Quarta-feira, 17 de abril de 2024 - 08h10
Nada
discretamente, poderosos grupos lobistas, nacionais e internacionais,
pressionam o governo federal e a sociedade brasileira para aceitarem a
necessidade de expansão de usinas nucleares no país utilizando justificativas
falaciosas e mentirosas. São conhecidos personagens e empresas que sempre boicotaram
as fontes renováveis de energia, e retardaram a entrada em operação das
tecnologias solares e eólicas no país. Defensores das termelétricas a
combustíveis fósseis e da eletricidade nuclear desprezam os interesses
nacionais, em detrimento dos interesses econômicos, pessoais e empresariais.
Afirmar
que a energia elétrica produzida por materiais radioativos é “energia verde”;
“energia limpa”; que é mais barata que outras formas de geração; que riscos de
acidentes inexistem; que os resíduos das reações nucleares (conhecidos como
“lixo atômico”) podem ser armazenados com segurança por milhares de anos; que o
país precisa desta fonte energética para evitar apagões futuros é desconhecer a
ciência. Essas inverdades têm a intenção de buscar a aceitação popular para uma
fonte de energia perigosa, suja e cara. Não esqueçamos que mentir é um ofício
destes grupos, cujo único objetivo são os negócios, os interesses econômicos,
pouco se lixando para a soberania nacional, para a população que acaba sofrendo
com as decisões completamente equivocadas na política energética nacional.
No
governo do atraso foi indicado para ministro de Minas e Energia (MME) um
almirante de Esquadra da Marinha. Aquele mesmo, envolvido no cabuloso negócio
do contrabando das “joias das arábias”
(https://www.ihu.unisinos.br/categorias/627478-usinas-nucleares-joias-das-arabias-e-outros-trambiques-artigo-de-heitor-scalambrini-costa),
que em 16 de dezembro de 2020, aprovou e anunciou o Plano Nacional de Energia
2050 (PNE50), cuja determinação é a expansão do parque de geração nuclear no
Brasil em 8 GW e 10 GW, nos próximos 30 anos.
Assim, o
planejamento prevê fazer investimentos bilionários em um setor marcado pela
polêmica e por conflitos socioambientais. Documentos oficiais apontam que o
Governo Federal pretende expandir o número de usinas e abrir o setor para a iniciativa
privada, sendo que atualmente a Constituição Federal veda esta possibilidade.
Embora defendida como uma medida ambientalmente sustentável, a cadeia da
energia nuclear no Brasil tem um histórico marcado por um rastro de
contaminação, graves acidentes e mortes.
Quando
nos referimos à cadeia produtiva da geração nuclear, estamos falando das várias
indústrias envolvidas na produção do combustível atômico. Da mineração, do
beneficiamento do minério, do enriquecimento do urânio, da fabricação do combustível
e do armazenamento do lixo letal. É neste contexto que temos que discutir e
afirmar, categoricamente, que esta tecnologia não interessa ao país.
O Brasil
possui duas usinas em operação atualmente: Angra 1 e Angra 2, instaladas no
município de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, com potencial de geração de 2 mil
megawatts. E a usina inacabada de Angra 3, iniciada em 1985, cujos equipamentos
já foram comprados e são absolutamente obsoletos, frente à evolução
tecnológica. Acabar este elefante branco significa investimentos de
aproximadamente 17 bilhões de reais. A potência instalada e a geração de
energia das duas usinas em operação são desprezíveis quanto à participação na
matriz elétrica nacional. Em nada contribuem para a transição energética, nem
para a segurança energética do país. São unidades que já ultrapassaram suas
vidas úteis e são conhecidas como “vaga-lumes” devido às interrupções
frequentes no fornecimento de energia, e dos inúmeros problemas técnicos e
operacionais cuja frequência escalou desde 2023. Uma grande irresponsabilidade
que ainda estejam em funcionamento.
Todavia,
os lobistas de plantão - com espaço e palco concedidos para suas mentiras e
enganações pela grande mídia corporativa - têm aliados poderosos no meio
militar que almejam construir a bomba nuclear. São evidentes tais interesses
nas declarações de seus comandantes e em acordos internacionais realizados.
Dizem que ter a bomba é essencial para a segurança nacional. Pura balela.
Vivenciamos hoje, segundo Papa Francisco, que o mundo está à beira de uma
guerra nuclear, e a pergunta que não quer calar é “e nossa bomba tupiniquim
teria qual efeito apaziguador, diante de um histriônico presidente à frente de
uma nação detentora de tal artefato desprezível?
O que é
escondido da população é que acidentes em usinas nucleares acontecem com muita
mais frequência do que os conhecidos, e divulgados. Geralmente não chegam ao
domínio público, não são revelados a população. Assim, é impositiva a pressão
da sociedade sobre parlamentares, gestores das estatais e governo federal para
a realização do urgente e inadiável debate público sobre a política nuclear
brasileira, alvo frequente de auditoria e advertências do Tribunal de Contas da
União.
____________________________
*
Professor associado aposentado da Universidade Federal de Pernambuco. Graduado
em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), Mestrado em
Ciências e Tecnologias Nucleares na Universidade Federal de Pernambuco
(DEN/UFPE) e Doutorado em Energética, na Universidade de Marselha/Comissariado
de Energia Atômica (CEA)-França. Membro da Articulação Antinuclear Brasileira.
**
Jornalista, Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania e integrante da
Articulação Antinuclear Brasileira.
Em recente pronunciamento, na véspera da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em 10/12/2024, onde se decidiria pela conclusão,
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