Segunda-feira, 17 de junho de 2013 - 08h01
Segundo os velhos alfarrábios que deixam entrever a vida político-partidária do Território
Federal do Guaporé, mais tarde Rondônia, constata-se que naqueles idos tempos ninguém,
mas ninguém mesmo, ficava "em cima do muro". Ou era cutuba ou era pele-curta.
Corria o ano de 1954, os candidatos se preparavam para disputar a única vaga existente, à
época, para deputado federal. Aluízio Pinheiro Ferreira, candidato da coligação PSD e PTB,
tentava a reeleição pela terceira vez; seu adversário era Joaquim Vicente Rondon, da
coligação UDN e PSP.
A bucólica capital do Território Federal do Guaporé fervilhava com os comícios e as
propagandas dos alto-falantes, colocados em lugares estratégicos no centro comercial. Os do
PSD e PTB entre os altos das casas comerciais de George Resky e Jouayed, na rua José
Bonifácio, e os dos rondonistas no edifício "Sônia Maria" e depois no prédio de Emídio
Feitosa. Os locutores, aos berros, enumeravam as virtudes e qualidades dos seus candidatos
e soltavam "cobras e lagartos" a respeito dos adversários.
Aluízio Pinheiro Ferreira perdeu a eleição e, apoiado pelo comerciante Oriovaldo da Silva
Valadares e pelos seringalistas Marçal Couceiro, Adalberto Benevides, Joaquim Rocha, José
Baraúna, Francisco Braga de Paiva e José Bezerra de Barros, dentre outros, fundou o jornal
"O Guaporé", inicialmente funcionando em um prédio na rua Floriano Peixoto n° 6. Mais
tarde, com sede própria, o "O Guaporé" instalou-se na av. Presidente Dutra, no bairro Caiary.
O conteúdo do jornal o "O Guaporé" mostrava um engajamento com a vida política brasileira
e guaporeana/rondoniense abrindo, inclusive, a partir dos primeiros números, cerrada
campanha de críticas contra o deputado Joaquim Vicente Rondon, apelidado pelos redatores
de "Cérebro de Concreto Armado", e seus correligionários, principalmente contra o médico
Renato Borralho de Medeiros, o odontólogo Luis Cantanhede, o comerciante Tomás
Chaquiam e o governador do Território, indicado pelo deputado Rondon, José Ribamar de
Miranda. Os ataques continuaram ao assumir o governo outro indicado pelo mesmo
deputado, Jaime Araújo dos Santos.
O "O Guaporé" passou a ter imenso prestígio entre os leitores e era disputadíssimo na banca
do Mercado Público Municipal, único local de venda de jornais. Possuía uma equipe de
redatores de primeira linha, tendo à frente Moacyr de Miranda. Eram eles: Enos Eduardo
Lins, Ary de Macedo, Petrônio Gonçalves, Abguar de Miranda, Esron Penha de Menezes,
Paulo Nunes Leal, Emanuel Pontes Pinto, Joaquim Cesário da Silva, João Tavares, Fernando
Claro de Campos, Cosette Gaya, Ary Tupinambá Penna Pinheiro e o próprio Aluízio Pinheiro
Ferreira.
O "O Guaporé" foi um jornal que, além de ter desempenhado papel significativo na história
político-partidária de Rondônia, dedicou páginas à literatura, dando oportunidade aos literatos
divulgarem os seus escritos e se comunicarem com o público.
Em artigos bem escritos, espirituosos e divertidos, os redatores do "O Guaporé", começaram
a chamar os correligionários de Joaquim Vicente Rondon e o próprio deputado, de "pelecurta",
isto porque, segundo o corpo redacional, quando os udenistas e a turma do PSP iam
fazer suas necessidades fisiológicas, não podiam falar em razão de possuírem a pele curta,
muito curta, curtíssima. O apelido espalhou-se como epidemia e as rodinhas formadas no
Mercado Público Municipal, na Varanda do Porto Velho Hotel, no Café Santos, no Bar
Avenida e em outros pontos da cidade, dedicavam especial atenção ao apelido. Era um
deboche total. Até as crianças ficavam ofendidas ao serem chamadas de "peles-curtas".
Indignados com o termo pejorativo, os rondonistas quiseram dar o troco e apelidaram os
aluisistas de cutubas, julgando que o vocábulo sígnificasse catega, metido a sebo, vaidoso.
Ora, que engano! Quanta tolice! Cutuba, segundo T. Sampaio, na Revista do Instituto
Geográfico e Histórico do Amazonas, p. 144, Manaus, 1938, significa: "Ótimo. Excelente.
Supimpa. Muito forte e valente. Do tupi cutu bae o que fere, o cortante". Esclarece Alfredo da
Matta, em seu dicionário "Contribuição ao Estudo do Vocabulário Amazonense", p. 131, que
cutuba, popularmente quer dizer: "Valente. Destemido. O Chico Raymundo é homem cutuba".
O professor emérito da USP, Silveira Bueno, em seu Vocabulário Tupi-Guarani / Português, p.
104, afirma que cutuba vem "De cutui (c) e baé: o que desperta a atenção; bom,
excelente, bonito". Téo Azevedo & Assis Ângelo, em Dicionário Catrumano - Pequeno
Glossário de Locuções Regionais, p. 45, escrevem: "cutuba homem corajoso"; Miranda
Neto, em A Foz do Rio Mar, p. 113, registra que cutuba significa: "Forte, bom, atirado".
O apelido cutuba também pegou e, até hoje, tantos anos passados, muitas colunas de
noticiários locais, ao se referirem aos tempos políticos das décadas de 50 e 60 do século
passado, lembram os peles-curtas, aqueles de pele curtíssima, enquanto os cutubas, são
os ótimos, excelentes, os supimpas, os bonitos, os corajosos, os fortes, os valentes.
Quem afirma todos esses vocábulos de cutuba são os dicionários dos grandes mestres ...
apenas os transcrevo.
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