Sexta-feira, 30 de janeiro de 2015 - 16h29
Mocambo, segundo Houaiss, quer dizer, “... habitação precária e desconfortável, tapera”, termo escolhido para designar a área que era conhecida também como Mascate, prevalecendo o nome Mocambo quando ocorreu a formação do bairro a partir de 1914.
Uma das mais antigas moradoras do Mocambo, a maranhense Esperança Rita, fundou no dia 24 de julho de 1914, o primeiro terreiro de umbanda de Porto Velho, situado à margem de um igarapé, a Irmandade Beneficente Santa Bárbara e em 1916, uma capela em homenagem à Santa foi edificada, nascendo uma bela árvore nas suas adjacências, cuidada por todos que usufruíam da sombra de sua copa para realizar no dia consagrado à senhora Santana, 26 de julho, evento festivo, ocasião que guloseimas eram oferecidas e todos dançavam no ritmo do batuque.
Um fato inédito e curioso ocorreu em 1916, durante a inauguração da capela de Santa Bárbara: a presença da igreja católica, o que nos faz acreditar o determinismo dos padres em atrair os umbandistas para o catolicismo.
O Mocambo era considerado o reduto das “mulheres perdidas”, dos soldados da borracha, dos pescadores, das lavadeiras, dos diaristas da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, enfim, da gente mais humilde da escala social.
Contam os antigos boêmios de Porto Velho que ali era o reduto das pensões tidas como “alegres”, de Maria Paraense, Joana Marreteira, Guiomar, Amélia e de uma gafieira badalada exibindo na fachada o sugestivo nome “Céu Azul”, cujas festas eram animadas por um quinteto musical liderado pelo baterista e crooner Adamor Santos.
O boêmio bairro Mocambo era palpitante de vida, movimentado, agitado com seus sofrimentos, ciúmes, paixões, intrigas e ajustes de contas.
Uma das grandes confusões envolveu a filha do Superintendente Fernando Guapindaia de Souza Brejense, a professora Tavelinda que promoveu uma campanha comunitária visando arrecadar recursos financeiros para construir uma capela no Cemitério dos Inocentes, em razão da Superintendência não dispor de caixa para edificar o prédio de práticas religiosas e velórios.
A professora Tavelinda foi atendida pelos comerciantes (com exceção dos portugueses, zangados e em represália a prisão de um conterrâneo, proprietário de uma mercearia que desrespeitou a professora Tavelinda por ocasião em que ela, liderando a equipe arrecadadora dos donativos, passou pelo seu estabelecimento). Ao tomar ciência do fato, o Superintendente Guapindaia determinou a prisão do detrator e de todos que tentassem impedir o cumprimento da ordem, além de aplicar-lhes uma surra, chicoteando-os com “umbigo de boi”.
Os portugueses indignados, pediram apoio para alguns ferroviários solteiros, residentes na Casa 6, que atendendo o apelo armaram-se de rifles papo amarelo e juntos com os lusitanos decidiram libertar os prisioneiros.
O delegado apavorado com os acontecimentos sumiu da cidade e o Superintendente Guapindaia, militar reformado a batalhas como a enfrentada contra o exército peruano no alto rio Juruá, não temeu os revoltosos e se preparou para enfrentá-los, entrincheirando-se em sua residência localizada no espaço onde mais tarde foi construída a Praça General Rondon. Entretanto, chega a notícia que os revoltosos haviam raptado o contínuo da Superintendência e Guapindaia teve que negociar a troca do servidor pelos portugueses aprisionados, além de firmar um acordo visando por término a qualquer ação belicosa.
A grande vitoriosa foi a professora Tavelinda, que com o episódio conquistou a simpatia e a solidariedade da comunidade porto velhense que contribuiu generosamente para a construção da capela, inaugurada em tempo recorde, três meses após o conflito.
Na parte baixa da cidade surgiu o bairro do Centro simultaneamente com a construção da E.F. Madeira-Mamoré, área que testemunhou o desfilo histórico de forças vivas, organizado pelo diretor da ferrovia, Aluízio Pinheiro Ferreira em homenagem ao Presidente da república, Getúlio Vargas, em 11 de outubro de 1940, ocasião em que 400 operários e cassacos ferroviários, tendo à frente mestres de obras, empunhando alguns dos seus instrumentos de trabalho (pás, enxadas, picaretas), exibindo faixas com dizeres reivindicando os direitos fundamentais trabalhistas, tais como: “8 Horas de Trabalho”, “Instituição do Salário Mínimo” e “Férias Remuneradas”.
Esse desfile, realizado na Av. Sete de Setembro, objetivava influenciar o Presidente a realizar uma redivisão territorial nessa área fronteiriça, com a criação de um território federal, dentro da proposta da “Marcha para o Oeste”. Do desfile participaram ainda 200 homens da tropa de fronteira que abriam a rodovia Porto Velho / Presidente Penna, alguns conduzindo caminhões e máquinas rodoviárias. Getúlio Vargas ressaltou em seu discurso que: “... a sua intenção era valorizar o trabalhador nacional”.
Um fato constrangedor ocorreu durante o evento: Ferreira Sobrinho, ex-prefeito de Porto Velho, por um lapso do cerimonial não foi convidado para o palanque, ficando assistindo o desfile nas suas proximidades. Havia preparado um discurso para ler durante a festividade. Desejando proferir a leitura, mesmo não constando na programação, dirigiu-se ao palanque com a mão no bolso para retirar os escritos. Gregório Fortunato, o Anjo Negro, ao perceber o gesto, imediatamente jogou-se na frente de Ferreira Sobrinho, julgando que o ex-prefeito portava uma arma.
Constrangido, Aluízio Pinheiro Ferreira fez comentário que Porto Velho era uma cidade pacata e seus cidadãos, homens de bem, jamais cometeriam atos de violência.
Os caminhos da memória, repletos de testemunhos notáveis do passado, oferecem ruas, espaços, onde as pessoas vivem e fazem a história.
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