Sábado, 29 de maio de 2010 - 09h43
Jairo de Freitas Saraiva (24/02/1923 – 17/01/2004). Militar, poeta, líder comunitário e cristão, nascido na cidade de Manaus, criou-se no bairro do Educandos, onde passou sua infância e juventude.
Jairo Saraiva na Itália, em 1945, na II Guerra Mundial |
Em 1945, o jovem amazonense Jairo Saraiva, então com 22 anos, filho do casal cearense Luiz Rufino e Maria, embarcava no Rio de Janeiro no transportador de Tropas Americano USS Harry S. TRUMAN com destino ao teatro de Operações de Guerra na Itália, como membro das Forças Expedicionárias do Brasil. Naquele navio, milhares de brasileiros cruzaram o Atlântico para lutar pelo ideário democrático de liberdade contra o nazi-fascismo.
O desejo de vitória e a tradição de coragem indômita de que os brasileiros de norte a sul eram e são herdeiros, motivavam sobremaneira aqueles jovens que deixavam atrás de si a angústia das mães e o orgulho dos pais, sob o pálio da oração e a torcida de toda a Pátria amada, sob cuja bandeira iriam combater as incertezas de um mundo ameaçado e conturbado, arrostando a morte para que a Humanidade ficasse livre de ideologias de supremacia racial que não respeitavam os diferentes.
As condições eram difíceis, e as decisões políticas tomadas nos bastidores, açodadamente, não permitiram sequer que nossos pracinhas alcançassem à linha de frente devidamente equipados e treinados. Ignoravam que chegariam à Europa durante um dos mais frios invernos da história daquele velho Continente, trajando apenas seus uniformes leves, usados no verão tropical brasileiro.
Em pé, da direita para esquerda, Jairo e outros colegas na Itália |
O jovem expedicionário envelheceu e passou a entregar-se a reminiscências (até porque “recordar é viver”, segundo adágio popular). Contava que, ao chegarem à Itália, a soldesca dos países de primeiro mundo — o Brasil foi o único na América do Sul a participar do conflito, enviando tropas — lhes perguntava se os brasileiros eram loucos para usar roupa de clima quente sob tão severas condições climáticas, um inimigo a mais, por sinal terrível, especialmente para os oriundos da Amazônia.
No entanto, depois da brincadeira, a fraternal solidariedade das tropas americanas permitiu que nossos valentes pracinhas recebessem de presente os agasalhos apropriados para enfrentar o frio europeu.
Também contava, envaidecido, como conseguiu carregar um companheiro machucado, mesmo ferido na cabeça depois que estilhaços de uma granada o atingiram... Dizia que o analgésico foi a placa de identificação que mordeu forte como forma de superar a dor, enquanto voltava à sua base.
Com a vitória em Monte Castelo, no Sul da Itália, deu-se início ao esperado regresso… Contudo, muitos daqueles jovens ficaram no cemitério de Pistóia e em outros palcos da Guerra. Jairo Saraiva, no entanto, saiu vivo do conflito e retornou ao Brasil.
A família
Em pé, da esquerda para a direita: Samuel, Jairinho e Meire; Abaixo, da esquerda para a direita, sentadas, Feb e Dinha Maria |
De volta à Pátria, algum tempo depois casou-se com Maria Freitas. Desse matrimônio nasceram Jáder, Paulo, Jairo Filho, Sansão, Moisés, Marta, Meire e Miriam.
Irrequieto, com gosto pela aventura e a novidade, acabaria por tomar outro caminho na sua jornada pela terra.
Seria possível falar em destino, mas é preferível falar em escolha, pois esse é um conceito de livre arbítrio e responsabilidade individual.
O fato é que o expedicionário da FEB conheceu a jovem paraense Adamar Sales, estudante de Odontologia em Belém. Entre ambos, a identificação foi irresistível e capaz de superar todas as barreiras. Uniram-se e foram fixar residência em Porto Velho, então Capital do Território do Guaporé, no governo de Jesus Bulamarque Hosanna (1952), face ao incentivo a Jairo de lei que permitia aos ex-combatentes da FEB (Força Expedicionária Brasileira) o ingresso na então Guarda Territorial, no posto de suboficial, como início de carreira.
