Sexta-feira, 29 de julho de 2016 - 14h52
* Yêdda Pinheiro Borzacov
A sociedade rondoniense e o poder público precisam conscientizar-se de que o maior evento folclórico de Rondônia – Mostra de Quadrilhas e Bois-Bumbás no Arraial Flor do Maracujá, patrimônio cultural, deve ser transformado em produto turístico. Devem-se encontrar fórmulas capazes de conciliar turismo e desenvolvimento com a preservação dos folguedos do boi-bumbá e quadrilha e do arraial.
A conservação e preservação desse patrimônio cultural folclórico, têm sido uma das constantes preocupações de todos nós que trabalhamos em prol do desenvolvimento cultural de Rondônia, não só pela importância intrínseca desses folguedos e do arraial, mas também porque, do ponto de vista do turismo, um país, uma região ou estado se tornam tão mais atraentes aos olhos do turista internacional quanto mais defende a manutenção de sua identidade própria, que os tornam diferentes de outros destinos oferecidos e, portanto, mais apetecível e mais competitivo. E a identidade de qualquer país ou estado se traduz, precisamente, por seu patrimônio histórico, cultural e natural.
No Brasil, em face das diversidades e contrastes regionais que se encontram em seu vasto território, cresce a importância da base regional, que não se restringe ao fato folclórico, mas a todos os fatos sociais e culturais. Igualmente regionais são outros aspectos referentes à atividade humana ou as manifestações culturais. Como exemplo, citamos o motivo do boi no folclore que aparece através de um folguedo cuja substância ou ideia é comum, mas que apresenta formas e nomes diferentes: o boi-bumbá na Amazônia, o bumba-meu-boi no Nordeste, o boi mamão em Santa Catarina, ou o boi barroso no Rio Grande do Sul.
Acreditamos que conservando as peculiaridades regionais dentro de uma infraestrutura condizente com o evento, a Mostra de Quadrilhas e Bois-Bumbás, e o Arraial Flor do Maracujá têm perspectivas de crescimento e retransformação em produto turístico.
Há necessidade de fortalecimento das instituições que deverão possuir barracões e oficinas para a confecção de fantasias, alegorias e ensaios. Há necessidade de um local dotado de infraestrutura para a realização do evento, o Parque de Exposição não é apropriado para a execução da amostra e do arraial, em razão de descaracterizar o projeto que tem mais de 30 anos. A infraestrutura barateará os custos do evento, porque deverá possuir banheiros, rede hidrosanitária, instalação elétrica, palco, arquibancada e, principalmente, escoamento de águas pluviais. A área deverá ter locais estratégicos para publicidade e programação visual como um todo; estacionamento rotativo; cronômetro para marcar os horários de apresentações, ficando os grupos responsáveis pelos próprios transportes; cabines para a imprensa; sonorização adequada e local de concentração. Esses são os principais entraves hoje, para a realização do evento com boa qualidade. Desde 1992, um grupo de idealistas apresentou projeto ao Governo do Estado para a construção de um Bumbódromo (segundo o modelo de Parintins), com aproveitamento total o ano todo. Tudo em vão. Até hoje o prometido Bumbódromo nunca saiu do papel, como muitos outros projetos que beneficiariam a área cultural.
Por infraestrutura turística entendemos, também, o aperfeiçoamento da qualidade dos serviços prestados pelos barraqueiros e vendedores ambulantes. Uma barraca limpa, com garçons treinados, comida típica boa, atrairá clientes.
Somos favoráveis à manutenção das tradições folclóricas no arraial: adivinhações, pau-de-sebo, brincadeiras do limão, fogueira e dança das cadeiras, entre outras, próprias da quadra junina.
Não se trata apenas de movimento regionalista essa procura de origem regional do desenvolvimento cultural e, sim, baseada em exemplos que deram certo. A vocação regional tem sido posta em prova em vários países do mundo, como é o caso da Dinamarca, que nos anos de 1930, utilizando o regionalismo, implantou um programa de renascimento do nativismo folclórico; recuperou a herança nativa das baladas e da literatura folclórica. Fundaram-se escolas superiores nas regiões e desenvolveu-se o movimento cooperativista com bases regionais.
Uma política de incentivo ao turismo será inteiramente positiva ao patrimônio cultural se, do nosso ponto de vista, duas diretrizes forem seguidas: 1ª) amplo trabalho preliminar ou paralelo de conscientização das comunidades receptoras sobre a qualidade dos seus bens culturais e sobre o fato de que a riqueza material a ser trazida pelos turistas será duradoura apenas se os moradores souberem transmitir e conservar esse bem, na sua autenticidade; 2ª) investimento adequado na preservação e animação desses bens, o que vale para todas as atividades de lazer com um acréscimo em face de peculiaridade do lazer turístico. Essa animação, mais uma vez repetimos, deve estar enraizada na cultura local. A “maquiagem” dos bens para venda aos turistas é medida desonesta e de fôlego curto. Quem experimentou sabe disso.
A tradição que não se vive, não é tradição, é simples repetição mecânica de hábitos ou atitudes. Portanto, é indispensável que a comunidade irmanada pela mesma herança cultural e histórica, se ligue à cultura, para crescerem juntas e darem a sua assinatura na História e na Cultura de Rondônia. Uma coisa faz parte da outra, cultura e comunidade, porque ambas derivam do homem. Como exemplo, citamos o Festival Folclórico de Parintins. O povo compreendeu o festival e colabora para o evento se tornar cada vez melhor. E, hoje, turistas do mundo inteiro vão à ilha de Parintins apreciar a apresentação dos Bois Garantido e Caprichoso.
Precisamos ter o sentido de comunidade e de cultura integrados em nós, como forças destinadas à nossa elevação pessoal e coletiva.
Todos nós somos responsáveis pela nossa comunidade e pela nossa cultura; nós todos temos uma história para contar, um papel para representar, um destino para cumprir. Portanto, unidos, deveremos reivindicar já, a construção de um bumbódromo na capital do Estado de Rondônia.
* Yêdda Pinheiro Borzacov, da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira e colunista do site Gente de Opinião e do jornal Alto Madeira.
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