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Yêdda Pinheiro Borzacov

YÊDDA BORZACOV: Porto Velho e o seu Centenário


YÊDDA BORZACOV: Porto Velho e o seu Centenário - Gente de OpiniãoComo Ciência Humana é indiscutível que a História só pode existir quando dela existam documentos. Sendo uma Ciência humanística que estuda os fatos de uma civilização no tempo e no espaço, acompanhando o progresso cultural de um povo, registrando esse processo, de outra forma não poderia substituir como Ciência, se não em função do material escrito em que se fazem os registros. Por exemplo, a História oficial do Brasil começou com a redação da carta de Pero Vaz de Caminha, relatando, minuciosamente ao Rei D. Manuel de Portugal, a “descoberta” da nova terra. A partir daí, muitos e sucessivos escritos se redigiram quer sob forma de epístolas de viagens, quer sob forma literária poética e em prosa, quer, mais tarde como artigos da imprensa diária e hebdomadários.
Conquanto seja verdade a existência dos relatos ou depoimentos orais, para que as mesmas possam efetivamente adquirir forma fixa, inautável e fidedigna, é mister o registro por escrito do depoimento oral. Modernamente, esses registros também se fazem em gravações de DVD, CD e outros equipamentos tecnológicos modernos. Já no antigo Egito se escreviam as formas pergaminhas, usando os hieróglifos, ou se inscrevia nas paredes pétreas de cavernas. A grande pirâmide de Queóps é exemplo singular de outra forma de registro de dados e fatos histórico-científicos: toda a antiga sabedoria milenar iniciática ali está sumarizadamente gravada.
Outra razão, aliás bastante óbvia, por que são indispensáveis esses registros é que terão de servir de fonte de pesquisa para a posteridade, a crítica e os estudiosos devem ter acesso a eles. Muitos fatos e segredos do passado são hoje criteriosamente analisados e comentados graças a tais registros, por isso tudo é que podemos afirmar que a História não pode prescindir de documentação comprobatória – sob pena de perder seu caráter de ciência.
Os historiadores não são diferentes dos outros mortais. São feitos da mesma massa e sofrem todas as fraquezas inerentes a natureza humana. Entretanto o historiador, homem representativo em registrar o conhecimento histórico, comprometido com a “verdade histórica”, isto é, com a ciência histórica e com a memória histórica, enquanto instrumento de auto-identidade de uma cultura e exercendo o magistério não pode usar a linguagem demagoga, própria de alguns políticos em épocas eleitorais. Deve ser objetivo e imparcial, jamais ser acometido de daltonismo produzido por tendência visceral (quad volumus facile credimus), não percebendo as cores, em nosso caso, não percebendo os fatos históricos que contrariam as suas distorções e que claro são as suas prediletas.
Também este modo de ver a construção do conhecimento histórico, associa o historiador sério à tradição histórica, de que as grandes expressões foram Varnhagen e Pedro Calmon, no Brasil, mas que podemos encontrar igualmente em Thierry, na França, Ranke, na Alemanha ou Herculano, em Portugal: é a história-ciência que se confunde com a memória histórica. Este artigo, como sugere o título, objetiva esclarecer a dúvida que surgiu em algumas pessoas não afeitas a nossa História sobre a verdade histórica do centenário de Porto Velho em 2007. Comenta-se até que a Secretaria Estadual de Cultura, Esportes e Lazer que havia programado vasta festividade visando homenagear o surgimento da capital do Estado, em razão de argumentos duvidosos preferiu suspender os eventos. Lamentável!
Talvez a pessoa que enuncia ou defende essa tese duvidosa tenha até boa fé, entretanto os funcionários dos órgãos oficiais culturais deveriam realizar uma leitura cuidadosa de vários autores (não apenas um ou dois), objetivando o conhecimento histórico, isto é, a comprovação dos fatos históricos, não formulando conclusões precipitadas ao agrado do informante que muitas vezes utiliza pressupostos, mais uma vez repito, do seu agrado, dissimulando-os na narrativa sob artifícios literários.
