Sexta-feira, 8 de abril de 2022 - 12h10
Certa vez, escrevi sobre um político de Rondônia que
traiu todos os seus aliados dizendo que ele padecia da síndrome do escorpião,
citando a fábula em que o inseto pica o sapo o ajudava a atravessar o riacho. Todos
sabem que é da natureza do escorpião picar, ainda mesmo que isso lhe custe a
vida. O político não reagiu, mas um amigo chiou. Na coluna seguinte corrigi
trocando o escorpião pela traíra. A emenda ficou pior que o soneto e o meu
amigo que tomou as dores da figura ficou ainda mais irritado comigo. Paciência.
É da vida.
Estamos de novo em período de campanhas eleitorais quando
os políticos tentam sem sucesso gerar filhotes de tatu com cobra. Partidos quase
que iguais formados por gente comprometida mais com coisas que com causas,
ficam horas em conversas soturnas e acordos improváveis que duram o tempo exato
da ressaca alcóolica. Por óbvio sobram para tais acordos as traições. Interessante
é que isso se repete a cada dois anos e segue a lógica, a ordem e as leis criadas
e mantidas pelos próprios políticos que se alternam nos papéis de traídos e
traidores, e cito como exemplo a tal janela partidária, que legaliza a traição
político-eleitoral.
Depois de uma
vida inteira dedicada ao PFL, depois DEM, sendo íntimo de Bolsonaro, Rodrigo Maia
mudou de partido, indo para o PSDB, do Aécio, FHC e Alckmin. Este não amava
Lula, mas para se tornar o seu melhor amigo de infância e vice na sua chapa
lulopetista, saiu do PSDB dando lugar ao Maia que foi para o PSB de Eduardo
Campos que foi também adversário de Lula e Alckmin. Tudo é meio enrolado mesmo,
mas às vezes a coisa é mais complicada. Vejam o Moro, o juiz que condenou e trancafiou
Lula. Moro deixou a magistratura e entrou de cabeça no governo Bolsonaro, para
lutar contra a corrupção, como um dos três mais importantes ministros do
governo. 15 meses depois saiu do cargo atirando contra o chefe Bolsonaro e
sendo caçado pelo STF. Depois de passar um período nos EUA trabalhando para
alguns clientes que tinham relação com suas condenações durante a Operação
Lavajato, voltou ao Brasil com um discurso moralista de candidatura à
Presidência. Como a legislação eleitoral brasileira exige que todo candidato
esteja filiado a um partido, Moro entrou no Podemos, mas sua candidatura não
saiu do papel e de novo Moro abandonou o
barco, indo para o UB-União Brasil um novo partido formado pelo DEM e PSL que “devotam
um ódio ao PT e a Lula”, mas que mantém um canal aberto com o PL, atual partido
do Bolsonaro, que é chefiado por Valdemar da Costa Neto, o manda chuva do “Centrão”,
que era amado por Lula e odiado por Bolsonaro. É um rolo de cobra.
Apenas para citar algo aqui do nosso quintal, o PDT
que sempre apostou em “pratas da casa” dançou. Esta é a terceira grande
rasteira que o partido leva e todas as vezes aplicadas por três oriundo de
Ji-Paraná, todos ligados por laços afetivos e empregatícios ao forte grupo empresarial
que comanda o PDT no estado e que atua em várias frentes, em Rondônia e noutros
estados, inclusive na área de comunicação, de onde surgiram os três escorpiões.
Quem viu de perto o desenrolar dos fatos nos últimos dias em que estava aberta
a janela para a mudança partidária revela que a aplicação da rasteira final foi
de uma crueldade sem igual.
Falar de traição eleitoral me traz à mente três grandes
figuras. Tancredo Neves ria do voto secreto quando estava no Congresso e
surgiam matérias polêmicas para votação “na urna dá uma vontade danada de trair”.
Augusto do Anjos falou de traição no poema “Versos Íntimos” com uma lição ao
traído “a mão que afaga é a mesma que apedreja” e outra ao traidor: “Acostuma-te
à lama que te espera!”. A terceira figura, criador do PDT, Leonel Brizola ensinou
uma verdade perene: “A política ama a
traição e odeia o traidor”.
As traições desta atual quadra eleitoral só
começaram a ser reveladas, mas há muito mais vindo por aí. Uma vez traidor, sempre traidor. 2000 anos e
Judas continua sendo para o mundo cristão o símbolo máximo da traição. 200 anos
depois e Joaquim Silvério dos Reis continua sendo o traidor da Inconfidência
Mineira.
Contato - leoladeia@hotmail.com
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