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Yêdda Pinheiro Borzacov

BÚFALOS, OPÇÃO INEXPLORADA



* Yêdda Pinheiro Borzacov

Lendo o artigo “Holocausto Bubalino”, de autoria do jornalista Carlos Sperança, no jornal “Alto Madeira”, dia 18 de outubro, lembrei que, ao pesquisarmos os fatos da história de Rondônia, constatamos que muitos nomes de personagens encontram-se quase ou totalmente esquecidos, embora tenham recebido, no seu próprio tempo, amplo reconhecimento dos seus feitos, como é o caso do engenheiro agrônomo Edgar de Souza Cordeiro, autor de projetos implantados de grande relevância, nessas terras de Rondon, tais como: o berçário dos quelônios no vale do Guaporé; a cultura de arroz sequeiro e da seringueira (demonstrando a ineficiência dos clones orientais da Hevea, como por exemplo, os clones RRIM e os PB e a, sobretudo, da série YAN, nos seringais de Rondônia); a criação de uma ração para as aves, “made in Guaporé”, cujos componentes eram farelo de raspa de mandioca e farinha da parte verde da haste (na época que as faltas de transporte dificultavam a importação de ração) e a aquisição na ilha de Marajó-PA, de 30 fêmeas e 2 machos de búfalos, transportados para Porto Velho, conduzidos para a fazenda “Pau D’Óleo”, com cerca de 20.000 ha, localizada no vale do Guaporé, dentre outros.

Visando a utilização do aproveitamento da carne bubalina, cujas propriedades nutritivas organolépticas são superiores aos dos outros ruminantes domésticos, por terem 40% de colesterol, 12 vezes menos gordura, 55% menos calorias, 11% mais proteínas e 10% mais minerais, quando comparados à carne bovina. O seu leite com alto teor de gordura, pobre em gordura saturada, serve de forma mais técnica à produção de queijos, iogurte e manteiga. E mais: produzem ainda tração, couro de excelente qualidade e seu esterco pode ser utilizado como adubo.

Quando Diretor da Agricultura (cargo equivalente a Secretário), do governo Petrônio Barcelos, do Território Federal do Guaporé, em 1953, Edgar Cordeiro ao trazer os bubalinos para o Guaporé, pretendia repetir o sucesso da adaptação desses animais no Marajó, há mais de um século e que se tornaram de fundamental importância para o desenvolvimento socioeconômico de Marajó, não representando perigo a nenhum integrante do ecossistema ao qual estão inseridos.

O zootecnista da Embrapa, Ricardo Gomes Araújo Pereira, afirmava que na Reserva Biológica do Guaporé, o búfalo, por ser herbívoro, não representaria uma ameaça às onças e cervos do pantanal e outros animais que vivem na fazenda “Pau D’Óleo”, ao contrário, suas crias é que servem de alimento para animais carnívoros.

Lamentavelmente, com a saída de Edgar Cordeiro do então Território Federal do Guaporé, faltou competência e interesse aos seus sucessores para conduzir as atividades do projeto e muitos búfalos escaparam da fazenda “Pau D’Óleo” e invadiram a mata, se multiplicaram e se tornaram selvagens, fato que tem gerado várias propostas quanto à situação, dentre elas o abate dos animais que não são protegidos pela lei referente à fauna, em razão do búfalo ser de origem estrangeira.

Carlos Sperança escreve que “Enquanto na ilha do Marajó os animais são bem vindos, convivem pacificamente e são utilizados na exploração do turismo ou nas lidas dos agricultores, em Rondônia os búfalos são personas non gratas”.

Em vez de considerá-los uma ameaça à ecologia do Guaporé, com o manejo adequado, os búfalos poderiam ser utilizados como uma base econômica de valiosa fonte de proteínas na alimentação escolar ou para a produção de leite e derivados para as populações carentes daquela região e ainda, empregados na tração animal para o preparo de terra e outras atividades na fazenda.

Os búfalos são utilizados em países como a Itália, Índia, Bulgária e Rússia.

A decisão de exterminar a manada deverá ser amplamente discutida e pensada. As cotas de manejo deveriam ser entregues para cooperativas, conforme observa o historiador Marco Antônio Teixeira, constituídas pelos ribeirinhos, possibilitando a formação (fora da área da REBIO) de um curtume e de um frigorífico.

Esse episódio da vida pública de Edgar Cordeiro é subsídio para aqueles que tomaram sobre os ombros a responsabilidade de um estudo mais amplo referente ao engenheiro agrônomo, Edgar Cordeiro, homem de visão extraordinária, antecipando-se na implantação de projetos considerados hoje pioneiros em nossa Rondônia.

* Yêdda Pinheiro Borzacov, da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira e colunista do site Gente de Opinião.

BÚFALOS, OPÇÃO INEXPLORADA - Gente de Opinião

Búfalos do Vale do Guaporé.
         Foto: Google Imagens / Notícia Geral

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