Terça-feira, 26 de junho de 2018 - 09h19
Rede Brasil Atual - O Pacote do Veneno foi aprovado nesta segunda-feira (25), por 18 votos a 9, na comissão especial criada para analisar os 29 projetos de lei apensados ao PL 6.299/02, que revoga a atual Lei dos Agrotóxicos. A votação ocorreu em sessão tumultuada, iniciada com mais de duas horas de atraso, com acesso proibido da população e até de assessores parlamentares. O argumento da presidenta da comissão, a ruralista Tereza Cristina (DEM-MS), foi a segurança.
O substitutivo do relator Luiz Nishimori (PR-PR), também integrante da bancada ruralista, foi votado depois de mais de três horas de obstruções e requerimentos apresentados por deputados do PT, PCdoB, Psol e PSB, na tentativa de retirada do substitutivo até que fossem realizados mais debates. Tensa do início ao fim, a sessão teve bate-boca e provocações por parte dos ruralistas em diversas ocasiões.
Entre as principais mudanças propostas estão o registro e a autorização temporária. Ou seja, se em 24 meses o pedido de um novo agrotóxico não tiver sido analisado e aprovado no país, o produto poderá ser usado desde que tenha sido aprovado em outros países. Isso causa grande preocupação de especialistas, porque entre essas substâncias podem estar aquelas com ingredientes causadores de câncer, malformações e outras alterações graves – o que é proibido pela atual legislação.
"Não há marqueteiro que resolva. Como dizer na TV que o agro é pop, é tech, e aqui se aprova liberação de substâncias que causam câncer, malformações, que causam danos ambientais? Por favor, leiam as notas técnicas do Inca, da Fiocruz... Por favor", Alessandro Molon (PSB-RJ)
Outra mudança com o pacote é a criação de uma comissão formada por nomes indicados pelo Ministério da Agricultura para acelerar o processo de registro. A princípio essa comissão seria chamada de Comissão Técnica Nacional de Fitossanitários (CTNFito), a exemplo do que já acontece com os transgênicos, aprovados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Mas o relator mudou a nomenclatura "fitossanitários" para "pesticidas", sendo que a Constituição brasileira estabelece agrotóxico.
Isso é preocupante por causa da falta de rigor na CTNBio, que aprova pedidos de novos organismos geneticamente modificados mesmo sem a apresentação de testes de segurança à saúde e ao meio ambiente. Além disso, tira a Anvisa e o Ibama do processo de avaliação e reavaliação dos agrotóxicos – o que os defensores do pacote negam. Na prática, esses órgãos passam a ter papel de homologar a decisão que será do Ministério da Agricultura.
Inconstitucional
O PL 3.299 é de autoria do atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT) e foi aprovado no Senado em 2002, período em que ocupava assento na Casa. Praticamente inalterado no substitutivo, a proposta de Maggi, que é o maior produtor de soja do Brasil, é durante combatido pelo Ministério Público Federal por reunir uma série de inconstitucionalidades.
"O pacote é inconstitucional, privilegia o lucro do veneno e permite até o uso sem aprovação", Bohn Gass (PT-RS)
Entre as inconstitucionalidades apontadas estão a extinção da competência dos municípios de legislar sobre o uso e o armazenamento local dos agrotóxicos, seus componentes e afins; o dever de adoção, pelo poder público, de políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doenças, à proibição de registro de produtos compostos por substâncias causadoras de malformações congênitas, câncer ou que provoquem distúrbios hormonais ou danos ao sistema reprodutivo. O registro de substâncias com estas características passa a ser legal se o substitutivo for aprovado.
MPF aponta série de inconstitucionalidades no 'Pacote do Veneno'
A decisão da maioria da comissão, composta por ruralistas que argumentam somente a necessidade de mais rapidez na aprovação de "produtos mais modernos, já que no Brasil a liberação demora de 8 a 10 anos", contraria recomendações de cinco relatores da Organização das Nações Unidas (ONU), que enviou carta de alerta ao governo brasileiro. Para os relatores, o pacote ameaça direitos fundamentais do povo brasileiro, como os direitos à saúde, ao alimento e água segura e ao meio ambiente equilibrado.
"Esse jogo não acaba aqui. Muita água vai passar por debaixo dessa ponte", Julio Delgado (PSB-MG)
Entidades nacionais de renome internacional, como o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculados ao Ministério da Saúde, também publicaram nota de advertência. São contrários também a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ibama, o Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho, as maiores instâncias do controle social na área de saúde, meio ambiente, nutrição e direitos humanos e os cientistas brasileiros, por meio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entre mais de 270 entidades, associações e coletivos.
Esse projeto é nocivo ao interesse nacional, será repudiado pela sociedade", Ivan Valente (Psol-SP)
Entre todas elas, há um consenso: o pacote vai aumentar a utilização de agrotóxicos no país, que é o maior consumidor mundial desses produtos desde 2008. E com isso haverá muito mais casos de contaminação ambiental, intoxicação dos trabalhadores na agricultura e das fábricas desses produtos e comida com muito mais veneno na mesa daqueles que não podem comprar alimentos orgânicos.
Saiba por que o Pacote do Veneno é ruim para o Brasil
Se o mundo está banindo esses produtos, quem vai comprar a produção?...
Subnotificação de casos de intoxicação por agrotóxicos em Rondônia é grave, alerta Agevisa
Em Rondônia, o agrotóxico é o primeiro na lista de intoxicações exógenas nas zonas urbana e rural....
Brasil lidera uso de agrotóxicos que matam 184 por ano; governo incentiva
Principal consumidor de agrotóxicos do planeta, representando 20% do total mundial, o Brasil tem uma estatística igualmente sombria: 184 mortes por an...
“Pacote do veneno” transforma o Brasil em latrina ambiental
Leio que a votação do chamado “Pacote do Veneno” que está sendo capitaneado pelo deputado Luiz Nishimori (PR do Paraná) acaba de ser adiada. ...
Brasil perde R$ 1,3 bi com isenção a agrotóxicos
Por Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual - Só em 2017, as indústrias de agrotóxicos movimentaram cerca de R$ 30 bilhões, conforme o próprio setor. E ...
Agrotóxico é o poder - Por Vinício Martinez
Agrotóxico é o maior negócio, depois dos bancos e das drogas, deste país. Seu poder é tão grande que colonizou o Ministério da Justiça do governo Te...
Pulverização aérea de agrotóxico provoca danos persistentes, dizem especialistas
Edwirges Nogueira – Repórter da Agência Brasil Em 2006, uma nuvem tóxica oriunda da pulverização aérea em plantações de soja chegou à área urbana e pr...
Rondônia é líder em controle de desmatamento na Amazônia Legal, destaca Ministério do Meio Ambiente
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, do Governo Federal, publicou nesta semana levantamento que mostra os índices de desmatamento em to
Operação “Silentium et Pax” do Batalhão de Polícia Ambiental reprime poluição sonora em Porto Velho
Em uma ação estratégica para garantir o sossego e a qualidade de vida da população, o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) deu andamento à Operação “
Cremero implanta práticas internas entre colaboradores para incentivar a sustentabilidade
Como órgão público, é dever garantir que as atividades e decisões impactem positivamente a sociedade e o meio ambiente. Esta é uma das premissas que
Porto de Porto Velho faz reconhecimento de pontos críticos no Rio Madeira
Com o objetivo de fazer o reconhecimento visual de pontos críticos do Rio Madeira, a diretoria do da Sociedade de Portos e Hidrovias do Estado de Ro