Segunda-feira, 17 de maio de 2010 - 20h13
O Instituto de Ciências Biomédicas 5 da Universidade de São Paulo, em parceria com a Faculdade São Lucas, realizou, na cidade de Monte Negro (RO), o II Workshop sobre Filarioses de Rondônia, reunindo os maiores especialistas no estudo das filarioses do Brasil e das Américas. Estavam presentes os Professores Doutores Gilberto Fontes (UFSJ e OPAS), Vitor Py-Daniel (INPA-OPAS), Jansen F. Medeiros (INPA e UEA), além dos professores da Faculdade São Lucas Sergio Basano (medicina), Rodolfo Korte (medicina), Janaína Vera (biomedicina) e o aluno de doutorado USP biólogo Guilherme Ogawa. Mais de 30 alunos dos cursos de biomedicina e biologia da FSL participaram do workshop, cujas atividades foram presididas pelo Professor Doutor Luís Marcelo Aranha Camargo, coordenador do curso de medicina da FSL, com apoio da FAPESP (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
As filarioses são doenças causadas por vermes, transmitidos por insetos ou crustáceos, que parasitam o ser humano e animais, causando uma infinidade de doenças, sendo que algumas ocorrem no Brasil, a exemplo da elefantíase, mansonelose e oncocercose. São doenças negligenciadas que acometem milhões de pessoas em todo o mundo, muitas delas pouco estudadas. Os três professores da Faculdade São Lucas e o biólogo Guilherme, que realizam pós-graduação sobre o assunto, expuseram os resultados de suas futuras teses de doutorado e mestrado. Os professores doutores, por sua vez, além da apresentação de dados inéditos, apreciaram e ajudaram a aprimorar as teses dos jovens pós-graduandos.
O Professor Doutor Vitor Daniel apresentou uma aula sobre a ocorrência de oncocercose (doença que pode causar cegueira) entre os índios Yanomami, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Ele enfatizou a falta de continuidade e fragmentação das ações de controle da endemia, além dos obstáculos operacionais para o tratamento dos índios. Por sua vez, o Professor Gilberto Fontes discorreu sobre o sucesso do programa de controle da filariose linfática (“elefantíase”) no Brasil. “Da década de 1950 até hoje, às duras custas, conseguiu-se restringir a transmissão da parasitose para uma área limitada ao estado de Pernambuco. Da mesma forma, apontou para o sucesso do controle da verminose nos países americanos, que hoje se limita ao Brasil, Haiti e Guiana”, salientou.
Representando o INPA, o Professor Jansen Medeiros apresentou dados sobre a ocorrência da Mansonella ozzardi, filariose que alcança prevalências absurdas da ordem de 80 a 90% em populações ribeirinhas amazônicas. Esta verminose é transmitida pela picada do pium e não se sabe ao certo a doença que causa. A Professora Janaína Vera, mestranda pela UNIR, apresentou resultados preliminares sobre uma nova técnica para diagnóstico de Mansonella ozzardi. Trata-se de uma técnica (chamada PCR) que detecta a presença de DNA do parasito no sangue do paciente. Os resultados são preliminares e apontam para uma sensibilidade da ordem de 99%. Este estudo é realizado em parceria com o Professor Almeida Casseb, da UNIR.
O Professor Rodolfo Korte, professora da FSL e doutorando pela USP, apresentou dados que indicam a não ocorrência de “elefantíase” em Rondônia. Estes dados são inéditos, uma vez que para o Ministério da Saúde, Rondônia era considerada uma “área silenciosa”, ou seja, que não havia informações epidemiológicas. Mais de 6 mil pessoas e mais de 7 mil mosquitos foram examinados em Porto Velho, Guajará Mirim e Humaitá, sem o encontro do parasito. O doutorando USP Guilherme Ogawa divulgou resultados que indicam a ocorrência de Dirofilaria immitis em 7% dos cães de Porto Velho. Esta parasitose nunca havia sido descrita no estado. O verme adulto pode prejudicar o funcionamento do coração do cão, levando à morte. Pode, também, infectar humanos, causando lesões no pulmão. Finalmente o Professor Sergio Basano, também docente da FSL e doutorando pela USP, apresentou dados inéditos sobre o uso da ivermectina para o tratamento da M. ozzardi. Esta parasitose ainda não tem um tratamento específico, em que pese sua alta prevalência e sua distribuição disseminada. Neste contexto, o ministério da saúde encomendou este ensaio clínico ao professor. Os resultados são promissores.
Fonte: Chagas Pereira
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