Segunda-feira, 10 de dezembro de 2012 - 21h29
Quem não tem nada com o peixe da barganha da educação falida, pare de ler agora mesmo, use seu tempo com uma leitura realmente educativa, juridicamente relevante.
Hoje estou calmo, não vou responder com ironia e muito menos com a bílis. Mas, já adianto que o e-mail será transformado em uma crônica que vou publicar no site gentedeopinião. Aliás, há poucos dias, escrevendo sobre os sentidos e significados deturpados, corrompidos na cultura brasileira, lembrava de alguns casos que se aplicam exatamente à educação. Escrevi sobre a seguinte ideia desviada na casa de cada um de nós:
“Na mesma linha, há professores que se gabam de “ensinar” o que não sabem (como assim? Pois é, desenvolvem técnicas de marketing ou retórica oca para falar do que desconhecem); há juízes que vendem sentenças; empregados domésticos que furtam de garfos a relógios; médicos que abusam de pacientes; advogados que surrupiam verbas de clientes, alunos que cobram para fazer os trabalhos dos colegas (na graduação, meus professores saiam da sala em dia de prova, a agudíssima competição nos impedia de olhar para os lados). Esta lista não tem fim, portanto, penso que a fase em que se corrompia economicamente já é coisa do passado”.
Então, depois da prova que fizemos, das oportunidades que tivemos, das frustrações que guardamos para o próximo ano, eis que recebo esta mensagem, às vésperas da aplicação de um exame:
“Professor Carrilho, sabemos que o resultado da prova não foi o esperado / tanto por nós quanto pelo senhor. É fato que alguns sequer estudaram mas / ressalto aqui também a dificuldade que os que estudaram tiveram para / interpretar os seus textos. Gostaríamos de pedir encarecidamente que o / senhor nos dê um prazo maior para estudo, já que parece que a primeira forma / de estudo não se surtiu eficaz / Gratos pela atenção”.
Minha resposta anterior a esta mensagem de vocês ou do representante dos 13 ainda não-aprovados foi esta:
“Bom dia, espero se bastante claro, para responder à mesma pergunta já respondida:
- a prova de amanhã é destinada a todos os que foram arrolados na lista que enviei - além dos que a perderam;
- quando concluir o processo de avaliação, com todas as notas apuradas
- aí então enviarei por este e-mail;
- há exceções, mas percebo que aqueles que estudam, comparecem às aulas, que sabem que estão matriculados em Universidade Federal e, além disso, os que realmente são bacharéis em direito, todos esses não estão atormentados com suas notas;
- por que, logo no primeiro período, temos figuras que pensam o
direito como um jeito de fazer a coisa torta?
- será que estou errado e os descrentes são donos da verdade?
- será que o direito tem mesmo de ser um curso vago? Para quem pensa assim, sugiro procurar uma das particulares, em que pagou, passou.
- no mais, espero rever os 13 indicados no dia e horário combinados (terça-feira, sete e vinte da noite)”.
Em primeiro lugar, penso que se trata de um tipo de abaixo-assinado, sem assinatura alguma. Um abaixo-assinado em nome dos que deveriam fazer o tal exame amanha à noite. Não tentarei ser pedagógico, nem espero transformar a quem quer que seja. Se em seis meses não aprenderam que deveriam ler, estudar, participar das aulas, não é hoje que vamos debater o óbvio. Espero ser apenas claro e direto, sem nenhuma ironia ou provocação.
Prezados(as), além do constrangimento que já estou sentindo, porque resolvi responder a questões absolutamente inesperadas, extemporâneas, sinto não poder ajudar neste momento, afinal vocês tiveram seis meses para me dizer que não tinham gestado muito bem os textos.
Depois de seis meses, a dificuldade em ler três ou quatro capítulos de manuais de Sociologia do Direito foi descoberta ontem? Vejam bem, são manuais, não trazem nenhuma reflexão que extrapole o texto em si.
Isto se levou a pensar que a dificuldade surgiu porque alguns perceberam que não teriam tempo de ler o material compilado em seis meses, em dois dias. Foi isso?
Em todo caso, sobre essa tal dificuldade, ainda quero dizer que se trata de manual francamente utilizado em faculdades pagou, passou. São os mesmos que utilizava para alunos/estudantes em São Paulo. Lá, meus alunos trabalham durante o dia e estudavam à noite, 90% vinham do ensino médio, alguns praticamente dormiam em sala.
Pois bem, em todo caso, ou a bem da verdade, apenas 13 alunos não entenderam os textos ou tiveram outros problemas - que agora não vem mais ao caso. Lembremo-nos, portanto, que tivemos bastante tempo para estudar, debater, assistir as aulas, tirar dúvidas - podem reparar que nem mesmo há aula no direito, ou seja, viemos ao limite do tempo.
Vamos pensar juntos, será que aqueles que assistiram às aulas, participaram de tudo, leram, também estão de exame? Sei que há uma exceção, mas não me refiro a esta pessoa. Algumas provas receberam nota dez, outras nove, o que quer dizer que muita gente foi muito bem.
Portanto, digam sinceramente, deveria perder mais tempo com os que admitiram não ter lido nada para a prova? Devo perder o tempo da sala toda com quem nem sabe meu nome ou o nome da disciplina? Como disse, há uma exceção e não me dirijo a esta pessoa – aliás, muito assídua e atenta a tudo (gostaria de saber, reservadamente, o que aconteceu com ela).
Fora da exceção, quem chora o direito perdido, porque dormiu quando deveria ter lutado por ele, não tem desconfiômetro?
Confesso que nunca imaginaria ter que responder a esse tipo de argumento, nem mesmo quando ensinava em faculdade pagou, passou tive que responder aos pedidos de alunos que não estudam nada.
Sinceramente, para as próximas conversas, sejam comigo, com outro professor (ou com pais, amigos), procurem argumentos mais qualificados, sejam francos consigo mesmos.
Neste caso, esta é a minha última resposta.
E, por favor, vamos manter um pouco do respeito que nos resta, mesmo sabendo que o professor é esculhambado no Brasil.
Como disse, não pretendia ser pedagógico com vocês, porque seria inútil neste momento. Mas, como crônica, a lição pode servir a alguém, especialmente para saber como não se portar em uma Universidade Federal e muito menos na condição de bacharel de direito. Para peticionar, além da suposta lide, é preciso ter argumentos, lógica, meios de comprovação. Mas, acima de tudo, é preciso não incorrer no erro da questão infundada.
Muito mais do que decepção, agora sinto um estranhamento muito forte, significa dizer que acho isso tudo muito estranho. Acho estranhíssimo que possamos requerer direitos que nunca passaram perto de nós – mas, mais estranho ainda, é achar, convenientemente, à beira dos resultados que não queríamos, que esta é uma prática legal, moralmente aceitável. Isso me deixa bastante assustado.
Em face de tudo o que apresentei, espero vocês amanhã para a prova final.
(ps: é a última vez que respondo e-mail apócrifo)
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
O que o terrorista faz, primordialmente?Provoca terror - que se manifesta nos sentimentos primordiais, os mais antigos e soterrados da humanidade q
Os direitos fundamentais têm esse título porque são a base de outros direitos e das garantias necessárias (também fundamentais) à sua ocorrência, fr
Ensaio ideológico da burocracia
Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de
O Fascismo despolitiza - o Fascismo não politiza as massas
A Política somente se efetiva na “Festa da Democracia”, na Ágora, na Polis, na praça pública ocupada e lotada pelo povo – especialmente o povo pobre