Quarta-feira, 21 de julho de 2010 - 09h03
Mais uma conquista
Muito melhor que uma Copa do Mundo de posse transitória foi a grande conquista deste 2010: a Conferência Nacional de Educação (Conae) aprovou a ampliação de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do País destinado à educação ao ano, de forma que se atinja o patamar de 7% do PIB em 2011 e 10% em 2014.
Se não dermos atenção a duas pulgas, uma atrás de cada orelha, podemos acionar as vuvuzelas e comemorar.
A primeira pulga está na data “tabu” em que se deu a aprovação da proposta: 1º de abril deste ano, data que lembra mentira e ditadura. A segunda, no fato de que os mais luminosos discursos e as mais maravilhosas decisões oficiais neste País raramente correspondem à prática ou se concretizam.
Se seguirmos os passos da Justiça, que pôs uma pedra definitiva sobre as torturas e assassinatos dos Anos de Chumbo, poderemos considerar tais mazelas coisas de um passado que não volta mais. Assim resolvido, caberia dar um crédito de confiança no mínimo à nossa própria capacidade de cobrar o cabal cumprimento da medida e festejar essa disposição como uma conquista mil vezes mais valiosa que qualquer Copa.
A proposta foi incluída pelo MEC no novo Plano Nacional de Educação (PNE), previsto para vigorar de 2011 a 2020, desde que devidamente aprovado pelo Congresso Nacional. Oficialmente, o Brasil investe 5,1% de seu PIB na educação, embora alguns provavelmente maus patriotas e catastrofistas acreditem que se apurar bem não passará muito de 4%.
Se mais uma vez afastarmos da mente viciada em passado e memória a teimosa presença do 1º de abril, acreditaremos piamente que, nos moldes do que foi decidido pelo Conae, a educação básica em tempo integral será uma realidade em todo o País até 2014, haverá garantia de oportunidades igualitárias para jovens deficientes, a valorização de profissionais e aumentos de salários. Além disso, outros pontos não menos sugestivos, como um aumento significativo da oferta de vagas nas creches e a democratização do ensino superior.
Como era coisa de 1º de abril, ninguém na conferência disse de onde iria sair o dinheiro. Mas, afinal, para que elegemos congressistas? Eles que descasquem o abacaxi.
Mas descasquem bem, com muito cuidado, para não atirar fora as partes suculentas da polpa juntamente com o descarte das cascas, uma vez que estamos diante de um desafio digno do famoso carcará da poesia, do qual não se pode fugir, desde que se fugir o bicho pega, se ficar o bicho come: não acertar desde logo a estrutura da educação vai significar para o Brasil uma humilhante reprovação na escola do desenvolvimento.
Fonte: Carlos Sperança - csperanca@enter-net.com.br
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