Dessa nova união nasceram seis filhos: Samuel, Jair, Saray, Davi, FEB e Jaimar.
Mas o audacioso guerreiro não era dado a acomodações nem no casamento, haja vista as duas parcerias amorosas subsequentes que lhe marcaram a vida e trouxeram ao mundo outros descendentes seus que, de outro modo, nem existiriam.
Jairo e Adamar |
Em 1978, com o rompimento do matrimônio, melancólico, foi viver com alguns colegas que se alojavam na sede dos ex-combatentes, até que, em 1980, ligou-se à Glacy, com quem teve mais um filho, Daniel. Anos depois, já divorciado, relacionou-se com Socorro, que o acompanhou até o final de seus dias. Com ela, teve um casal de filhos: Israel e Débora.
Seguindo o exemplo
Duas netas, nascidas em Brasília, herdaram o pendor guerreiro do avô Jairo e ingressaram nas FF.AA. americanas, vez que se formaram nos EUA, cuja cidadania possuem, de par com a brasileira. Priscila que serve como Fuzileiro Naval (US Marines) partirá em breve para combater o terrorismo no Afeganistão; Graciela, na Marinha de Guerra (US NAVY), cumpriu com honras militares a missão nos Golfos do Éden e Pérsico, em 2009/10, a bordo do USS Destroyer Donald Cook (DDG 75), mantendo viva a lembrança e a tradição militar do saudoso avô brasileiro.
As netas Priscila Saraiva | (US Marines) e Graciela (US NAVY) |
Pioneiro em Rondônia
Pioneiro no Território de Rondônia, Jairo Saraiva, considerado policial de grande perspicácia na detecção de crimes, comandou, ainda que interinamente, a Guarda Territorial que, sob sua administração, recepcionou e hospedou, na sua chegada a Porto Velho, em 1965, o 5º BEC, comandado pelo Ten Cel Carlos Aloysio Weber.
O febiano também comandou a operação de combate ao incêndio no histórico Mercado Central, quando não existia em Porto velho o batalhão do Corpo de Bombeiros, liderando seus comandados da Guarda Territorial e um grupo de bravos voluntários que conseguiram salvar das chamas metade da estrutura do prédio sinistrado, nada obstante a precariedade dos recursos.
Da esquerda para direita: 1º - André Romano; 3º - Índio; 5º - Mendonça; 6º - Laudelino; 8º - Jairo |
Ao Centro, Ten. Jairo portando a bandeira brasileira no desfile de 7 de Setembro na ladeira do Palácio Presidente Vargas |
Em 1966, na presença do Governador Cel. João Carlos dos Santos Máder, recepciona o saudoso Gen. Humberto de Alencar Castelo Branco – Presidente do (moralizador) regime político-militar |
Entre as várias funções que exerceu, inclui-se também a de Ajudante de Ordem dos governadores militares Paulo Nunes Leal e Theodorico Gahyva, além de administrador da Colônia Penal Enio Pinheiro.
Aposentou-se em 1978 com a patente de Capitão, e, a partir daí, dedicou-se a executar projetos pessoais voltados para o social, praticando com o entusiasmo de um espírito jovem o voluntariado comunitário como cidadão pleno a serviço do bem comum.
Juntamente com Flodoaldo Pontes Pinto, Mendonça Neto, André Romano e outros nomes ilustres, fundou a Associação dos Ex- Combatentes, Seção de Rondônia.
Condecorações
Jairo Saraiva foi condecorado em 1951 com o Diploma da Medalha de Campanha pelo General Newton Estilac Leal, Ministro da Guerra. Foi Delegado, representando a Seção de Rondônia, à XIV Convenção Nacional dos Ex-combatentes do Brasil, realizada em Caxias do Sul – RS, em 1972.
Entre as condecorações que recebeu, encontra-se o curioso “Diploma de Honra”, concedido pela “Associação dos Veteranos da Campanha do Cangaço na Raza da Catarina” – Bahia, pelo feitos heróicos na campanha brasileira na Itália, outorgado pelo “Capitão Virgulino”.
