Segunda-feira, 13 de abril de 2015 - 09h49
*Yêdda Pinheiro Borzacov
Afigura-se interessante focalizar neste dia 15 de abril, data da fundação do jornal “Alto Madeira” (1917), alguns aspectos da iniciação do processo histórico referentes ao jornalismo escrito porto velhense, datado simultaneamente quase com o surgimento do povoado de Porto Velho (1907).
O primeiro jornal escrito em inglês e português, em Candelária, circulou no dia 4 de julho de 1909, publicado pela concessionária da construção da E.F. Madeira-Mamoré, com o nome de “The Porto Velho Times”; o segundo, em 1911, o “The Porto Velho Marconigram” (O Radiograma de Porto Velho), humorístico, estampava na primeira página, embaixo do nome do jornal, a expressão em espanhol de sabor local, “La vida sin literatura e sin quinino es muerte” (A vida sem literatura e sem quinino é a morte), em alusão a obrigatoriedade diária das pílulas de quinino ingeridas em prevenção ao duende da Amazônia – a malária. O médico Oswaldo Cruz, que esteve observando e estudando as doenças locais e praticando autopsias diariamente, no Hospital da Candelária, em 1910, após vinte dias depois de ter deixado o nosocômio, enviou um artigo ao “The Porto Velho Marconigram”, contendo impressões sobre a nosologia do alto Madeira e o arrematava, despedindo-se, de acordo com a praxe: “Quinina plus mosquiteiros igual a 0x1 Malária”. Outro jornal de língua inglesa efêmero da década de 1910, o “The Porto Velho Courier”.
Surgiu em 1915, “O Município”, semanal, com uma tiragem de 100 exemplares, propriedade do médico e primeiro superintendente eleito de Porto Velho, Joaquim Augusto Tanajura, tendo como colaboradores Francisco Raimundo de Oliveira, Cincinato Ferreira e João Alfredo de Mendonça, circulando até 1916. Em 1917, Tanajura funda outro jornal – “Alto Madeira”, único sobrevivente dos primórdios da criação do município, mantendo até na atualidade, com Euro Tourinho, seu compromisso com o registro documental da nossa História, consubstanciada desde já em sua 1ª edição, quando trazia a público oportuno artigo do engenheiro e historiador Silva Campos sobre a origem do nome Porto Velho.
Muitos jornais de vida curta ainda circularam na década de 1920: “A Gazeta”, fundada por Giovani Costa e Raif da Costa Lima, dentre outros, fazia oposição ao superintendente Joaquim Augusto Tanajura, tendo sido fechado após o seu diretor José Mateus Gomes Coutinho ter sofrido um atentado em razão da publicação de um violento artigo contra o partido no poder; “O Cometa”, satírico, de Cincinato Ferreira; “O Pirata”, tendo como diretor e redator, respectivamente, Cara de Tigre e Phantasma Pardo, pseudônimos de personagens não identificados; “O Jamary”, semanário lançado na cachoeira de Samuel, tendo como lema a expressão estampada abaixo do nome do jornal, “Sob o pálio da liberdade, o pensamento são” e o “Batuta”, ambos de Rigomero Costa.
Com existência curta outros jornais surgiram nas décadas seguintes: o “Oeste” e o “Visão”, editado por Pedro Gondim, com a finalidade de publicar artigos referentes à Madeira-Mamoré.
Nas décadas de 1950/1970, marcou significativa presença no meio da comunicação social, o jornal “O Guaporé”, eminentemente político, representando o PSD x PTB, liderado por Aluízio Pinheiro Ferreira, tendo como diretor, Moacyr de Miranda e um corpo redacional constituído por um grupo culto. Dentre eles: Ari de Macedo, Emanuel Pontes Pinto, Paulo Nunes Leal, Petrônio Gonçalves, Ary Pinheiro, Fernando Claro de Campos, João Tavares e Enos Eduardo Lins. Deixou de circular na década de 1990. O “Guaporé” foi um veículo de difusão cultural responsável pela força dos nossos mais expressivos valores literários.
Outros jornais políticos partidários: “Combate”, sob a direção de Inácio Mendes da Silva, se caracterizando como jornal de oposição, criticando os atos e homens do governo com uma linguagem que fugia às normas da razão e do bom jornalismo. Encerrou suas portas, reaparecendo tempos depois com o nome “Combatente”; o “Jamary”, jornal que circulou apenas cerca de três meses, de propriedade de Cezar Zoghbi, defendendo a doutrina política da Arena.
O empresário Joaquim Pereira da Rocha fundou “A Tribuna”, em janeiro de 1976, tendo como diretor o advogado e jornalista Rochilmer Mello da Rocha, jornal noticioso e independente que trazia excelentes artigos de fundo editorial, auxiliando o leitor a compreender a complexidade das notícias, mas sem força-lo em suas conclusões.
O jornal “Vanguarda”, de Emilio Santiago, sob a direção de Aaran Santos, circulou apenas alguns meses. Na década de 1980, surgiu “O Estadão do Norte”, com maquinário moderno e equipe competente, tendo sido fechado em 2014. No dia 13 de setembro de 1993, surge o “Diário da Amazônia”, do grupo Gurgacz.
Neste dia, 15 de abril, rendo homenagens especiais a Euro Tourinho, decano dos jornalistas, que em toda a sua trajetória profissional pautou a sua atuação pela dignidade e honestidade, fiel aos ensinamentos transmitidos pelos pais e por elevados princípios éticos. Ele é amigo. Amigo, amicíssimo, de uma lealdade e fidelidade às suas amizades que chega a qualquer coisa de poético, o que impede de haver tedio em conversações com ele. É a poesia que sustenta e tem sustentado as grandes amizades. E Euro Tourinho é um homem de grandes amizades e de grandes amigos.
* Yêdda Pinheiro Borzacov, professora, autora de oito livros e dezesseis coautorias. Membro da Academia de Letras de Rondônia e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia.
Redatores do jornal “Alto Madeira”. Foto: Google Imagens
Euro Tourinho, proprietário do “Alto Madeira”. Foto: Google Imagens
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