Sábado, 28 de março de 2015 - 20h26
*Yêdda Pinheiro Borzacov
Nenhuma cidade no território nacional é tão desprovida de memória como Porto Velho. Existe nos órgãos culturais oficiais, detectores do poder de decisão e de recursos financeiros, a ojeriza aos antigos documentos, aos livros de literatura e história regionais, às imagens e às obras arquitetônicas.
O patrimônio histórico e cultural de Rondônia e de Porto Velho está degradado sob todas as formas, pelo abandono e pela ignorância. Nos últimos anos a vida intelectual do estado e da sua capital, atravessa uma revolução silenciosa. Cada vez se torna menos importante aquele historiador ou homem de letras, que protesta, que se manifesta com firmeza, defendendo nosso patrimônio histórico-cultural. Quem assume cada dia mais importância é o tecnocrata, imperando na área governamental, com mentalidade anti-passadista, acreditando, erroneamente, que o passado não tem implicação no presente, nem valor.
Recentemente li no jornal “Alto Madeira”, um manifesto escrito por um grupo destemido, defensor da nossa história, em prol da manutenção das Três Caixas D’Água, símbolo de Porto Velho, ameaçadas pelo desgaste das sapatas, recuperadas há mais de 20 anos pelo então prefeito José Guedes. Uno-me a esse grupo amigo, como sempre o fiz, assumindo posição de defesa e valorização de nossas raízes, como atesta o meu livro PORTO VELHO: 100 ANOS – 1907/2007, edição de três mil livros, esgotada, documentando a herança patrimonial histórica material do município de Porto Velho. Retiro desse livro, o trecho referente às TRÊS CAIXAS D’ÁGUA:
A companhia norte-americana construtora da E.F. Madeira-Mamoré instalou na parte alta da cidade, três reservatórios em chapas de forma cônica e base em concha côncava, com tubos de escoamento central. Os reservatórios são suspensos por quatro pontos equidistantes, em estrutura metálica (treliça) e fundação de concreto armado nas quatro bases. O acesso ao reservatório é feito por um dos pilares onde há uma circulação ao redor com parapeitos metálicos. Acima deste ponto, o acesso ao seu topo é feito por uma escada também metálica. O projeto e execução dessa obra foram da Chicago Bridge & Iron Works, de Chicago-EUA. A obra é do tipo característico das construções metálicas ferroviárias norte-americanas da época.
O médico sanitarista Oswaldo Cruz, atendendo ao convite da companhia construtora da ferrovia, chegou a Porto Velho em 9 de julho de 1910, instalando-se no Hospital da Candelária, em companhia do Dr. Belisário Pena. De tudo que viu e observou registrou em um relatório onde ressalta: “A água fornecida em Porto Velho provém duma fonte captada num tanque de cimento, donde é levada por um depósito metálico levantado sobre colunas, daí se distribui por meio de canos de ferro para domicílios. As casas são todas dotadas de salas de banhos com chuveiros, os W.C. têm anexas caixas de descarga provocada. Além disso, há em vários pontos, torneiras, que servem de pias de lavagens de mãos.
Atualmente procuram aumentar esse abastecimento, adicionando-lhe a água captada nos lençóis profundos por meio dum poço artesiano. Este trabalho tem-se tornado muito difícil, porque chegaram a um granito duríssimo e cuja perfuração tem sido lenta, ignorando-se a espessura da camada granítica a vencer”.
Oswaldo Cruz faz referências apenas a uma caixa d’água porque a May, Jekyll & Randolph, companhia construtora da ferrovia, em 1910, só havia instalado uma. Em 1912 é que foram instaladas as outras duas.
Julio Nogueira esclarece que: “O serviço de distribuição de água é feito de três reservatórios de ferro e três de madeira, cobertos, com a capacidade total de 1.362.731 litros. Esses tanques acham-se colocados sobre altas torres, na parte norte do povoado. As águas são captadas em um poço cavado perto da margem do Madeira e bombeadas para tais reservatórios depois de servidas e filtradas, convenientemente. Fizeram tentativas para restabelecer poços artesianos, mas sem resultados, em vista da dureza do subsolo. As bombas, em número de quatro, são do tipo Worthington, e as cadeiras, do vertical. A instalação completa, inclusive preço e mão-de-obra, custou 63.594.447. As águas filtradas nas habitações tornam-se límpidas e puras ainda que percam, em parte, o sabor natural, em benefício da salubridade. A canalização é de ferro e a distribuição se faz profundamente”.
Essas caixas d’água, pintadas de preto, tinham tampas pintadas de branco e foram responsáveis pelo abastecimento da cidade até suas desativações em 1957. Figuram na bandeira e no brasão do município de Porto Velho, honrando a memória da E.F. Madeira-Mamoré.
Devemos nos unir, instituições culturais, imprensa, comunidade, na luta pela sua restauração. Estamos fazendo o nosso dever e zelando pelo que é nosso. Vamos tirar Porto Velho de sua amnésia histórica.
* Yêdda Pinheiro Borzacov, professora, autora de oito livros e dezesseis coautorias. Membro da Academia de Letras de Rondônia e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia.
Fonte: Portal do Governo do Estado de Rondônia – Departamento de Comunicação Social
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