Quinta-feira, 5 de dezembro de 2024 - 15h20
Hoje em
dia, as relações de trabalho são regidas por leis amplas e complexas, o que não
impede que elas tenham um acentuado cunho pessoal e de subordinação. As regras
do estado não são suficientes para fornecer proteção e segurança adequadas ao
trabalhador e com frequência deixam deliberadamente de fazê-lo. Assim, um dos
principais papeis do sindicato é romper esta relação entre indivíduo e
empregador para torná-la uma relação entre um coletivo de trabalhadores e um
coletivo de empregadores. Mas não é uma tarefa fácil, pois torna-se central o
estabelecimento de percepções e determinações coletivas, de onde sairão as
reivindicações e a própria disposição da luta para obtê-las. Desta forma, o
sindicato é naturalmente dotado de uma potência para influenciar a vida
econômica, social e política de todo o país, o que o coloca no centro de
interesses poderosos na medida em que interfere diretamente nas relações de
produção.
É também
natural que grupos organizados que representam o capital, os governos e os
partidos políticos de vários matizes ideológicos se esforcem em ações
antagônicas ou articuladas para influenciar a atividade dos sindicatos e de
suas lideranças. Esta complexidade na atividade do sindicato o força a sair do
seu suporte corporativo e observar o cenário político, para que possa construir
relações duradouras com a sociedade. Ao desenvolver sua identidade e cultura,
os sindicatos podem estabelecer cortes de classe social muito marcados, que
introduzem questionamentos e ações mais abrangentes sobre as orientações
sociais, econômicas e políticas governamentais e que afetam a população como um
todo. Portanto, torna-se natural que sindicatos estabeleçam vínculos diversos
com todos os poderes constituídos do estado ou fora dele, como os poderes
jurídico, parlamentar, executivo, as representações dos setores empresariais e
os movimentos sociais. Um outro desafio surge dentro deste contexto,
considerando que os interesses dos trabalhadores da base sindical não podem ser
colocados a serviço de partidos políticos, governos ou outros grupos que tentam
instrumentalizar os sindicatos para interesses estranhos aos interesses de seus
filiados. O assédio e a pressão de forças políticas e econômicas externas aos
seus interesses forçam os sindicatos à estabelecer códigos de conduta muito
importantes designados dentro de um conjunto de normas éticas chamado de
autonomia sindical, onde princípios e orientações são declarados com o objetivo
de evitarem-se vínculos que possam comprometer os interesses da base sindical.
Apesar da
sua importância, um sindicato não se estabelece somente com pautas sobre
salários e condições de trabalho. Tudo que interfere direta ou indiretamente
nas relações de produção ou na qualidade e custo de vida dos trabalhadores e
das trabalhadoras, tais como leis trabalhistas, sistemas de saúde, educação,
seguridade social, transporte público, passa a fazer parte da constituição dos
direitos trabalhistas e sociais e, portanto, parte da vida sindical. Para fazer
frente a esta vasta tarefa, os sindicatos se veem premidos pela necessidade de
constituírem instâncias organizativas em contextos geográficos cada vez mais
amplos para aumentar a eficácia de suas práticas. Os caminhos neste sentido são
diversos, tais como a formação de sindicatos ou federações regionais e
nacionais, os quais podem ampliar ainda mais suas ações ao se filiarem a
centrais sindicais.
Esta
complexidade da atuação dos sindicatos estimula a presença na vida sindical de
correntes de pensamento e de práticas muito distintas e que possuem diferentes
vínculos com o resto da sociedade. Isto é traduzido em disputas muito acirradas
entre os trabalhadores, principalmente nas eleições para as diretorias dos
sindicatos ou nas decisões de se entrar ou sair de greves. Neste processo
intenso de formação política, o trabalhador é chamado a se informar sobre a
conjuntura da sua categoria e do seu país em seus mais diversos aspectos,
fazendo com que o ecossistema sindical se constitua como um ambiente
político-pedagógico ao longo de toda a sua existência, onde vontades políticas
coletivas duradouras são construídas.
Logo, não
é tão fácil responder a uma pergunta tão simples quanto “a quem deve servir um
sindicato ?”. Do ponto de vista do professor e da professora – sobre quem se coloca
a enorme responsabilidade de colaborar com a formação de cidadãos, incorporando
ao ensino da técnica o pensar sobre seus usos e suas consequências – esta
pergunta torna-se ainda mais significativa. Se este professor e esta professora
atuam na educação pública, a resposta transborda dos contornos profissionais,
para abranger a atuação do estado e suas responsabilidades e prioridades com a
educação, escapando-se ainda mais de visões meramente corporativas. É claro
que, para além de qualquer outro ponto de vista e quaisquer que sejam as
respostas para esta pergunta, deve-se sempre afirmar a autonomia sindical,
declarando que um sindicato não deve servir a um partido político, a governos
ou a outros interesses externos aqueles da base sindical.
Passando
para considerações mais concretas, a multiplicidade de relações sociais,
econômicas e políticas presente na vida sindical pode ser observada neste
momento em que os docentes da Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, se
preparam para escolher a nova diretoria da Adufepe – seção sindical do Andes-SN
– para o biênio 2025/2026. Lembrando que o Andes-SN é o sindicato nacional que
congrega a maioria absoluta dos docentes das universidades federais do Brasil.
Neste ano, duas chapas concorrem para a direção da Adufepe: a chapa 1: Adufepe
Sindicato Democrático e Plural e a chapa 2: Retomando a Luta – Adufepe em
Defesa da Universidade Pública.