O surgimento de Porto Velho em 1907 nos convoca a percorrer os caminhos dessa lembrança, sob pena de flutuarmos no desolado vazio do esquecimento. Registro trechos da produção histórica de alguns mestres e até mesmo trecho da edição do Diário Oficial do Estado do Amazonas que desmentem a tese suscetível da controvérsia que Porto Velho nasceu em 1908. Os livros carregam e atualizam as vozes precedentes que cantam em nossos ouvidos a indelével data do surgimento de Porto Velho. Cada trecho citado enriquece a canção total, como os inúmeros instrumentos convocados à execução de uma sinfonia. E, assim, com harmonia, há identificação de inúmeros autores sobre a identidade e ano do surgimento do povoado que deu origem a Porto Velho.
O relatório do Dr. Carl Lovelace sobre o estado sanitário da região faz uma exposição referente as doenças endêmicas que assolavam a região e informa: “O serviço médico-sanitário da Madeira-Mamoré Railway Company, constatou 17 infestações de febre amarela nos pátios da ferrovia, em Porto Velho, entre 1907 e 1911, sempre trazidos por vapores, vindos de Manaus”. Ora, se o ilustre médico Lovelace, chefe dos serviços médicos da E.F. Madeira-Mamoré se refere ao desembarque de indivíduos em Porto Velho em 1907, é evidente que o trecho citado demonstra a existência de casas para abrigar esses homens, o que significa o início da povoação que deu origem a atual cidade de Porto Velho.
Manuel Rodrigues Ferreira situa-se, hoje em dia, como um dos historiadores cujos livros, a Ferrovia do Diabo e Nas Selvas Amazônicas, considerados obras clássicas, assinala no primeiro livro citado, páginas 212-213, 1a ed, editora Melhoramentos, São Paulo:
O ANO DE 1907
“No dia 21 de junho de 1907, já a empresa construtora tinha homens trabalhando na linha. Até o mês de dezembro de 1907, a empresa manteve uma média de 140 trabalhadores, todos brasileiros. Santo Antônio, já era, naquele ano, um pequeno povoado, aonde vinham ter principalmente os produtores de borracha de rio acima. Entretanto, de comum acordo entre o Governo brasileiro e a Madeira-Mamoré Railway, ficou estabelecido que o ponto inicial da ferrovia, seria o local denominado Porto Velho, conforme sugerira em 1883, o engenheiro Carlos Morsing.
Com uma diferença: no século passado, esse local era denominado Ponto Velho, é agora, Porto Velho. E ali, começou a companhia a derrubar a mata, a fim de construir a estação inicial, um cais, as oficinas da ferrovia, casas do pessoal graduado etc. Começava, pois, a surgir uma cidade, no ponto inicial da estrada de ferro Madeira-Mamoré”.
Nas Selvas Amazônicas, Gráfica Biblos Ltda Editora, São Paulo, o festejado autor registra na página 141, no capítulo “O Hospital de Candelária”: “Em maio de 1907 a companhia construtora chegou a Santo Antônio. Enquanto ali organizava a sua base, sete quilômetros abaixo, também na margem do rio Madeira, derrubava diversos hectares da mata e dava início à construção da atual cidade de Porto Velho que seria ponto inicial da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré”.
No capítulo “Educandário Belisário Pena”, página 141, escreve: “Reservei um dia inteiro para visitar o cemitério, onde foram enterrados os mortos da construção da ferrovia, a partir de 1907”. Convém salientar que a empresa construtora contratada, a May, Jekyll & Randolph instalou em Candelária, área compreendida entre Porto Velho e o acampamento “Henrique Dias”, da zona norte, da Comissão Rondon, o centro de serviços sanitários composto do Hospital da Candelária e de postos situados na construção e exploração da linha. Nesse sítio foi construído depois do pomar, o Cemitério, em área pertencente ao Amazonas, portanto, em Porto Velho. A existência de um cemitério em área pertencente a Porto Velho comprova a existência do núcleo populacional surgido em 1907.
Esron Penha de Menezes informa em “Retalhos para a História de Rondônia”, página 74, Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, 1980, livro tido como referência para pesquisas da nossa História, no capítulo “Porto Velho”: “A povoação de Porto Velho teve início no núcleo de casas, dos empregados da “Madeira-Mamoré Railway Co”, que se foi condensando, desde 1907 em torno da estação inicial...”. E prosseguindo, reafirma, na página 105: “...com a instalação dos serviços da ferrovia em 1907, no local onde é atualmente a sede do município, formou-se um núcleo populoso e um ponto de grande movimento. Porto Velho surgiu com a Madeira-Mamoré”.
