Segunda-feira, 28 de outubro de 2013 - 16h50
Viviane V.A. Paes
Posso dizer que sou uma pessoa completa, no sentido daquela máxima: plantei uma árvore, casei, tive filhos, viajei e escrevi três livros. Eu me sentia bem, literalmente, até o meu filho mais novo me perguntar por que eu não escrevia um livro para crianças, pois para ele sou a pessoa mais divertida do mundo -, ao menos do mundo dele!
Pronto bastou isto para minha certeza virar dúvida e relembrar de fatos que eu jurava ter resolvido em minha mente. Então lá vai. Sabe o título acima tem uma razão bem pessoal. Aos 17 anos participei do Primeiro Concurso de Revelação Literária de Rondônia, promovido pela Funcer – Fundação Cultural de Rondônia em parceria com a Fundação Casa Rui Barbosa, aquela famosa por reunir e preservar a memória da Cultura nacional, adquirida em 1924 com todo o acervo do autor pelo governo brasileiro. Desde 1930, é o Museu Casa de Rui Barbosa que conserva os móveis, objetos da família e a biblioteca. Ou seja, o concurso tinha tudo para ser algo muito sério, mas por incrível que possa ser não foi.
Com o auxílio e incentivo de meu pai fiz a inscrição no concurso e contei com ajuda de amigos para fazer as três cópias xerocadas de 150 páginas de um conto, solicitadas no edital. Isto em 1993. O certame era tão completo em exigências que parecia mesmo ser muito sério, afinal era a Funcer que estava à frente dele e na época seu quadro de servidores e comissionados era formada por historiadores e escritores como Yedda Borzacov e o saudoso Bahia autor de belíssimas crônicas semanais no jornal Alto Madeira. O dito concurso iria selecionar contos inéditos produzidos por autores profissionais e amadores de todo o Estado para escolher três colocados que representariam Rondônia na seleção nacional. Os vencedores desta última etapa teriam seus contos editados e impressos em uma coletânea da Fundação Casa de Rui Barbosa. Uma oportunidade incrível!
Imaginem minha felicidade e a de meus pais, sou filha única, quando fui anunciada como a vencedora do primeiro e segundo lugar. Assim mesmo! Recebi um telegrama solicitando minha presença na sede da Funcer para oficializar o prêmio. Bom, neste ponto a história perde a graça. Não sei se foi por minha idade, minha condição econômica, a falta de sobrenome conhecido, ou mesmo por ser goianiense e não rondoniense fui tratada com muito desrespeito. Cheguei à Fundação e fui recebida pela coordenadora do Concurso que me parabenizou na frente de uns servidores bem desconcertados, apresentada ao escritor Bahia, um dos jurados que escreveu uma matéria sobre minha vitória e nada mais!
No edital não foi citado nenhuma premiação em dinheiro ou algo simbólico como uma máquina de datilografia, fotográfica ou mesmo um caderno de anotação. Mas não recebi nem mesmo um certificado de que havia participado do tal concurso. Alias quando orientada pelo meu pai que de cara viu que tinha algo muito errado, mas não quis e nem podia buscar a veracidade dos fatos, me orientou a pedir um ofício que comprovasse que eu havia ganhado o concurso. De uma hora para outra eu me tornei pessoa “non grata” da panelinha que existe no nicho da cultura rondoniense.
Daí para frente eu nunca mais consegui falar com ninguém. Eu queria apenas um certificado e acompanhar o envio do meu conto: “A Vela” que retratava a história de uma família de migrantes em Rondônia para a Casa de Rui Barbosa. Mas parece que este foi o problema! Fui vencida pelo desdém, pelo mau atendimento, pela ausência de comprometimento da Funcer com o concurso e a parceria com a Fundação carioca centenária, se é que ela realmente existiu um dia! Nunca consegui comprovar esta parceria.
No ano seguinte comecei a escrever artigos para o jornal, O Estadão do Norte, onde tive a oportunidade de atuar como “foca”. Entendi como funcionava a tal cultura da falta de Cultura em Rondônia e resolvei buscar novamente algo que comprovava que eu havia participado do 1º Concurso de Revelação Literária de Rondônia. Consegui em 1996, depois de muita insistência e da boa vontade dos novos coordenadores da Funcer. Não tem como não mostrar este certificado!
Em 1999 contribui com o resgate de uma parte importante da história de Rondônia, juntamente com o jornalista Analton Alves e o então vice-governador, Aparício Carvalho escrevemos o Hospital da Candelária; e em 2006, novamente com ajuda de Analton Alves, Ana Aranda, os fotógrafos José Hilde Tacanã Villaforte, Ademilde Correa e Eliênio Gomes, alguns historiadores do Estado e a contribuição única do autor da Ferrovia do Diabo, Manoel Rodrigues Ferreira escrevemos o Memória da Energia Elétrica de Rondônia, que marcou os 25 anos de atuação da Eletrobrás-Eletronorte na região.
Posso dizer tranquilamente agora que encontrei o tal certificado, e mostrei a meu filho: que tive filhos, que viajei e plantei árvores ao longo do caminho. Como costumam dizer os monges tibetanos uns ao outros: “Memento mori”– expressão do Latim que significa, Lembre-se de que vai morrer! Ela recorda que devemos exercer a humildade diariamente, que ninguém é melhor ou pior que ninguém e no final todos irão morrer. É bom para relembrar naqueles momentos que duvidamos de nós mesmos que tudo tem um fim, apenas as palavras ficam!
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