Terça-feira, 8 de outubro de 2024 - 10h43
Em um ambiente de saudável e acirrada
concorrência o diferencial é ter um compromisso inegociável com a qualidade e o
investimento contínuo no desenvolvimento e aperfeiçoamento de soluções
técnicas. Neste ambiente empresas inovadoras ficam pesquisando, às vezes,
por longos anos, para só depois investirem no desenvolvimento de um produto.
Neste cenário, as empresas de distribuição de
energia declaram grande preocupação com a eficiência de suas redes elétricas,
mas então por que razão instalam produtos de tecnologia ultrapassada e produtos
com padrões de similaridade, porém de qualidade e desempenhos diferentes? Será
que esta busca para se ter um ambiente de concorrência e buscar redução de
custos não é o barato que sai caro? Na análise comparativa do OPEX anual está
havendo uma redução com esta política? É certo que há outros fatores que
incidem sobre este indicador, as severas condições climáticas é uma delas, mas
resguardando-se este fator há de fato uma redução? Além de uma reflexão, uma
análise mais detalhada pode surpreender e demonstrar algo que não se quer ver.
O mesmo raciocínio se aplica as usinas
solares ao escolher um produto não certificado e muitas vezes sem procedência e
provocar sérios efeitos colaterais. Há “cópias” que durante seu processo de
manufatura não tem um mínimo de padrão de qualidade, utilizam-se materiais
“similares”, mas de baixa qualidade e que não atendem requisitos mínimos de
desempenho e segurança e o resultado são prejuízos com retrabalhos e muitas
consequências negativas. Não se pode comprar um carro e trocar aleatoriamente o
tamanho das rodas sem que haja consequências no seu uso. Ocorre o mesmo no
sistema elétrico.
É bom ressaltar que em caso de falhas técnicas,
antes do ressarcimento a seguradora de um parque solar vai investigar se a
queima de uma placa fotovoltaica foi pela falta de qualidade de um conector não
certificado. Quando um conector tem certificação, além da proteção natural, o
segurado paga um valor mais baixo da apólice, então por que comprar
dispositivos não certificados? O cliente pretende economizar no conector ou no
seguro? Qual o custo de uma usina parada e não produzindo? O conector mais
barato vale este custo?
No setor elétrico brasileiro, a pirataria de
equipamentos e componentes elétricos têm sido um sério problema. Além dos
conectores, há falsificação de produtos como conectores, disjuntores, cabos e
outros vários componentes. Por essa razão, tanto a indústria do setor elétrico
precisa investir mais em proteção da propriedade intelectual como os
consumidores precisam aumentar sua consciência em relação à importância de
comprar apenas produtos originais.
Quando há um projeto de uma peça produzida em
um tipo de metal para o contato elétrico, esta é uma decisão técnica sobre
medida, tecnológica e científica, e este pequeno detalhe pode ser um divisor,
entre uma resposta final extremamente satisfatória ou não. No caso do conector
com o metal impróprio mal dimensionado ou de baixa qualidade para sua
destinação, o item já nasce com uma deficiência técnica natural.
A utilização de produtos genuínos na área
elétrica é de fundamental importância para garantir segurança, eficiência e
durabilidade das instalações elétricas. Ao optar por produtos originais, o
usuário estará investindo em um sistema elétrico mais confiável, seguro e no
bom funcionamento dele como um todo. Também protegerá pessoas, bens e muitas
vezes o próprio meio ambiente.
A escolha pelo gadget genuíno pode
também direcionar naturalmente para uma ‘certificação de qualidade’, demonstra
sobretudo ao mercado nacional ou internacional que a indústria segue padrões de
excelência e por isso tem um diferencial de mercado, que é seu comprometimento
com padrões de qualidade, cuidado ambiental, e até com a saúde ocupacional e
segurança do trabalho. Ela atesta também o comprometimento com a progresso
contínuo e a satisfação do cliente.