Em seu livro II – Retalhos para a História de Rondônia, página 137, Editora Gênese, Esron Penha de Menezes torna a abordar: “Porto Velho começou com os primeiros ensaios da construção da Madeira-Mamoré, mas a cidade de Porto Velho surgiu em maio de 1907, quando aportaram em Santo Antônio do Rio Madeira, as primeiras levas de engenheiros e operários da empreiteira May and Jekyll...”.
No livro “Trem Fantasma”, página 169, Editora Schwarcz Ltda, São Paulo, 1988, o professor doutor da Universidade Federal de São Paulo, Francisco Foot Hardman revela: “... o surgimento de Porto Velho, a partir de 1907, na qualidade de sede industriosa de uma empresa privada internacional...”. E na página 253, o historiador e professor informa: “Hugo Ferreira, op. cit., recorda: “O feérico rosário de lâmpadas elétricas em arco voltaico” das luzes da cidade de Porto Velho, quando ali aportou em 1913. Relata ainda a cerimônia de inauguração da ferrovia em 1912, com a chegada de um trem todo ornamentado de bandeiras de várias nações a Guajará-Mirim, onde foi fixado um prego de ouro no último dormente, assim como havia sido feito com um prego de prata, no início da linha, em 1907. Além disso, foi elaborada uma alegoria especialmente para as solenidades, reproduzida em medalhas de ouro, prata e bronze. Cf. p.p. 9, 22-5 e 55”.
Ressalto que era prática nos Estados Unidos, naquela época, as empresas construtoras de ferrovias terem os procedimentos citados acima. Hugo Ferreira que chegou após a inauguração relatou o que obviamente escutara. Cabe aqui registrar a introdução do magistral trabalho do professor doutor da Universidade Federal de Rondônia, Dante Ribeiro da Fonseca, “Uma Cidade a Far West: Tradição e Modernidade na Origem de Porto Velho”, publicado no livro “Porto Velho Conta a sua História”, ABG Gráfica e Editora, Porto Velho, 1988, impressão realizada em convênio celebrado entre a Prefeitura de Porto Velho e o Ministério da Cultura, obra cuja presença é imprescindível nas pesquisas sobre Porto Velho. Afirma na introdução, página 13: “O presente trabalho versa sobre Porto Velho, sua origem e transformações sociais e espaciais durante um curto espaço de tempo entre 1907 quando foi aberta a clareira na mata para o início da construção da ferrovia...”.
No mesmo livro, Porto Velho conta a sua História, Francisco Matias em sua excelente crônica histórica, na página 81, escreve: “O primeiro processo de povoamento do espaço físico onde está situada a cidade de Porto Velho teve origem entre 1907 e 1908, quando a empreiteira norte-americana May, Jeckyll & Randolph instalou o canteiro de obras para construir a E.F. Madeira-Mamoré. No dia 19 de abril de 1907, autorizada pelo dono da Madeira-Mamoré Railway Company Ltda., Percival Farqhuar, essa empresa deu início à implantação da infra-estrutura necessária para tão arrojado projeto. Desse modo foram atraídos para o local até então despovoado do antigo porto amazônico milhares de operários, técnicos e comercializadores...”.
O historiador Vitor Hugo publicou “Historiografia do Vale do Alto Rio Madeira”, ABG Gráfica, Porto Velho, 2000, e na página 9 observa: “... Porto Velho era ponto inicial da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Quando isso ocorreu em 1907, era lançado nos Estados Unidos, da autoria do engenheiro Neville Craig (1847-1926) o livro “Estrada de Ferro Madeira-Mamoré – A História Trágica de uma Expedição”. Relata o geógrafo do Conselho Nacional de Geografia, Antônio Teixeira Guerra na sua monografia “Observações Geográficas sobre o Território do Guaporé”, publicada na Revista Brasileira de Geografia, nº 2, 1953, na página 224:
“O núcleo populacional que constitui hoje a capital do território do Guaporé, teve início no ano de 1907, com os trabalhos da construção da ferrovia Madeira-Mamoré”. E, reafirma, na página 227: “O começo do povoamento da área, hoje ocupada por Porto Velho, pode ser demarcado pelos fins do ano de 1907...”. Na página 117 do Calendário Cultural 1981, edição do Governo de Rondônia – Secretaria de Educação e Cultura encontra-se registrado: “Data do princípio do século XX (1907), o núcleo que deu origem a atual cidade de Porto Velho...”.
