Domingo, 19 de junho de 2016 - 18h58
Observo uma crescente preocupação, particularmente de nossos meios de comunicação, em questionar se o planeta tem recursos e capacidade para alimentar sua população, que cresce ano após ano.
Há muita falácia e boa dose de paranoia sobre o assunto e vejo muito neófitos, tecendo considerações assaz preocupantes sobre tão palpitante tema.
Mas o fato concreto é que a humanidade está vivendo com celeiros e lagares abarrotados. Como nunca em outros tempos! E, se há fome em algumas regiões do planeta é por pura ganância do homem.
Sou agrônomo, e este ano completarei quarenta e quatro anos de formado. Para mim, o planeta tem sim recursos naturais suficientes; e o homem contemporâneo domina tecnologia, e tem capacitação para produzir alimentos em quantidade suficiente para atender à demanda, para pelo menos, o dobro de nossa população atual. E sem derrubar florestas, e sem comprometer a natureza e nosso meio ambiente.
Analisemos especificamente nosso país continente. Apenas nas áreas de cerrado, a maioria destas terras continua do jeito de desde sempre, e só aí há potencial de produção de 200 milhões de toneladas de grãos por ano. Mais que nossa atual produção de 205 milhões de toneladas, e esta terra está toda aí, disponível e improdutiva. Um solo quase estéril, árido, difícil e trabalhoso, mas ávido de cuidados, de correção de sua acidez, incorporação de alguns nutrientes, e principalmente de água.
Neste ponto, tenho que recordar Israel. Este país tem o tamanho de Sergipe e população de seis milhões de pessoas.É a única democracia do oriente médio, e o único país na região onde os direitos do homem e da mulher são iguais. Em Israel há um povo dedicado e estudioso. Ali está a população com o maior percentual de diplomas universitários do mundo. EDUCAÇÃO muda tudo!
O povo judeu transformou imensas áreas desérticas em oásis de alta produtividade agrícola e pecuária. Dominou a tecnologia de levar água ao pé das plantas (sistema gota a gota), e possui em seu território, mais árvores hoje, do que há cinquenta anos atrás.
O segredo? Tecnologia e Trabalho!
Tiram renda, geram riquezas e melhoram significativamente o solo que cultivam!
Então, apenas domando as áreas de cerrado brasileiro, (sei que isso exige investimento pesado e trabalho árduo, mas os exemplos estão aí), podemos mais que dobrar nossa produção.
Mas, conta na ponta do lápis, é rápido constatar que a produtividade brasileira não alcança 2600 kg de grãos por hectare por ano. Ora, com tecnologia adequada a TODOS nossos produtores rurais é perfeitamente exequível alcançar o triplo desta produtividade. O TRIPLO!
Nós precisamos dotar quem produz e/ou transforma, com recursos financeiros (crédito), e com tecnologia (há milhares de técnicos e agrônomos e veterinários e zootecnistas e engenheiros agrícolas, fazendo serviços burocráticos em escritórios do estado, ao invés de estarem junto aos ruralistas). Precisamos mudar o sistema e colocar foco no relevante! Arregaçar as mangas e suar a camisa, sempre ajuda!
E ressalto que faz muito tempo que não aparece NINGUÉM com competência, no Ministério de Agricultura e Abastecimento. É mais do que hora de parar de sortear cargos...
Precisamos colocar dinheiro em nossa caótica infraestrutura e onde há volume de produção; e não em consumo porque nosso povo está pra lá de endividado. Veja, mês após mês, a taxa de inadimplência bate recordes. A informação é do próprio Banco Central, não é deste humilde escriba!
Com relação à produção de carne bovina, o caminho a percorrer é longo. Estamos com pouco mais de 200 milhões de cabeças ocupando 200 milhões de hectares de pastagens, (dos quais –pasmem-, 90 milhões degradados por erosão ou ervas invasoras). Estamos com um boi por hectare. Dá para multiplicar por três o nosso rebanho, sem aumentar um metro quadrado de pasto. Mas, é preciso orientar o produtor, dar-lhe crédito e assistência técnica.
Cuidá-lo, porque o ruralista precisa ser visto como fonte de riquezas, e não como um mero pagador de impostos. Garantir-lhe crédito a juros exequíveis porque com dinheiro ele aumentará suas lavouras e seus rebanhos.
Pecuária intensiva, com capins de alta performance permitem cinco bois por hectare, e boi criado apenas a pasto, reservando o milho e a soja para outras finalidades mais compensadoras. Para fins mais nobres.
Quem trabalha com agropecuária e tem um pouco de noção das tecnologias existentes, sabe que podemos triplicar nossa produção de carnes e de grãos, sem devastar ou derrubar uma árvore sequer. Isso vale para o nosso querido Brasil e para alguns países desta aeronave chamada TERRA.
Os alarmistas de plantão podem dormir tranquilos. E de barriguinha cheia! Glória a DEUS!
Curitiba, 18 de junho de 2016
João Antonio Pagliosa
-Engenheiro Agrônomo-
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