaro, dono de uma biografia que inclui 28 anos de exercício de mandato parlamentar, tentou esclarecer que não se exclui do "bolo". Ao contrário: "A classe política somos todos nós, estamos no poder desde depois de [João Baptista] Figueiredo", o último general-presidente da ditadura. "Estou no bolo, estou me incluindo no bolo", declarou o capitão.
Nesta sexta, na cidade pernambucana de Petrolina, berço político de Fernando Bezerra, Bolsonaro afirmou: "Nós chegamos para mudar o destino do nosso Brasil, deixando de lado o populismo, deixando de lado as promessas vazias, sempre ao lado da verdade e de Deus, [para] buscar esse objetivo. Não é fácil. Fazer a coisa certa na política não é fácil, mas nós seguiremos esse nosso objetivo."
Como se sabe, Bolsonaro carrega "Messias" no sobrenome. Ao invocar o sacrossanto nome de Deus num contexto tão, digamos, conturbado, o capitão decerto levou em conta que o "diz-me com quem andas que eu te direi quem és" também não é levado ao pé da letra pelo Todo-Poderoso. Do contrário, Ele não teria permitido que Cristo andasse com Judas.
O diabo é que Bolsonaro exagera. Já convive com um filho sob investigação (Flávio Bolsonaro) e uma penca de ministros enrolados: um suspeito de cultivar um laranjal de candidaturas fraudulentas (Marcelo Alvaro Antonio, do Turismo), um denunciado por fraude em licitação e tráfico de inflência (Luiz Henrique Mandetta, da Saúde), um condenado por improbidade (Ricardo Salles, do Meio Ambiente), um investigado por caixa Dois (Onyx Lorenzoni, da Casa Civil).
É contra esse pano de fundo que Bolsonaro constata que "a classe política é o grande problema do Brasil", incluindo-se no "bolo". É nesse contexto também que o presidente se queixa dos maus modos dos partidos do centrão. Difícil questionar o inquilino do Planlato. Afinal, não se deve discutir com especialistas.