Terça-feira, 10 de dezembro de 2024 - 15h35
Com as provas do Enem e da Fuvest
sendo realizadas nessa época, fiquei pensando na desafiadora tarefa de escolher
uma profissão pelos jovens. Esse momento, que pode parecer uma mera etapa
acadêmica, representa um dos marcos mais significativos na vida de um
adolescente, carregando consigo não apenas expectativas pessoais, mas também
influências familiares e sociais.
Historicamente, a trajetória profissional dos jovens
era frequentemente delineada pela continuidade de ofícios familiares, onde
filhos seguiam os passos de pais e avós, perpetuando tradições e valores.
Alguns encontravam satisfação e realização em seus papéis, enquanto outros se
viam presos em caminhos que não desejavam trilhar. Ao refletirmos sobre o
presente, é pertinente questionar até que ponto essas dinâmicas se
transformaram.
De fato, ainda observamos muitos jovens herdando
profissões de seus pais, como médicos, engenheiros, advogados e professores.
Essa continuidade sugere que, embora o contexto social tenha mudado, as
pressões e expectativas familiares ainda desempenham um papel crucial na
escolha profissional.
De acordo com uma pesquisa do LinkedIn realizada em 2019, os pais ainda estão entre as maiores influências na vida de uma pessoa na hora de escolher a carreira. Cerca de 26% dos respondentes confirmaram o peso da família sobre essa decisão.
A complexidade desse processo se torna ainda mais evidente quando consideramos a maturidade emocional e cognitiva dos adolescentes. Eles se veem diante de uma decisão vital em um momento em que estão ainda em fase de autodescoberta, frequentemente enfrentando crises de identidade.
Adicionalmente, fatores econômicos, culturais e sociais influenciam diretamente as possibilidades que cada jovem possui, criando uma rede de desigualdades que perdura ao longo das gerações. Aqueles que crescem em contextos de carência enfrentam barreiras significativas na construção de suas carreiras, enquanto jovens de famílias abastadas desfrutam de oportunidades que lhes proporcionam uma visão de mundo mais ampla e globalizada.
O contraste entre as gerações também é evidente. Enquanto os jovens de hoje têm acesso a uma educação bilíngue e oportunidades internacionais, as gerações passadas eram limitadas às realidades locais, muitas vezes buscando formação fora do país apenas para retornar com um status social elevado. Atualmente, as fronteiras parecem ter desaparecido; a comunicação global é parte do cotidiano, mas isso também traz novos desafios e expectativas.
Outra pesquisa sobre escolha de profissão foi realizada pela Universidade Anhembi Morumbi, entre os meses de fevereiro e abril deste ano, com 18.477 alunos do 3º ano do ensino médio na cidade de São Paulo que revelou que 59% desses estudantes já escolheram a carreira que querem seguir – nas escolas públicas, o índice chega a 63%. Entre aqueles que já estão decididos, contudo, menos da metade (46%) revelou ter mantido algum contato com a profissão escolhida. O estudo aponta ainda que 27% de todos os estudantes têm dúvidas sobre o mercado de trabalho.
O sistema educacional brasileiro, ao forçar decisões profissionais em uma fase tão prematura, pode agravar essa crise de identidade. Os adolescentes precisam não apenas escolher uma carreira, mas também compreender as expectativas que suas famílias têm sobre eles. Essa pressão pode resultar em escolhas que não refletem suas verdadeiras paixões e interesses. Por isso, o autoconhecimento torna-se essencial.
É fundamental que os jovens explorem suas
habilidades, interesses e valores antes de se comprometerem com uma trajetória
profissional.
Fato este, que é comprovado por um levantamento feito
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), do Ministério
da Educação, de 2019, que apontou que 59% dos alunos desistem de seus cursos ao
ingressarem na faculdade.
A influência familiar, embora inegável, pode ser um fator de dupla face. Pais que projetam suas frustrações em seus filhos podem criar um ambiente de pressão que dificulta a escolha autêntica da profissão. A história é repleta de exemplos de filhos que seguem carreiras que não desejam, motivados por sonhos alheios. Portanto, criar um espaço onde os jovens possam separar suas aspirações pessoais das expectativas familiares é crucial para uma escolha mais consciente e gratificante.
Em um mundo onde as opções profissionais se multiplicaram, a pesquisa e a busca de informações sobre diversas carreiras são imprescindíveis. Conversar com profissionais da área e vivenciar experiências práticas podem oferecer uma visão realista e valiosa, ajudando na formação de decisões mais fundamentadas e alinhadas ao que realmente desejam.
Se, mesmo com todo esse suporte, a escolha ainda parecer opressiva, buscar a orientação de profissionais especializados em desenvolvimento de carreira pode ser uma alternativa eficaz. Esses serviços não apenas oferecem clareza, mas também proporcionam um espaço seguro para que os jovens possam refletir sobre suas escolhas, um presente valioso que os pais podem oferecer.
Por fim, em uma sociedade que valoriza cada vez mais
o trabalho como um aspecto central da vida, é fundamental que as escolhas
profissionais sejam feitas com um olhar atento ao propósito e à satisfação
pessoal. Afinal, as decisões que tomamos nessa fase moldarão não apenas a
carreira, mas também a qualidade de vida que levarão por muitos anos. A escolha
da profissão deve ser, portanto, um passo consciente rumo a uma vida
significativa e plena.
*por Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria
da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela
Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site
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