Terça-feira, 22 de outubro de 2013 - 11h04
Até daria um título para um livro destes que inundaram o mercado nas últimas décadas, no entanto apenas quero compartilhar uma trajetória fantástica de um líder que fazia tudo com muita paixão e cultivava um amor incondicional pelo Estado de Rondônia, mesmo sendo paraense. Sua figura era muito conhecida nos veículos de comunicação, Fernando Manoel Fernandes da Fonseca foi gerente regional da Eletronorte durante mais de 20 anos; era casado com Júlia de Fátima Arcanjo Fonseca e genro do empresário Miguel Arcanjo e dona Maria Mendonça – família tradicional na região.
O vi pela primeira vez aos 10 anos de idade, com um macacão bege manchado de óleo. Ele entrou no ateliê de costura de minha mãe na Avenida Calama, em Porto Velho, com Júlia sorrindo discretamente depois de um dia de trabalho na usina Térmica Rio Madeira. O que eu pensei: um tio mecânico! Com o passar dos anos começamos a vê-lo nos noticiários por conta da construção da Hidrelétrica Samuel. Dezesseis anos depois eu comecei um estágio na Eletrobrás-Eletronorte, na área de Comunicação com a missão de trabalhar o marketing externo.
Quando entrei em sua sala decorada com artesanatos regionais de artistas como Pedro Furtado, responsável pela fachada do muro da Eletronorte; e dezenas de premiações de reconhecimento pelo trabalho social da Empresa em Rondônia e também prêmios de Excelência do setor elétrico brasileiro, me senti muito pequena para assumir tanta responsabilidade. O engenheiro Fernando Fonseca, como ele costumava ser chamado nunca fez o papel de gerente inacessível. Ao contrário sua sala era aberta a todos, funcionários, jornalistas, políticos, estagiários, representantes da comunidade e entidades sociais.
Meu receio era baseado na falta de experiência em assessoria de imprensa, até então eu já havia trabalhado em jornais e TV do Estado e de Goiás e nesta época – 1999, a assessoria de imprensa era vista como final da carreira jornalística e não um aprimoramento dela. Neste segmento jornalista consegue trabalhar com todas as ferramentas da comunicação: escrita, televisiva, gráfica e principalmente algo hoje obrigatório em todas as áreas, a gestão.
O engenheiro Fernando tinha um excelente relacionamento e proximidade com a equipe de Comunicação da sede da Eletronorte, em Brasília e aproveitava todo o ensinamento e dicas. Ele não era um assessorado leigo que imaginava demais sem conhecimento prévio até porque tinha em casa uma companheira que transitava pelos veículos de comunicação com muita elegância e com muitos amigos no meio.
Em diversas ocasiões, como representante da maior estatal sediada em Rondônia ele tinha que dar entrevistas que não obedeciam ao horário do expediente. Poucos jornalistas, independente do veículo que pertencia não sabia seu número de celular. Ele fazia questão desta proximidade e também de saber o nome dos jornalistas de todos os jornais, emissoras de TV e rádios. Não era um lobby, era o seu jeito peculiar de trabalhar!
Facilmente podíamos encontra-lo conversando com um funcionário no pátio da empresa, com um terceirizado e depois ele passava a mão na cabeça e dizia: Ele está com um problema complicado na família, não sei como posso ajuda-lo, mas preciso acompanhar esta situação. Por isso também era comum que esposas, filhos, sobrinhos de funcionários o chamassem pelo primeiro nome com muita intimidade. O clima de familiaridade vinha também da estrutura da vila residencial da Empresa, onde todos os funcionários moravam há décadas.
O líder que compartilhava tinha uma necessidade profunda de repassar seus conhecimentos, seus sonhos com todos que estavam próximos e principalmente motivá-los a buscar crescimento constante. É o exemplo era seu maior mérito. Mais de 20 anos depois de formado no curso de Engenharia ele resolveu que precisava saber mais sobre leis por conta do trabalho gerencial. Em seguida, a gestão de negócios precisou ser aprimorada e investiu em um mestrado.
Conclui o curso de Letras-Espanhol na Universidade Federal de Rondônia com seu incentivo e apoio incondicional. Às vezes eu estava no campus da Unir e ele me ligava, em segundos pedia desculpas e falava que conversaríamos depois não era nada urgente. Mentira, na maioria das vezes era sim, mas em primeiro lugar vinha o aprendizado. Foi assim que aprimorei meu currículo com um MBA de Comunicação Corporativa e uma especialização na Espanha também nesta área.
Dos 10 anos que estive na Eletronorte, um dos meus melhores trabalhos sem dúvida, surgiu de uma das muitas conversar que tivemos. Ele me disse um dia: - Precisamos fazer algo que demonstre a importância da energia elétrica para o crescimento econômico e social de Rondônia, doutora Vivi. Vai pensando em algo depois conversamos! O depois ficava a sua escolha, ele não cobrava prazos, dava asas para você voar e quando estivesse pronto ele via os resultados, porque confiava demais em cada membro de sua equipe de mais de 300 trabalhadores.
A missão dada naquela época foi cumprida! Assim nasceu a Memória da Energia Elétrica de Rondônia, lançado em 2006, com a participação de historiadores regionais, jornalistas, fotógrafos e principalmente a população de grande parte dos 52 municípios do Estado. Esta foi sua única interferência: - Eu quero que este livro tenha depoimentos de pessoas que lembram como era viver sem energia e como é agora!
Esse projeto ocorreu no período em que ele enfrentava a luta contra um câncer. No ano seguinte do lançamento do livro ele faleceu em Belém, onde tinha ido um mês antes quando os médicos disseram que não havia mais a ser feito. Lutou até o último instante para sair de Rondônia, vivia dividido entre o amor pela Eletronorte, por Rondônia, pela esposa e familiares e pelo amor que sentia pela filha única, Margareth e a cidade natal.
Mesmo no final desta vida, o líder também compartilhou sua generosidade, sua calma, sua paixão, seus valores e sonhos! Na última sexta-feira, 18 de outubro, completaram sete anos de sua ausência e sabe o que é incrível?! Mesmo não estando por aqui ele continua compartilhando, sua única filha está grávida e muito feliz por trazer ao mundo de novo um pouquinho dele...
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