Pioneiro, o livro didático “História Regional (Rondônia), página 216, ABG Gráfica e Editora, Porto Velho, 1998, de autoria dos professores doutores da Universidade Federal de Rondônia, Marco Antônio Domingues Teixeira e Dante Ribeiro da Fonseca observa no capítulo Cronologia: “1907 – Iniciada a construção da EFMM pela empreiteira May, Jekyll and Randolph. Fundação de Porto Velho”. Este livro tem uma característica: os historiadores e os professores caminham sempre juntos.
O livro “Amazônia Porto Velho”, página 47, Gráfica Palmares, Porto Velho, 1991, o autor Amizael Gomes da Silva com habilidade narra: “... em 1907 ficou definido que a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré teria início em terras do Amazonas”. E, prosseguindo, afirma: “A melhor área para o começo da ferrovia seria 7 km abaixo de Santo Antônio. Em volta do local, construíram-se residências, armazéns, porto etc. Era o surgimento de Porto Velho, favorecido por invejável posição geográfica...”.
Mais registros sobre esta temática prevalece com ênfase em outros livros. H. M. Tomlison categoricamente afirma em sua obra “The sea and the jungle”, The Marboro Press, 1989: “Em Porto Velho, calculava-se, a olho, uma população que variava entre 300 pessoas em 1907 e 1000 habitantes em 1913”. Este registro relevante de Tomlison sobre a existência de 300 indivíduos em Porto Velho em 1907 é coerente com a concepção de que o povoado surgiu nesse ano.
Alcêdo Marrocos, morador antigo de Porto Velho (já falecido), estudioso da nossa história, vencedor de um concurso sobre a história da E.F. Madeira-Mamoré (3o lugar), promovido pela Secretaria Estadual de Cultura e Turismo, trabalho publicado no Compêndio e Cultura de Rondônia, página 234, ressalta: “Em 1907 a firma americana May, Jekyll & Randolph contrata as obras e dá início aos trabalhos em junho, fincando a estaca 0 (zero) logo a frente, onde se encontra o porto do Serviço de Navegação do Madeira”.
Para comprovar as assertivas dos historiadores acima citados, basta apenas transcrever o conteúdo do precioso exemplar do Diário Oficial do Governo do Estado do Amazonas, edição de 7 de Setembro de 1822, comemorativo ao Centenário da Independência Política do Brasil, páginas 94. 201: “A povoação de Porto Velho teve início no núcleo de casas dos empregados da “Madeira-Mamoré Railway Co.”, que se foi condensando, desde 1907, em torno da estação inicial e oficinas respectivas, sob a fiscalização da diretoria da Estrada de Ferro referida, que efetuou desde logo obras de saneamento...”.
Somente percorrendo essas vias históricas, podemos exorcizar a desastrada teoria do surgimento de Porto Velho no ano de 1908. Evidentemente os trechos citados dos muitos autores que participam da historiografia de Porto Velho, citando as fontes de pesquisas, conferindo assim, autenticidade as suas informações, formam neste artigo uma colcha de retalhos, constatando que Porto Velho surgiu em 1907. Portanto, podemos neste ano de 2007 evocar o seu nascimento. Reverenciar o seu centenário é um dever de todos nós. É uma efeméride de grande significação para a nossa História. Minha singela homenagem já fiz: escrevi o livro “PORTO VELHO – 100 ANOS DE HISTÓRIA – 1907-2007” que trata da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e a Cidade de Porto Velho e registra o seu acervo material arquitetônico histórico, ambiente imprescindível ao equilíbrio e ao desenvolvimento cultural do homem.
Feitas estas considerações, cabe registrar a homenagem que a Câmara Municipal por meio de outdoor, reverencia os 100 anos de Porto Velho e o Seminário que a Fundação Cultural Iaripuna do Município de Porto Velho estará realizando em outubro próximo: “Um Século de História”, com a participação de membros do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia: Marco Antônio Domingues Teixeira, Abnael Machado de Lima, Yêdda Pinheiro Borzacov, Francisco Matias e Dante Ribeiro da Fonseca. Registro o evento que a Escola do Legislativo realizará em outubro próximo.
