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Yêdda Pinheiro Borzacov

Centenário Prêmio D. Pedro II - Por Yêdda Borzacov


* Yêdda Pinheiro Borzacov


O notável etnólogo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Edgard Roquette Pinto, participou em 1912 de uma expedição de pesquisas e estudos, à região da Serra dos Parecis, local onde a Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, seção Cuiabá/Santo Antônio do Rio Madeira, chefiada pelo então major Cândido Mariano da Silva Rondon, realizava trabalhos.

Impressionado pela envergadura da obra que testemunhou, escreveu e lançou em 1916, o livro “Rondônia”, registrando a importância geológica, geográfica, botânica, zoológica, antropológica e etnológica da Comissão Rondon (que substituiu o primeiro nome dado à épica Comissão), para esta parte do extremo oeste brasileiro e a sua utilidade no tocante à vigilância das nossas fronteiras. Ainda em 1916, o eminente cientista Roquette Pinto, em artigo publicado na Revista do Brasil, p. 169, reiterou a proposta apresentada em 1915, durante a realização do Ciclo de Conferência sobre a Comissão Rondon, no Museu Nacional, ocasião em que propôs que a extensa área geográfica compreendida entre os rios Juruena e Madeira, cortada pela linha telegráfica fosse denominada “terras de Rondônia”, em homenagem ao sertanista e engenheiro militar, que “descobriu”, palmilhou e iniciou a civilizar.

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em julho de 1917, conferiu a Roquette Pinto, o Prêmio D. Pedro II (medalha de ouro), pela fascinante e significativa obra, relatando aspectos até então praticamente desconhecidos da área geográfica.

Roquette Pinto cita dados levantados pela Comissão da mais alta importância sobre a flora e fauna brasileiras e o convívio pacífico e amigável com as tribos indígenas, seus aspectos físicos, usos e costumes, doenças, lendas, instrumentos musicais (alguns sagrados), e considerável material linguístico, dentre outros.

É oportuno esclarecer que o deputado federal pelo Amazonas, Áureo de Mello adotou o nome “Rondônia” para substituir “Guaporé”, do Território Federal, em 1956, da ideia de Roquette Pinto. Apresentou o projeto de lei na Câmara Federal sem citar o grande cientista e o seu livro “Rondônia”.

Observamos que Rondônia é o único estado brasileiro que homenageia um personagem da nossa História, que tendo como base o evolucionismo humanista do filósofo Augusto Comte, afirmava que os grupos indígenas evoluiriam, se lhes fossem dados os meios necessários e sob a influência de Rondon, em 1910, criou-se o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), mais tarde transformado em Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Relendo o livro “Rondônia”, constatamos que a Comissão Rondon aplicou também as ideias de Comte na área militar — a utilização do exército em obras civis, como a construção de linha telegráfica e em fins humanitários, como a proteção aos índios.

O livro “Rondônia”, recebido com aplausos e louvores pelos intelectuais e cientistas, extrapolou o Brasil, encontrando em terras estrangeiras, acolhida honrosa, como estampa o prefaciador da segunda edição.

Em Rondônia, com o passar dos anos, muitos ilustres nomes de homens que contribuíram para construir a nossa História não são mais lembrados, e nesse desfile de esquecimento, transita o nome de Roquette Pinto, apesar de que é pelo estudo dos grandes vultos que escrevem a História do Brasil, que colhemos as melhores lições de civismo. O estado que não cuida de sua História, nem cria estímulos nas escolas para divulgar os grandes fatos e feitos históricos, não terá com certeza um desenvolvimento harmonioso.

* Yêdda Pinheiro Borzacov, da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira, da Academia Histórica Militar Príncipe da Beira, colunista do site Gente de Opinião e do jornal Alto Madeira.

Centenário Prêmio D. Pedro II - Por Yêdda Borzacov - Gente de Opinião

Capa do livro Rondônia. Imagem: Beto Bertagna a 24 Quadros

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