Segunda-feira, 19 de março de 2018 - 10h04
Um olhar no tempo de ontem leva-me às margens do igarapé das Pedrinhas, manancial de águas que fez parte da infância da gurizada moradora dos bairros Caiari e Arigolândia. As lembranças que às vezes parecem adormecidas, repentinamente surgem nítidas, reais e repletas de saudades, transportando-nos às coisas da infância, fazendo-nos meditar: amando a saudade, ela não machuca.
O manancial de águas – Pedrinhas, passava às proximidades do local onde foi construído o Centro Político e Administrativo do governo. A sua água límpida e transparente deixava ver as pequenas pedras que cobriam o seu leito. As suas margens eram cobertas por variadas árvores, dentre elas, as sussurrantes goiabeiras, mangueiras e muricizeiros, cujos frutos enchiam a barriga da meninada.
Crescemos convivendo com o igarapé, ele fazia parte da nossa comunidade, da vida das famílias, da vida da molecada. Nas manhãs de sábado e domingo, a paisagem peculiar sentia as presenças dos assíduos frequentadores, as meninas e os meninos dos bairros Caiari e Arigolândia caminhavam por estreito caminho para nadarem nas serenas e tranquilas águas das Pedrinhas. Lembro-me de Elody, Alfredo e Moacyr Cordeiro, João Teixeira, João Baury, Aricy Biloia, Leonel e Maria Madeira, Paulo, Enéas, Derocy e Maria Pequeno Franco, Raimundinho Medeiros, Maria – a Pipira –, Consolação Correia e tantos outros mais.
As lavadeiras construíam os seus jiraus onde esfregavam e enxaguavam as roupas sujas da freguesia, com sabão da marca tuchaua ou borboleta (barras essas colocadas nas trouxas pelas patroas), e sobre a grama, estendiam a roupa branca para quarar e de vez em quando molhavam a roupa para que o sujo se desprendesse dos tecidos, num ritual que se repetia diariamente, exceto nos dias chuvosos e aos domingos.
À tardinha, alguns homens portando varas e anzóis ali pescavam ao som do grilar dos pássaros, e à noite, ouvia-se o coaxar dos sapos e o cantar das suas águas.
O igarapé de outrora deixou marcas, saudades, lembranças. Só quem o conheceu de perto, nadou em suas águas, ouviu suas melodias, pode sentir ainda a sua presença.
Para onde foi o nosso igarapé? O que foi feito dele? Há cinquenta anos o igarapé foi destruído, em razão de ter sido utilizado para lixos e esgotos. Muitos dos seus trechos foram aterrados e alguns aparecem no bairro que tomou emprestado o nome – Pedrinhas, espremido, lodoso, sujo e fétido. Não podemos mais banhar-nos nas suas águas, porém em nossa imaginação podemos mergulhar em suas tépidas águas.
Ao lembrar do igarapé das Pedrinhas, aprendi que amar a saudade, se amá-la verdadeiramente, ela não machuca. Os bons momentos passados devem estar sempre presentes em nossas vidas.
* Yêdda Pinheiro Borzacov, da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira, da Academia Histórica Militar Príncipe da Beira.
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