Terça-feira, 2 de maio de 2017 - 13h06
Agrotóxico é o maior negócio, depois dos bancos e das drogas, deste país. Seu poder é tão grande que colonizou o Ministério da Justiça do governo Temer. Prova disso é que, em 55 dias, o agronegócio foi recebido 100 vezes pelo ministro Osmar Serraglio (PMDB) e os indígenas ficaram no zero[1]. Isso mesmo, zero foi a atenção dada pelo governo Temer aos povos tradicionais do Brasil. Além dos ruralistas, o ministro recebeu vários investigados pela Operação Lava Jato.
Concomitantemente, no Maranhão – de José Sarney e Roseana Sarney –, no Dia do Trabalhador, jagunços e pistoleiros alugados fuzilaram indígenas que se deslocavam entre áreas requeridas. Não bastasse a atrocidade patrocinada pelo coronelismo do agronegócio – que também atende na Bancada BBB (Boi, Bala, Bíblia) –, a Polícia Militar, presente na cena, assistiu quando alguns dos capitães do mato cortaram as mãos de um indígena já baleado. A PM assistiu como quem vê um filme de terror: Jason.
Para quem não sabe, esse tipo de agronegócio – uma herança da monocultura – não gera trabalho. Pode render muita riqueza a seus donos, mas o trabalho patrocinado é insignificante. Além dos crimes ambientais cometidos – e são de todo tipo –, o agronegócio é informatizado e mecanizado. Portanto, a geração e o emprego de mão de obra são praticamente nulos. É evidente, para este governo, que a produção agrícola familiar é um péssimo negócio.
No que acompanha os índices de assistência e proteção dada aos povos indígenas, ou seja, zero de responsabilidade social e ambiental. Por sua vez, é mais do que curioso que a Bancada BBB não tenha os cofres investigados – como as empreiteiras – na Lava Jato. Por que será que os Senhores de Engenho passam incólumes? Outro setor que só agora vai receber uma pequena visita é o Judiciário. E são apenas dois ministros do STJ.
Este conjunto – no topo do triunvirato que coordena a cúpula dos três poderes – é resultante e alimenta o nato-fascismo nacional em 2017. Pela longevidade dessa aristocracia branca – decisiva nos rastros da Colonização escravista –, é fácil concluir que se impregnou como naturalização fascista: algo esperado, promovido pelo “assim deve ser”. O nato-fascismo segue o “curso natural das coisas”, tanto quanto aniquila a natureza e seus povos em favor da supremacia branca, rica e envelhecida.
De certa forma, este processo foi legitimado pela CF/88, ao prescrever em seu artigo 225, § 4º, que apenas a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira seriam considerados patrimônios nacionais. Com esta prescrição foram suprimidos da Constituição o Cerrado, a Caatinga, os manguezais e os pampas. O primeiro é o cerne da monocultura já poluente dos aquíferos, o segundo alimenta a indústria da seca e os dois últimos avançam em processo de desequilíbrio total. O último é refém da agropecuária extensiva e encara a desertificação, do mesmo modo que a Caatinga.
Por fim, somente para os desavisados, debater isto em sala de aula poderá se tornar “crime de consciência”, sob o mandamento igualmente fascista do Projeto Escola Sem Partido (ou sem noção da realidade). Mas, enquanto não é, sigo ensinando meus alunos como o fascismo sempre foi o melhor negócio da aristocracia branca, rica e envelhecida na idade e nas ideias.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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