Terça-feira, 7 de maio de 2019 - 09h00
As eleições de 2018 produziu um
fenômeno nocivo ao ambiente político nacional, que se replica nos estados e,
certamente, vai ecoar nas eleições municipais de 2020. A polarização política
no Brasil, diferente daquela que ocorre nos Estados Unidos - em que é civilizada
a convivência com o outro, mesmo que as diferenças sejam intransponíveis - caminhou
numa direção em que ganha o lado que grita mais alto, ou o lado que produz mais
fake news ou, o que parece predominar,
o lado que destila mais ódio em direção ao outro. Não há, de um lado ou do
outro, nenhum interesse em debater propostas, sugerir saídas, propor ajustes ou
aglutinar forças para intermediar demandas ou mitigar conflitos. O clima no
ambiente político é de tal animosidade que limita a participação de qualquer
cidadão no debate, seja pelo receio de perseguição que sofrerá se a sua
manifestação for entendida como favorável a um lado, seja pela falta de espaço
para expor ideias que, efetivamente, eleve o nível do debate político.
Sem entrar no mérito da necessidade
de tal cisão política, ou qual o lado detém a razão (sob o ponto de vista de
civilidade política, os dois lados estão mais errados do que certos), receio
que as eleições de 2020, sejam contaminadas pelo espírito raivoso que orientou
a de 2018. Se assim for, há nisso um agravante perigoso. Explico.
As eleições municipais ocorrem
dentro das casas das pessoas, os seus resultados têm efeitos diretos na vida
dos cidadãos, envolvem indivíduos que moram nos municípios (os candidatos são
locais) e alteram as correlações de forças políticas da localidade, logo mexe
com interesses estruturados. Com isso, a polarização ganha capilaridade,
alcança a planície e preenche todos os espaços sociais (instituições de toda
ordem, residências, ruas, praças, bares, teatros, cinemas, organizações
comunitárias) reduzindo as chances de recomposição do tecido social, já esgarçado
ao limite.
Não vejo, no horizonte de tempo que nos separa das eleições municipais de 2020, possibilidade de haver um refluxo ou distensão dessa polarização, ou ao menos a necessária qualificação do debate. Ao contrário, a aproximação do pleito vai acirrar ainda mais os embates, pelas razões que apontei no parágrafo anterior.
A municipalização dessa hostilidade
política refletirá na qualidade da gestão do próximo prefeito, seja quem for o
vencedor. Quando os atuais prefeitos foram eleitos em 2016 não havia, ainda, a
situação beligerante ora existente, que deflagrou-se após a eleição
presidencial de 2018. As dificuldades políticas/administrativas percebidas no
nível federal já são reproduzidas na esfera estadual e, naturalmente, se
estenderão à administração municipal.
Diante disso, tenho refletido sobre
as possibilidades disponíveis para que os potenciais candidatos à eleição
majoritária municipal fujam dessa dicotomia. Embora estar de um lado ou de
outro possa, a priori, significar ter
voto desse segmento e, eventualmente,
ganhar a eleição, isso não é garantia de gestão exitosa ao longo dos quatro
anos de mandato. Ao contrário. O lado perdedor criará todo tipo de embaraço
para que o lado vencedor não consiga administrar – vindo o fracasso. Isto só
reforça a mística de “cemitério de políticos” que o município de Porto Velho
construiu ao longo dos anos.
A morte política é resultado de
administração ruim, nada mais.
No entanto, para os cidadãos
comuns, uma administração ruim significa quatro anos de sofrimento, de falta de
serviços públicos de qualidade, da criação de programas e projetos inclusivos,
da melhoria dos já existentes, da garantia e proteção dos direitos, da
limitação da participação popular e da transparência, etc..
A maioria dos cidadãos comuns que votam, certamente, não está atrelada e nenhum dos lados que se engalfinham na arena política – repudiando-a, inclusive.
É ai que está, a meu ver, a saída
para fugir da armadilha da polarização raivosa existente no ambiente político.
Partindo do princípio de quê grande parte das pessoas não está interessada
nessa disputa, e até existe uma percepção clara por parte delas de que a
polarização é nociva, é possível construir espaços de debates em que a pauta
seja a melhoria nas políticas públicas de interesse dos cidadãos de Porto Velho
e, assim, blindar o embate político local das vinculações com a explosiva
esfera nacional.
Para isso, basta que surjam candidatos que canalizem seus interesses para propostas qualificadas e concretas para enfrentar os problemas históricos que a cidade tem. Quem se habilita?
* Sid Orleans é enfermeiro, foi Secretário de
Saúde de Porto Velho e Vereador por dois mandatos.
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