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Gente de Opinião

Viviane Paes

Bodas de Estanho do Bolsa Família


Nas tradicionais Bodas de Estanho ou Zinco que marcam os 10 de união de um casal, esses dois metais simbolizam o comprometimento de crescer e avançar juntos. O zinco é empregado em ligas de alumínio e cobre. Isto significa que para o alumínio e o cobre permanecerem unidos eles precisão de um terceiro elemento, o zinco! Assim tem sido o Bolsa Família em sua década de existência. Comprometido com os interesses do partido que o criou, evoluiu e se adaptou as circunstâncias, todavia mesmo assim precisará sempre de um terceiro personagem para sobreviver mais uns 10 anos: a miséria alheia em todos os sentidos da palavra!

Por supuesto– com certeza - como bem dizem ironicamente os espanhóis – alguns irão apelar neste momento com velhos-novos argumentos de que a elite não aceita o trabalho do atual governo, que pessoas da classe média alta jamais apoiarão o Programa... E, por aí vai!  Em minha defesa já digo: não sou e nunca serei da elite; e a dita classe médio-alta brasileira (uma definição já bem estranha) está bem longe da minha realidade de filha de pedreiro e costureira. A diferença entre a minha geração e a da atualidade, mesmo vindo de origens marginalizadas como as profissões de meus pais, é que realmente não existia quando eu era criança “muleta” alguma deste gênero! Caso houvesse, certamente, meu pai não o aceitaria, por um motivo bem simples: nunca precisamos deste tipo de mendicância institucionalizada.

Não! Não é orgulho. É uma questão de brio – como diziam antigamente. Sê trabalho, tenho ambições e sonhos como todos, no entanto sei da minha realidade e busco com dignidade “o meu lugar ao Sol”, porque me sujeitarei a aceitar menos do que mereço?! É melhor não gastar cartucho à toa, nada melhor do que as informações divulgadas pelo próprio Governo Federal nas comemorações das Bodas de Estanho do Bolsa Família. Assim, o leitor de Norte a Centro-Oeste que estão lendo este pretensioso artigo, chegarão às próprias conclusões.

Trinta cidades brasileiras estão na listagem com menor número de beneficiários do Bolsa Família, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Westfalia – com nome americanizado no Rio Grande do Sul tem três mil habitantes e cinco (05) famílias beneficiadas com o Bolsa Família. Já a cidade de Sebastião Barros, no Piauí com o mesmo número de habitantes tem 876 famílias recebendo o benefício! Isto quer dizer que um (01) Bolsa-Família é repassado à cidade gaúcha a cada 561 habitantes, já na piauiense, um chefe de família recebe o dinheiro a cada quatro pessoas do município. A média do Brasil é de um (01) benefício a cada 14 habitantes.

Nos seus 10 anos de existência, o Bolsa Família contempla hoje 13,7 milhões de famílias, que somam mais de 50 milhões de pessoas. O dinheiro é pago diretamente a um membro do núcleo familiar, preferencialmente, a mulher. É o próprio MDS que explica: “o número de beneficiários do programa federal funciona hoje quase como um termômetro social de uma localidade, já que são atendidas famílias com renda per capita mensal inferior a 70 reais”. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) das Organizações Unidas reforça o por quê de tanta discrepância.

Claro que seria impossível com um número tão alto de beneficiados pelo programa não existir fraudes, erros grotescos de aprovação ainda mais se tratando do Brasil, mestre neste tipo de artimanhas. A impressão que fica é que quando surge um projeto social no País, ele já nasce com brechas para fazer parte de grandes esquemas. O Bolsa família deveria, mas não conseguiu não ser diferente.

O que acho incrível é que o Ministério de Desenvolvimento Social não mensurou ou se mediu, não divulgou que a quantidade de gestantes na classe média baixa aumentou neste período. E só você ir a uma Casa Lotérica no dia de pagamento do programa para confirmar isto!  A denominação Bolsa Família acabou sendo mesmo perfeita! Geralmente é um no colo, o cartão do benefício na outra mão, mais duas ou até três crianças de cinco a nove anos grudados na roupa! Estou exagerando?!

Problemas a parte, as 30 cidades que menos dependem dos repasses se concentram no Sul (28 delas) e têm em comum uma população pequena (apenas uma ultrapassa 30 mil habitantes).  As exceções são Fernando de Noronha (RJ) com 2º lugar, 2.675 habitantes, 06 chefes de famílias recebendo o Bolsa Família, IDHM 0,788; ou seja, 01 chefe de família recebe o benefício para cada 445 habitantes. E lá quase no final do ranking aparece o município de Auriflama com a 25ª posição, 14.555 mil moradores, 81 chefes de família beneficiados com o Bolsa-Família,  IDHM 0,773, o correspondente a 01 chefe de família para cada 175 famílias.

Realmente não acreditei naquela história que o Sul não faz parte do Brasil, ele faz sim! A diferença é que nas 28 cidades destacadas no ranking da pesquisa, a miséria até pode existir como nas demais cidades, entretanto ela não é a famosa de cabresto. As pessoas tiveram a oportunidade de estudar, de crescer, de sonhar e realizar não se contentaram com o nada que lhes é oferecido. Pois esta é infelizmente, uma das características das mazelas que o atual partido governista jurou colocar em igualdade com a elite.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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