Diversos acidentes já ocorreram, alguns com
gravidade, envolvendo o uso de produtos elétricos similares e/ou pirateados. A
utilização de componentes e equipamentos elétricos similares, falsificados e
não originais representam sempre a possibilidade de risco à segurança de
trabalhadores e instalações. Os dispositivos “copiados” e/ou pirateados muitas
vezes não passam por testes de qualidade rigorosos e por vezes mascaram testes,
o que invariavelmente resultam em produtos de baixa qualidade, peças
defeituosas e isolamento inadequado. Como não atendem também às normas técnicas
e de segurança, aumenta a chance de incêndios e descargas elétricas.
Em geral os produtos pirateados não possuem ‘termo
de garantia’ do fabricante contra defeitos de fabricação, o que
deixa o comprador desamparado em caso de problemas técnicos. Como são uma cópia
grosseira de produtos originais podem resultar num produto anômalo, com
componentes que não se encaixam corretamente ou que sobrecarregam o sistema
elétrico.
Todos os produtos originais são projetados para
funcionar com maior eficiência energética, ajudando a reduzir o consumo de
energia e os custos operacionais ao longo dos anos. As cópias e os pirateados,
por sua vez, podem ainda danificar outros equipamentos conectados à rede
elétrica, gerando custos adicionais com reparos e substituições.
Os modelos falseados têm boa chance de produzir
avarias permanentes a outros componentes ou sistemas, especialmente em
instalações complexas. As “cópias” e os “piratas” podem resultar em despesas
pesadas de reparo ou até na substituição total dos dispositivos. Embora
produtos originais possam ter um custo inicial mais alto, sempre proporcionam
melhor desempenho e durabilidade, porque evitam substituições frequentes e
consertos, o que a longo prazo gera economia.
Há players do mercado eletroeletrônico
que podem entender que copiar e piratear seja uma ‘forma natural’
de engenharia reversa ou retroengenharia ‘informal’.
Esse pensamento está absolutamente errado, e pode ser usado até por má fé. De
acordo com especialistas, a engenharia reversa é o processo que
analisa um produto para entender como é seu funcionamento, com o objetivo de
criar um produto semelhante ou compatível. Já a “cópia” mal feita com adoção de
materiais similares para sua fabricação e a pirataria consiste na
produção de uma cópia ou reprodução não autorizada de um produto patenteado,
registrado no INPI, com o objetivo de comercializá-lo ilegalmente.
O fato é que a engenharia reversa legal e
a pirataria ilegal podem ter uma linha tênue entre elas,
principalmente quando se trata de produtos complexos como são os
eletroeletrônicos, mas a legislação vigente tem que ser regiamente cumprida,
sem falsas interpretações. Neste cenário até o abuso da informação, ou seja, o
levantamento exagerado de elementos e dados para serem aproveitados na
fabricação de produtos são também uma prática ilícita, segundo especialistas do
setor jurídico.
O estudo Piracy in electrical and electronic
products - Anti-counterfeiting best practice and strategies – (Pirataria em
produtos elétricos e eletrônicos - Melhores práticas e estratégias
antifalsificação) publicado pela International Electrotechnical Commission (Comissão
Internacional Eletrotécnica) revelou há 10 anos que os produtos elétricos e
eletrônicos falsificados ocupavam o segundo lugar em produtos falsificados só
abaixo dos produtos farmacêuticos. “De componentes como conectores, fusíveis,
cabos e disjuntores a equipamentos domésticos, ferramentas de trabalho
profissionais e peças de reposição automotivas e aviação, nada está salvo da
falsificação”. Portanto, todos temos que fazer nossa parte.
* Marcelo Mendes é gerente geral da KRJ Conexões ( https://krj.com.br/ ). É economista e
executivo de marketing e vendas do setor eletroeletrônico há mais de 15 anos,
com atuação inclusive em vários mercados internacionais.
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