Segunda-feira, 28 de janeiro de 2013 - 12h12
A política do Pão e circo (panem et circenses, no original em Latim) como ficou conhecida, era o modo com o qual os líderes romanos lidavam com a população em geral, para mantê-la fiel à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio.
Sátira X do humorista e poeta romano Juvenal (vivo por volta do ano 100 d.C.) e no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse em assuntos políticos, e só se preocupava com o alimento e o divertimento.
É incrível como a história se repete. Aliás, o mundo não tão complexo assim. Essa complexidade se caracteriza mais pelo esforço de assimilar um velho pensamento – como a política do pão e circo, geralmente implantada por governos totalitários – como se fosse algo novo, do que pelo surgimento de algo verdadeiramente inovador. A Revolução dos Bichos é um ótimo exemplo disso; parecia algo novo. Mas no fim, era a mesma coisa, ou seja, sai o comando dos homens para entrar o comando dos porcos.
O Brasil, como sempre – como política do que é bom se copia; isso até protagonizou quebras de patentes – se apropria de velhas novidades, geralmente ruins, para transformá-la em políticas de governo. É o caso do pão e circo romano, copiado com louvor.
Somos o país do carnaval e do futebol. E nos orgulhamos disso. Por isso somos um país do terceiro mundo, pelo subdesenvolvimento humano, anestesiado pelo futebol e o carnaval, e não nos orgulhamos disso. É um paradoxo. Queremos ser um país de primeiro mundo, mas sem abrir mão do futebol e do carnaval como base cultural. Continuamos na contramão do desenvolvimento.
Veja como o futebol é realmente algo fundamental para o Brasil: “Em breve, o Brasil terá uma nova Constituição. Trata-se da Lei Geral da Copa, que revoga todas as disposições em contrário, começando pela soberania da nação e a cidadania dos indivíduos. Em seu período de vigência, durante a Copa do Mundo de 2014, a Lei Geral da Copa irá revogar garantias constitucionais e tornará nulas várias leis federais, estaduais e municipais. Executivo, Legislativo e Judiciário terão seus poderes suspensos e o Estado brasileiro ficará entregue ao governo da Fifa (Federação Inter¬na¬cional de Futebol). O povo brasileiro, que sempre viveu de pão e circo, vai consolidar sua imagem no mundo: a de País do futebol e do carnaval, em que as pessoas são destituídas de cérebro, pois só funcionam da cintura para baixo — as mulheres rebolando e os homens jogando bola”, do artigo Sem rei nem lei: a república do pão e circo, do sociólogo José Maria e Silva.
Duríssima realidade.
O futebol está bem encaminhado como antídoto à rebeldia social. Entretanto o carnaval só funciona muito bem nos Estados brasileiros em que a política do pão e circo está relacionada ao turismo, logo, à economia.
Nos Estados, como Rondônia, a política de pão e circo, gradativamente, está ficando capenga. O pão continua em alta e em expansão, já o circo tem sofrido graves abalos. Isso me sugeriu um questionamento: será que o povo está tão ‘sob controle’ que agora os governos podem tirar o tão necessário circo, e ainda assim o povo continuará inerte, obediente? Sim, meus caros leitores, pois uma vez que a saúde está no chão, literalmente; a educação não prepara ninguém para nada; a infraestrutura contribui para o subdesenvolvimento econômico – vale ressaltar que há circo também na economia -; a corrupção como tema transversal, pois permeia no público e no privado, e o povo ali, firme, esperando criar raiz. Quer dizer, nós nos acostumamos viver numa miséria, não de dinheiro – segundo o governo crise é para os fraco; somos o melhor país do mundo, mas de serviços, tanto público quanto privado – basta visitar qualquer estabelecimento público ou comercial e sentir o atendimento.
Há algum tempo, o futebol de Rondônia – uma das vedetes do ‘circo’, está moribundo – vale ressaltar que dentro do futebol e assim como da cultura, há uma variação de circo -. Antes, pelo menos vinham alguns clubes de fora, com seus reservas, enganar o nosso inerte povo, que se sentia motivado a assistir uma partida de futebol, que somente cartolas e o clube visitante saíam lucrando. Isso acabou. Até o estádio está desmoronando. Só haverá uma movimentação para uma reforma quando o muro do lado da Presidente Dutra cair sobre alguém. Mas não se preocupem, os transeuntes estão protegidos por sólidos tapumes de alumínio.
Os campeonatos amadores e profissionais dispensam comentários, pois simplesmente não existem. Isso quer dizer que uma parte importante do circo já era.
Vamos a outra parte: o carnaval.
Não conheço bem como funciona o movimento cultural em outros Estados, mas aqui em Rondônia existe um verdadeiro garimpo em busca de uma identidade cultural, como se cultura tivesse identidade. Sugiro um garimpo para encontrar o título de eleitor da cultura; talvez seja encontrado. E o melhor, está na superfície, não precisa de esforços extraordinários, como os necessários para encontrar a identidade cultural. Bom, enquanto essa identidade não aparece, vamos participando do circo com a identidade cultural de outros Estados, como o boi-bumbá ou bumba meu boi e o carnaval. Mas isso não importa; o povo precisa de circo e o carnaval e o folclore está – ou estava? – na política pública como tal, uma vez que o pão está garantido.
Vale ressaltar, para não haver mal entendido, que circo neste texto, quando relacionado ao futebol, carnaval e o folclore, se referem ao caráter efêmero, de pouca duração, passageiro, que não deixa nada além de lembranças boas ou ruins.
Em Rondônia, a cultura é colocada nos comícios e planos de governo como fundamental para o desenvolvimento do povo. Algo diferente do circo, a cultura deveria desenvolver o povo local. Enquanto que o que desenvolve mesmo seria a educação. Como essa não funciona direito, inventa-se algo novo – mas muito velho – para substituí-la, como o futebol, o carnaval e o folclore.
Isso nos comícios, pois logo que se elegem, como as demais promessas, não as implementam, porque, pasmem, descobrem que não tem recursos. Mas mesmo assim, asseguram que teremos campeonatos de futebol, desfiles de carnaval e mostra do folclore, da melhor qualidade.
Ao contrário de uma música do Chico da Silva, nada mudou. Aliás, mudou sim, só que para pior.
Encerro com uma frase de um dos discursos do chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels, realizado em Berlim, no dia 19 de Abril de 1945: “Os homens se matarão por possuir as coisas mais supérfluas e banais. As plutocracias naufragarão em uma desesperada corrida para dar cada vez mais luxos à humanidade corrompida pela comodidade ou pela política do ´pão-e-circo”.
Em Rondônia, o circo já era. O que nos fará sair da inércia? Não tenho a menor ideia. Tudo já nos foi tirado.
Fonte: Sérgio Ramos
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