Sábado, 10 de agosto de 2019 - 11h02
Sou advogado. Meu partido é a OAB, minha cartilha é a Constituição,
minha bandeira é a do Brasil e meu ideal é democrático. Por isso comemoro, com
justificável satisfação e incontido orgulho, a data de 11 de agosto, Dia da
Advocacia, sendo importante estender as comemorações por todo o mês de agosto.
Tenho honra de ser advogado. Orgulho por trabalhar
na mesma profissão de tantos nomes ilustres, que a história registra com
louvor, tamanha a sua contribuição para a construção, desenvolvimento e
consolidação desta imensa e generosa nação.
Sinto-me especialmente orgulhoso em pertencer à
mesma profissão em que figuram tantos heróis nacional e até internacionalmente
reconhecidos. E tantos outros, anônimos, que constroem o próprio heroísmo na
luta diária pela justiça.
Não importa se com a estatura de Ruy Barbosa, para
quem a advogada, o advogado, são os primeiros juízes da causa, já que quando
analisam o caso posto pelo cidadão que se sente injustiçado, conferem o
tratamento adequado acerca da viabilidade fática e jurídica da pretensão ali
então resistida.
Ou do tamanho do então presidente da OAB, Raymundo
Faoro, "O herói da redemocratização". Foi a ele que Geisel recorreu,
pelas vozes de Golbery do Couto e Silva e Petrônio Portela, também advogado,
para pedir o apoio da OAB como interlocutora, junto à sociedade civil, de sua
proposta de distensão política. Seria, segundo Portela, a única saída pacífica
viável para o país.
Faoro enfrentou reações de ambos os extremos do
espectro político e aceitou conversar com o general. Exigiu - e conseguiu - a
restauração do habeas corpus e o fim das torturas no DOI-CODI. Pleiteou também
eleições diretas em todos os níveis, e obteve inicialmente o compromisso de
adotá-las para as eleições de governador em 1982, o que de fato aconteceu.
Na sequência, vieram a revogação do AI-5 a anistia,
liberdade de organização partidária, fim da censura, até às eleições diretas
dos governadores estaduais e, depois, eleições diretas para presidente, num dos
capítulos mais densos e significativos da nossa história contemporânea.
Não importa também se com o heroísmo singelo e
quase anônimo da advogada Flávia Rahal, criadora e dirigente do projeto
Innocence Brasil, que livrou da cadeia, no Ceará, o borracheiro Antônio Cláudio
Barbosa de Castro, condenado por engano no caso do "maníaco da moto"
Ele cumpriu cinco anos de prisão até provar sua inocência, pois o verdadeiro
criminoso continuou agindo e jamais foi encontrado.
Assim como Rui Barbosa, Raymundo Faoro e Flávia
Rahal, somos todos heróis, cada qual em sua causa, na opinião daqueles aos
quais devolvemos a liberdade ameaçada, ou um direito conspurcado. Ou, ainda,
quando resgatamos a dignidade afrontada, ou um bem patrimonial usurpado.
Não há, da mesma forma, como evitar que o advogado
termine por incorporar - e sentir - as angústias e os anseios, as frustrações e
a indignação de seu constituinte. São sentimentos que acabarão por fortalecê-lo
no contraditório.
Não há, portanto, como não sentir orgulho de ser
advogado.
Ademais, todas as grandes causas da vida brasileira
- da abolição da escravatura a proclamação da República foram endossadas -
quando não lideradas - pela advocacia. Uma tradição fortalecida com a criação
da Ordem dos Advogados do Brasil, pelo Decreto 19.408, de 18 de novembro de
1930, pelas mãos do então Presidente Getúlio Vargas.
Como não sentir orgulho de pertencer à OAB que,
desde então, tem protagonizado as mais importantes lutas em favor da
consolidação institucional e dos ideais democráticos no país. Pela defesa dos
interesses públicos e da justiça social. A democracia brasileira deve muito aos
advogados, na luta incansável por sua consolidação, especialmente nos períodos
de arbítrio e de autoritarismo vividos pelo país.
Uma força que não se permite intimidar mesmo agora
quando alguns tentam criminalizar a defesa para escamotear a fragilidade da
acusação. Que luta, incansável, contra a corrupção, sem descuido da necessária
contestação daqueles que praticam crimes a pretexto de combatê-los.
Momentos de comoção - como os que estamos vivendo,
nos quais o crime organizado busca um confronto direto com o Estado -
certamente alimentam a desconfiança nas instituições e nas entidades da
sociedade organizada. No caso da Advocacia, procura-se confundir advogado e
cliente, defensor e acusado, querendo imputar ao primeiro eventuais delitos do
segundo.
O advogado é o artífice da defesa e dos direitos
fundamentais dos cidadãos, sendo a Advocacia essencial à administração da
Justiça, assinala o artigo 133, da Constituição Federal. Somente o desprezo
pela Constituição pode alimentar o raciocínio tosco contra os que se dedicam a
fazê-la cumprir.
E justamente a coragem que move a advocacia
nacional para enfrentar esta adversidade, que sabemos sazonal e transitória -
como tantas outras, ao longo de nossa história -, é que nos estimula a insistir
para que toda a classe dos advogados, que comunga com os grandes ideais de
Justiça e honra, permaneça unida. Sempre mais - e orgulhosamente - forte.
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