Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025 - 13h02
A
população mundial vive um momento singular diante dos eventos
provocados pelo aquecimento do planeta. Ondas de calor, chuvas
torrenciais devastadoras, secas severas prolongadas, ventos fortes, entre
outros eventos climáticos extremos têm
ocorrido em todos continentes. A preocupação aumenta com a sequência de
recordes da temperatura média do ar, ano a ano.
A ciência tem mostrado que o principal responsável
pelo aquecimento global são os chamados gases de efeito estufa (GEE’s) que se
concentram na atmosfera, e cuja principal fonte emissora são os combustíveis
fósseis. Concorre também significativamente para as emissões de GEE´s, o uso
inadequado da terra, com a destruição das florestas e matas para atividades
comerciais, como a agropecuária extensiva e predatória.
A concentração dos GEE’s na atmosfera terrestre, em
particular do dióxido de carbono (CO2), tem aumentado consideravelmente,
desde a Revolução Industrial. O uso em larga escala dos combustíveis fósseis
(carvão mineral, petróleo/derivados, gás natural) no século XX, contribuíram de
maneira decisiva para o aumento da concentração de CO2, que
praticamente dobrou desde então. O gás funciona como um cobertor em torno do
planeta o que provoca seu aquecimento, conhecido como “efeito estufa”. À medida
que a concentração de CO2 aumenta, a temperatura média global
aumenta, agudizando desastres climáticos e o agravamento da insegurança
hídrica.
Além dos combustíveis fósseis, a agropecuária
predatória, o desmatamento das florestas com a supressão da mata vegetal
(incêndios e devastação com produtos químicos), contribui significativamente
para o aumento da temperatura média global. Ambos representam aproximadamente
3/4 do total de emissões de GEE’s no mundo.
Por conseguinte, enfrentar o aquecimento global, é
garantir que a concentração de CO2 pare de aumentar, juntamente com
as emissões de outros gases de efeito estufa, como o metano, o óxido nitroso, e
outros de menor influência no efeito estufa. Assim é imperioso atacar a raiz do
problema, os vilões do aquecimento global, com a eliminação gradual da
dependência dos combustíveis fósseis na matriz energética e a execução de
políticas e ações claras assertivas para atingir o desmatamento zero.
Posto tais preliminares, verifica-se infelizmente,
que a política energética (?) brasileira caminha na contramão da ciência, não
levando em conta o que dizem os cientistas.
Do governo Lula 3, se esperava, em razão do seu
discurso e declarações sobre a necessidade de enfrentar as mudanças climáticas,
que a Petrobras, de mera exploradora de petróleo, fosse transformada em uma
empresa de Energias Renováveis. Todavia o que acabou acontecendo foi a frustrante
criação, dentro da empresa, de uma irrelevante diretoria de Transição
Energética e Energias Renováveis (https://ihu.unisinos.br/630433-a-petrobras-e-as-mudancas-climaticas-%20artigo-de-heitor-scalambrini-costa).
O que prevaleceu foi o discurso do século passado
tão repetido ainda neste um quarto do século 21, imerso em uma crise
civilizacional, que coloca em risco a própria sobrevivência da vida no planeta.
Os argumentos sem sustentação na realidade, insistem que a empresa transforme
os recursos da natureza em riquezas para o desenvolvimento (para quem?), que os
negócios do petróleo e gás financiarão as fontes energéticas renováveis no
país, e que o petróleo seguirá relevante para a humanidade, coexistindo
com as fontes de energia, renováveis e não renováveis.
A indústria de combustíveis fósseis, em particular
o petróleo, é a principal responsável pela emergência climática, provocando
guerras, e concentração de riqueza nas mãos das grandes corporações e de seus
acionistas e controladores, e de poucos Estados nacionais. O que resta a fazer
é traçar os caminhos que levarão a diminuição e mesmo abolição do seu uso para
fins energéticos.
No Brasil, entre o discurso e a prática,
verifica-se que nos últimos Planos Decenais de Energia (PDE) produzidos pela
Empresa de Planejamento Energético (EPE) do Ministério de Minas e Energia
(MME), é previsto o aumento na produção diária de petróleo até 2031, dos atuais
3,4 milhões de barris por dia para 5,2 milhões. Um aumento acentuado indicando
uma política energética que tem na exportação de petróleo um expediente para
negócios bilionários. Pode-se resumir, em uma curta frase, o que aponta os
planos governamentais em relação ao petróleo, “extrair até a última gota”,
mantendo os combustíveis fósseis o maior tempo possível como fonte
energética.
Estudos recentes publicado na revista Science, por
pesquisadores do University College London e do Instituto Internacional para o
Desenvolvimento Sustentável (em inglês, a sigla IISD), indicam que o mundo tem
projetos de combustíveis fósseis suficientes para atender as previsões de
demanda até 2050, concluindo que os governos deveriam parar de emitir novas
licenças para extração do petróleo, gás e carvão. Este atual estudo corrobora a
conclusão de duas importantes consultorias da área de energia que já tinham
afirmado que as reservas de petróleo, gás e carvão, já descobertas, são
suficientes para garantir a demanda energética mundial.
