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Yêdda Pinheiro Borzacov

EM MEMÓRIA: JACOB FREITAS ATALLAH - Yêdda Pinheiro Borzacov


 Quando um amigo parte para o Mundo Maior, um pouco de nós parte também. O amigo completa nossa existência, alimenta nosso cotidiano. É com ele que dividimos nossos encantos e desencantos. Não existe medida maior para a grandeza de um caráter do que o poder de saber fazer amigos. É por isso tudo que nesta data, 3 de janeiro de 2018, lembro-me com emoção do médico, intelectual, político e antes de tudo, amigo, Jacob Freitas Atallah – 30 dias de sua partida para o Mundo Espiritual. O fiel amigo de seus amigos, a quem todos conquistava pela firmeza de seu caráter, humanidade médica e postura como homem público, com sua inteligência vibrante e expansiva superava o próprio tempo, colocando-o no plano de igualdade e perfeita identidade de ideais com os jovens que na eleição de 1986, votaram nele, para governador do estado. Porto Velho, Guajará-Mirim, cidades tradicionais e Ariquemes o consagraram governador. Se a campanha houvesse demorado mais alguns meses, certamente atingiria outros municípios. O poder que tinha de se dar, de se entregar e de se pronunciar era marcante. Jacob eleito, o destino de Rondônia teria sido mais promissor.


Homem da Amazônia, em tudo e por tudo, nele vivia um rondoniense que amou profundamente sua terra maltratada culturalmente pelos desígnios dos maus políticos. No seu ativismo espontâneo pela nossa sobrevivência histórica, sua administração na Secretaria de Educação do Território Federal de Rondônia (1979/1980), apesar de muito curta, foi diferenciada. A título de exemplo, citamos sua assessoria na área do Patrimônio Histórico, época em que iniciamos o resgate histórico da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré; foi elaborado o primeiro Calendário Escolar e Cultural (1980), tendo uma mensagem de Atallah que em um dos trechos ressalta: “Nosso objetivo é o de divulgar para cada escola do Território, um referencial teórico de orientação, onde estão englobados temas os mais diversos, proporcionando um instrumento de racionalização dos educadores”. Mais adiante prossegue: “Os temas aqui expostos não só dizem respeito a datas e fatos históricos, divulgando entre a juventude os eventos passados para uma melhor compreensão do mundo atual, como também se reportam a assuntos culturais, levando a juventude a pensar e entender o seu mundo real, a se interessar pelas expressões representativas da cultura brasileira”. O primeiro plano da política cultural foi iniciado, esforço encetado no sentido de ordenar o desenvolvimento cultural de Rondônia e a preservação do seu patrimônio histórico material e imaterial. Jacob Atallah afirmou no curso propiciado “Fundamentos da Cultura Rondoniense”: “A política partidária divide ainda mais que a política econômica. A cultural é a que conjuga. Em torno das criações do espírito e da inteligência trabalhada pelo estudo sério, as criaturas se unem, porque enfim se entendem. Ninguém, se normal, impugna a cultura”.

Permitimo-nos recordar, no tocante a política partidária, Jacob Freitas Atallah foi uma presença determinante como deputado constituinte, uma presença renovadora, um homem de ação, além de grande homem de estudo, participante até de conflitos da sua época, através de atitudes incisivas e corajosas, ligadas às suas maneiras de pensar, seus modos de agir. Sua dignidade e independência, de sabedoria e justiça, realçou-lhe o labor construtivo, transparente em seus discursos equilibrados, constatando-se a agudeza, seu espírito crítico e a linguagem adequada, reivindicando melhoramentos para a solução dos interesses econômicos, sociais e culturais para seu povo. Sua palavra desdobrava-se em imagens, comparações, citações históricas e culturais. Era a época dos grandes oradores, eufóricos e eloquentes, além de Jacob Freitas Atallah, os deputados Amizael Gomes da Silva, Cloter Mota, José Abreu Bianco, Tomás Correia e Amir Lando.

Membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia (seu primeiro presidente), lembro-me de que em uma das reuniões da instituição, indaguei-lhe porque não escrevia livros, respondeu com muito bom humor: “Autor de livro é como cantador, só presta bom”. O senso de responsabilidade e o escrúpulo exagerado o tornaram exigente com seus trabalhos. Lamentamos sua teimosia em não publicar um livro, atendendo às solicitações que lhe eram feitas. Muitas vezes ao encontrá-lo, comentava: “Jacob, lembre-se do livro que você deve à Rondônia”. Mas Jacob não atendeu a reivindicação. Pouco escreveu, em relação ao muito que sabia. Hoje entendo a ausência do seu livro. É que o culto Jacob Atallah, criado nas barrancas do Madeira, não tinha temperamento de se comprometer longo tempo com páginas escritas. Seu espírito era livre, como livre é a cultura e a liberdade tinha para ele o sabor da felicidade suprema.

Outro traço característico de Jacob Atallah: médico humanitário, cumpria pontualmente os deveres compatíveis com a profissão, aliada a bondade, a fraternidade e a solidariedade com os humildes.


Como rondoniense que sou, sinto-me envaidecida pelo trabalho realizado pelo conterrâneo que acompanhou com dedicação e carinho meu pai, seu grande amigo, Ary Tupinambá Penna Pinheiro, à época da doença que determinou sua partida. A amizade fraternal que os unia, encantava-me. Meu pai, quando Jacob foi candidato a prefeito de Porto Velho, se encontrava com a visão deficiente, mas foi dar o seu voto com entusiasmo. Como não prestigiar o amigo candidato? Fez campanha, afirmando: “Acredito na sua honestidade e competência, recomendo que votem em Jacob”.

Por isso tudo, pela dívida de amizade, pela gratidão e o convívio de muitos anos com Jacob Atallah, autorizo-me a escrever a expressão: “Foi uma vida fecunda, absorvida no bem e no estudo”.

 

* Yêdda Pinheiro Borzacov, da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira, da Academia Histórica Militar Príncipe da Beira e colunista do site Gente de Opinião.
 

 

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Jacob Freitas Atallah

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