A chapa
1, apoiada pela atual gestão da Adufepe, propõe a continuidade de suas
prioridades, centradas em atividades de cunho assistencialista, como
facilidades em um número variado de relações de consumo e entretenimento. No
plano político este grupo possui relações com forças políticas externas às
universidades e que hoje tentam manietar os movimentos sociais, para que não
perturbem as escolhas e orientações do governo federal. Seus membros rotulam
como fascista qualquer grupo que queira questionar as determinações do governo,
a despeito da situação precária em que se encontram as universidades federais
do Brasil. No plano sindical, propõem retirar a Adufepe do Andes-SN, isolando-a
do movimento docente nacional. Esta demarcação de terreno com o Andes-SN ficou
evidente, por exemplo, ao terem se posicionado contrários à greve dos docentes
das universidades federais deste ano, mesmo tendo em vista força e adesão
demonstradas por este movimento.
A chapa 2
se estabelece com uma proposta de oposição, expondo um diagnóstico de
deterioração sistêmica do financiamento de toda a atividade federal de ensino,
pesquisa e extensão, que se intensificou a partir de 2013. A situação tornou-se
tão insustentável, que, neste ano e sob a liderança do Andes-SN, os docentes
deflagraram a maior greve da história da educação federal, envolvendo a grande
maioria das universidades federais e dos institutos federais por mais de
sessenta dias (estes organizados principalmente pelo SINASEFE). O grupo de
docentes que apoiam esta chapa se propõe a organizar os docentes para produzir
suas compreensões conjunturais e suas ações para que a comunidade universitária
possa ser capaz de se sentar à mesa de negociações com o governo federal junto
ao Andes-SN, para disputar as verbas do orçamento público que hoje vão
alimentar subsídios bilionários dos setores mais poderosos da economia ou que
vão diretamente compor a renda dos grandes especuladores.
Dentre os
governos dos países das Américas - incluindo os EUA - e da Europa, aqueles que
se descuidaram dos interesses populares como a educação, a saúde e a economia
popular deram lugar ao fortalecimento das organizações fascistas. Assim, é
importantíssimo que os movimentos sociais contraponham os interesses da
população aos interesses dos rentistas que – através de seus representantes no
estado e no parlamento – tentam sequestrar o orçamento público através de uma série
de mecanismos, que vão desde o crescimento da dívida até renúncias fiscais
volumosas. Já não são somente as lições do século passado que nos ensinam que
não se combate o fascismo destruindo os sistemas da saúde pública e da educação
pública. Esta lição estamos aprendendo a duras penas na casa de nossos vizinhos
e em nossa própria casa.
A chapa 2
ainda chama a atenção da comunidade universitária para as consequências do
acoplamento pernicioso entre a falta de recursos e a intensificação do trabalho
docente através de um conjunto de exigências burocráticas. Os objetivos
declarados pelos administradores é o de aumento da eficiência administrativa,
mas para os docentes isto tem significado o aumento expressivo do stress
profissional e o consequente aumento do risco de doenças cardiovasculares,
transtornos mentais e mesmo doenças degenerativas de vários tipos. Assim, ao
acrescentarem-se as grandes perdas salariais da categoria, obtem-se um quadro
de precarização acelerada das condições de trabalho dos docentes e que deve ser
endereçada por uma diretoria mais determinada e consciente de todas as
consequências da redução do financiamento das universidades federais.
A
precarização não se situa somente no pessoal da ativa. Desde os primórdios dos
sindicatos no século XIX, a previdência social tem sido uma preocupação central
dos trabalhadores. Naquele século, formas primitivas de previdência social eram
organizadas como atos de solidariedade de classe pelos próprios trabalhadores
através dos seus sindicatos. Com o tempo, esta necessidade foi constituída como
direito social e incorporada aos deveres do estado. No entanto, assistimos a um
gradativo recuo do estado desta função, empurrando os trabalhadores à
inevitável miséria na velhice. Nos últimos trinta anos vários direitos foram
retirados dos funcionários públicos através das sucessivas reformas da
previdência, que prejudicaram não somente os que hoje estão aposentados, mas
principalmente os que ainda irão se aposentar. Neste contexto, solidariedade
intergeracional é um dos pilares que sustentam as propostas da chapa 2, que irá
reintegrar a comunidade da UFPE nos esforços do Andes-SN pela reconquista de
alguns direitos, como a integralidade e paridade dos salários e o fim do
confisco salarial representado pelo pagamento da contribuição para o INSS pelo
aposentado.
Assim, a
quem deve servir um sindicato de professores e professoras das universidades
públicas? A chapa 2 responde à esta pergunta se propondo a organizar e por em
prática os pensamentos e ações dos docentes e das docentes na defesa da
universidade pública, tanto localmente na UFPE, quanto nacionalmente junto ao
movimento docente nacional representado pelo Andes-SN. Assim, para além dos
interesses corporativos, a Adufepe estará servindo à quem deve servir, à
população menos favorecida do Brasil, cuidando deste fantástico patrimônio que
é a universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.
Este
esforço político coletivo, solidário, diverso e de grande significado na luta
antifascista está sendo organizado por um grupo de pessoas que se dispuseram a
colocar seus corpos e mentes neste desafio, que se situa muito além desta
eleição. Este novo despertar faz parte de um movimento que está movendo o
Brasil inteiro, guiado por uma percepção de que o caminhar se faz – lembrando
do saudoso Ferreira Gullar – caminhando com os pés sobre a grama.
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