O febiano Jairo Saraiva espalhou seus genes, que, bem representados, continuarão séculos afora na prole fantástica que deixou, e que já se encontra também além fronteiras, no Norte do Continente Americano.
O legado
Samuel no Jazigo do pai, Jairo Saraiva, em 2004 |
Tendo vivido uma vida incomum, cheia de aventuras, e participado da guerra mais feroz do Século XX, o velho combatente, pioneiro do Território de Rondônia, hoje pujante Estado, faleceu aos 81 anos de idade, no dia 17 de janeiro de 2004, em Fortaleza (CE), terra de seus antepassados.
Seus restos mortais repousam em Serra d’Água, no Município de Quixeramobim, sob frondoso juazeiro, cujas folhas, sempre verdes, como a esperança que lhe guiou os passos na vida, não caem nunca, resistindo à seca e às intempéries.
A tumba inusitada foi pedido seu, ainda em vida, que a Justiça cearense
deferiu em homenagem a sua história de combatente pelas liberdades que são o ideal dos homens livres. Deixou como legado um valioso retrato de disciplina e honradez, testemunhados pelos pioneiros com os quais conviveu.
Descanse em paz, saudoso Tenente Jairo Saraiva, com a missão terrestre bem cumprida. Seu exemplo irrefutável de coragem diante da vida é luz para os que ficaram.
M A N I F E S T A Ç Õ E S
Paulo Cordeiro Saldanha – Empresário
(Guajara Mirim – RO)
Sam, a trajetória do "Velho Capitão" poderia virar um romance, haja vista a fecunda história que lhe marcou a existência.
Sua vida exemplar, os amores que enriqueceram suas lembranças, as missões recolhidas, a paixão pelo Brasil, orgulho de
ter nascido amazônida, sem perder a alma nordestina, enfim, as experiências vividas se multiplicariam no desenvolvimento
de um livro. Parabéns pela irretocável escrita!
Meu abraço!
Saray Saraiva - Advogada
(São Paulo)
Sam, esse trabalho biográfico ficou maravilhoso até porque você o fez com muito esmero. Papai ficaria muito orgulhoso de você se lesse.
Helena Silva – Ativista Comunitária
(Tokio- Japão)
Uma história bravia, máscula, de muita coragem!!! Esse resgate de memoria do filho pro pai é louvável. Seus feitos o fizerem merecedor de uma biografia. Fica evidenciado o bom relacionamento do jornalista com as ex-mulheres de seu pai e irmãos. Muito bacana. Isso não é pra qualquer um. Seu relato impele a fraternidade.
Maurício Gomes - Advogado
(São Paulo)
O texto ficou muito bem redigido. É um misto de poema com história, ficou otimo. Naquela época, ao contrário de hoje, a diplomacia brasileira se afinava com a proteção dos direitos humanos e da democracia.
Ainda bem que o velho tenente Jairo não viveu para ver o Brasil de relacionamento estreito com o Irã, um estado onde pessoas são presas e mortas por ousarem criticar o governo, uma nação sem liberdade de imprensa que vive de uma religiosidade fanática. Pode até parecer um exagero, mas chega ser uma ofensa aos pracinhas brasileiros que tombaram na Europa a aproximação ingênua e irresponsável do Brasil com o Irã.
Ana de Leon - Empresária
(Punta del Este – Uruguay)
Leí la saga del teniente Jairo, realmente una vida increíble!!! Me imagino que habrá marcado a cada uno de sus hijos, familiares y amigos. El orgullo y sentimiento de adoración que transmite la biografía, emociona.
Yvone Oliveira – Funcionária Federal
(Brasília – DF)
Gostei do que li. Que pena ele não estar vivo para ler esta bela homenagem. A vida dele foi sem dúvida, heróica. Parabéns pelo lindo relato biográfico que fez em memória de seu pai.
Fernando Lapagesse - Advogado
(Rio de Janeiro)
Está magnífico, e tão magnífico que sinto "inveja" por não ter meu nome como autor. Mariluza minha esposa ficou babando com as duas netas brasileirinhas; ("Isso que eu queria para mim: uma farda "- também é filha de febiano da Aeronáutica - Grupo Senta a Pua). Parabéns!!!
Fonte: Samuel Saraiva
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