Terça-feira, 4 de agosto de 2015 - 20h02
Maurício Costa Romão
As pesquisas nacionais de avaliação da administração da presidente Dilma Rousseff, têm detectado declínio persistente do índice de aprovação ao governo (popularidade), medido pela soma dos percentuais de ótimo e bom. Essa queda de aprovação se espraia por todas as classes socioeconômicas e geográficas, tais como sexo, escolaridade, renda, idade, região, natureza do município, etc.
Dentre essas classes merece destaque a que compreende o conjunto das famílias que ganha de 2 a 5 salários mínimos (Datafolha). Neste contingente se encontram, grosso modo, 40% das famílias brasileiras, toda a classe D e parte da classe C, bem como boa parte da decantada “nova classe média”.
Essas famílias foram, provavelmente, as mais beneficiadas pelo processo de transferência de renda dos governos Lula 1 e 2, e de Dilma 1, sustentado no crédito subsidiado e nos recursos destinados aos programas sociais. Tal política permitiu acesso desses núcleos familiares a bens de consumo duráveis e a certos serviços, antes inacessíveis, promovendo-se aí uma expressiva mobilidade econômica.
Em meio à euforia consumista a presidente Dilma, eleita com folga em 2010, substituiu a prudência de manejo fiscal e monetário do período Palocci-Meirelles pela intensificação do populismo fiscal, com ênfase na expansão do crédito ofertado pelos bancos estatais a juros baixos. O consumo passa a ser o motor do crescimento.
Ao cabo dos dois primeiros anos de governo, a presidente desfrutava de elevado conceito e exibia então ponderáveis índices de aprovação, mas aquele clima de confiança e entusiasmo do período lulista havia desaparecido.
O descontrole fiscal e monetário, o baixo crescimento do nível de atividade, a inflação beirando o teto da meta, o crescente endividamento das famílias, o dólar em trajetória de alta, a ausência de mobilidade urbana, os problemas nos serviços básicos, etc., davam o pano de fundo a um novo ambiente que se formava, pleno de inquietações, ainda recônditas.
O choque de realidade veio com as manifestações de junho de 2013, no decorrer das quais a população saiu do armário e externou suas insatisfações com o status quo, exigindo mudanças nas ações do governo, combate à corrupção, novas práticas políticas, e serviços públicos de qualidade.
A popularidade de Dilma sofreu, então, seu primeiro grande abalo em conseqüência daquelas insurgências das ruas físicas, expandidas nas ruas virtuais.
Através de desconstrução das candidaturas concorrentes, falseamento da realidade e propaganda enganosa, a presidente ganhou o pleito, mas as insatisfações que motivaram as inquietudes do ano anterior permaneciam latentes e foram agravadas pelos anúncios da mandatária de medidas que contradisseram praticamente tudo o que afirmara em campanha.
Sem credibilidade, a popularidade da presidente atinge seus níveis mais baixos, principalmente no seio do estrato de 2 a 5 SM. Quais as razões das avaliações mais severas deste estrato? Dentre as possíveis respostas, algumas podem ser brevemente aventadas:
Primeiro, os avanços das políticas públicas se desaceleraram, frustrando as aspirações do grupo, que esperava continuar galgando patamares mais elevados de acesso a bens e serviços. Ademais, essas famílias sofrem pesadamente os efeitos da política econômica do governo: disparada no custo de vida, renda real em queda, endividamento recorde e desemprego em alta. Tudo isso circundado por serviços públicos de péssima qualidade.
Segundo, o núcleo se deu conta de que havia tido mobilidade econômica, mas não mobilidade social. Esta, só se configura com acesso a serviços públicos de qualidade. Como disse Mauro Paulino, do Datafolha: a nova classe média é “bem servida em crediários e mal servida em cidadania”.
Terceiro, por conta de mudanças no perfil da demanda dessas famílias devido à melhoria da escolaridade, aumento de renda média e maior capacidade de consumo, as políticas sociais perderam importância relativamente aos aspectos econômicos, conforme observou o cientista político Alberto Carlos Almeida.
Como resultante, os “patrocinadores” de tais políticas são menos reverenciados hoje do que foram no passado, significando que o famoso “legado de 12 anos do PT”, tão alardeado pelos seus adeptos, só encontrará eco nessas famílias se houver, no mínimo, manutenção das conquistas econômicas.
Quarto, assim como se dá no resto da sociedade, a sensação do grupo, espremido em meio a várias crises simultâneas, é de incerteza e desesperança. O governo, emparedado, perdeu protagonismo para os demais poderes e se tornou incapaz de sinalizar saídas para a retomada da normalidade.
Não sem razão, pois, que ao atribuir notas baixíssimas de avaliação à presidente Dilma Roussef, a nova classe média nada mais faz do que externalizar o seu protesto com o fato de que as conquistas duramente amealhadas ao longo de anos estão sendo rapidamente dissipadas na atual administração petista.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Cenário Inteligência e do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br
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