Outras instituições que deveriam estar comemorando os 100 anos de Porto Velho se encontram em uma mudez inexplicável, inclusive os parlamentares que deveriam registrar nos anais das Câmara e do Senado o centenário do surgimento do povoado que deu origem a capital de Rondônia. Estão calados, omissos. Saí em campo, vasculhei livros e documentos para comprovar a data tradicional e deixo registrado neste artigo o que encontrei sem desejar entrar em torneio histórico/intelectual. Inspirada no meu amor sincero a Porto Velho, cidade dos meus encantos, continuarei em busca de outras fontes reveladoras que elucidam a controvérsia.
Vamos todos juntos reverenciar os 100 anos de Porto Velho. Se não houver grandes festas convido a todos para declamarmos os versos do poeta e jornalista Carlos Mendonça (foi Prefeito de Porto Velho e diretor do jornal “Alto Madeira”), o seu encantador “POEMA DE TRABALHO EM PORTO VELHO”:
Encontrei no oeste/ afinal/ a minha procurada catedral!/ Milagre da floresta:/ – o homem aqui não se reveste/ dos instintos satânicos do mal!/ a natureza,/ perpetuamente em festa/ realiza estética beleza/ de uma estranha e bizarra liturgia,/ que ela oficia/ para o homem/ renovando a eterna fecundação universal!/ É imponente o ritual: – os pássaros cantam sinfonias,/ as feras uivam litanias,/ e os ventos dançam nos “pizicatos”.../ e os regatos/ murmuram/ aveludados sons de ave-marias.../ e os meus ouvidos ouvem/ as doces melodias/ das sonatas de Bethoven.../ seguidas de alegre canto-chão: – é a hóstia do sol/ na elevação sublime do arrebol!.../ E ao longo do “grotão”,/ na mais funda rechá,/ vibra no ar um “noturno” de Chopin”.../ No meio dessa orquestra/ há, porém uma vibração maior no seio da floresta:/ – a música das aves, emotiva,/ cessa, ao compasso fumegante da locomotiva/ (os poros das válvulas abertos em ânsias angustiadas/ para correr estradas,/ para vencer e encurtar distâncias...)/ – abrem-se na mata enormes roças claras,/ prontas para eclosão bendita das searas.../ – o collins do lenhador tomba dos troncos altaneiros/ para aplacar a fome das fornalhas.../ enquanto os seringueiros,/ (anônimos guerrilheiros, heróis de mil batalhas)/ rasgam caminhos profundos,/ da goma, cor de prata,/ no centro escuro da mata.../ Atravessa o planalto a rodovia,/ como uma fita vermelha.../ nos céus brilha e centelha/ veloz dos aviões.../ e pela encrespada via fluvial/ movimentam-se lanchas, barcaças, batelões,/ todo um grande arsenal/ de trabalho orientado,/ inteligentemente organizado,/ produzindo,/ conduzindo/ borracha para as rodas dos canhões.../ Dentro das oficinas/ há um rugir de notas argentinas:/ – a música rítmica dos malhos –/ tal como na floresta a sinfonia dos ninhos/ (o canto dos espertos passarinhos)/ pendurados nos galhos.../ e nas pontas metálicas dos trilhos,/ (como dois estribilhos do hino do trabalho)/ igrejas se levantam, erguem-se quartéis,/ escolas, hospitais,/ (projeta-se um novo cais,/ novos hotéis)/ – um sentido novo, um sério pensamento/ marcam rumos humanos ao saneamento.../ – cidades vão nascendo,/ vão crescendo,/ na febril gestação/ de uma forte e fecunda civilização.../ Encontrei na floresta,/ afinal,/ a minha perdida catedral!/ O trabalho é aqui a eterna festa/ Nacional!
Do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto de Pesquisa e Estudo Dr. Ary Tupinambá Penna Pinheiro e membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba.
MATÉRIA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO JORNAL ALTO MADEIRA DE 26/09/2007 - SEGUNDO CADERNO.

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