Em sentido contrário, o governo atual tem defendido
a expansão e intensificação da exploração e produção de petróleo e gás, e
assinando acordos internacionais; como por exemplo, com a Argentina, de compra
de gás extraído na Patagônia, região
detentora da maior jazida mundial de gás de xisto e a quarta de petróleo não
convencional.Enquanto que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) continua aprovando apoio financeiro às termelétricas a gás (caso
recente o financiamento da usina em Barcarena, Pará).
Por outro lado, conter o desmatamento é essencial
para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. No Brasil, de forma direta
e indireta, a agropecuária, com sua a expansão desenfreada e predatória é responsável
por aproximadamente 75% de todas as emissões de GEE´s. A prática corriqueira de
“riscar o fósforo”, promovendo as queimadas é motivada por interesses
econômicos. A utilização de expedientes muitas vezes criminosos tem o objetivo
de ocupar grandes áreas destinadas ao plantio de soja, milho e outras
mercadorias. No caso da pecuária, grandes áreas têm sido dizimadas para servir
de pasto a está crescente e grandiosa boiada, em torno de 210 milhões de
cabeças de gado.
O Brasil registrou uma explosão de desmatamento
florestal a partir de 2019, durante o (des)governo da extrema direita,
comandado por Jair Bolsonaro (PL). Foi vivenciado no período uma série de
incêndios florestais; em sua enorme maioria causados por ações humanas, para
abrir novos campos agricultáveis e de pastagens. As causas naturais dos
incêndios representam uma quantidade insignificante do recorde de focos de fogo
registrados nos últimos anos no país.
Um caso simbólico de setores do agronegócio e de
fazendeiros envolvidos em práticas criminosas foi o que aconteceu no chamado
Dia do Fogo no Pará, em 2019, quando o país registrou aproximadamente 1.500
focos de incêndio em um único dia. Na ocasião, o fato chegou a ser antecipado
em um jornal, e há indícios de articulação de fazendeiros em grupos de
WhatsApp.
Nada parece deter a insanidade do capitalismo
representado pela ganância das grandes corporações, empresários, financistas,
lobistas e de governos (principalmente países produtores de petróleo, Brasil
incluído). Acabam atuando em sentido contrário das exigências atuais e
imediatas de enfrentamento à emergência climática.
Contra os interesses da humanidade se alinham
interesses econômicos das grandes corporações, que se beneficiam da exploração
dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás natural), e do
agronegócio. Não somente defendem a exploração do petróleo “até a última gota”,
como mantém a prática do desmatamento dos biomas. Seguem o paradigma que busca
o lucro máximo e rápido com o menor custo. Modelo disfarçado de racionalidade,
progresso e promessas ilusórias.
O atual nível de conhecimento científico
consolidado sobre as causas do aquecimento global aponta para a eliminação
gradual da produção e exploração de combustíveis fósseis, reduzindo novos
licenciamentos e concessões e financiamentos destinados a esse setor; e na
busca de atingir o desmatamento zero. Então porque não seguir o que dizem os
cientistas, e evitar um colapso climático que coloca em risco a vida no
planeta?
A humanidade está diante do maior desafio provocado
por ela mesma, o aquecimento global e suas consequências ao clima terrestre, e
ao próprio equilíbrio do planeta. No Brasil, diante desta aliança macabra
contra o futuro, entre os defensores dos combustíveis fósseis e o setor
agropecuário predatório, nos resta a denúncia, o esclarecimento, explicar sobre
os riscos envolvidos, a conscientização e a mobilização de todos para uma ação
transformadora, na direção de um outro Brasil (mundo) possível. O que será
alcançado com uma sociedade mais consciente, crítica e participativa. Somente
assim é que a vida não será colocada a reboque dos negócios, do mercado, do vil
metal.
___________________
* Professor associado aposentado da Universidade Federal de
Pernambuco, graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP/SP), mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares na Universidade
Federal de Pernambuco (DEN/UFPE) e doutorado em Energética, na Universidade de
Marselha/Aix, associado ao Centro de Estudos de Cadarache/Comissariado de Energia
Atômica (CEA)-França.
Já imaginou uma unidade prisional à prova de fugas? Onde qualquer tentativa de escavação, escala ou quebra de muros poderia ser detectada em tempo r
Depois da Groelândia, por que não a Amazônia?
“O Brasil precisa aceitar a soberania relativa sobre a Amazônia". François Mitterrand / Presidente da França – 1991 “Só a internacionalização pode
NÃO ESCREVO ESTE ARTIGO MOVIDO POR QUALQUER IDEOLOGIA POLÍTICA. Mesmo porque não acredito completamente em nenhuma dessas falácias “ideológicas” que
Preguiça, férias ou desânimo mesmo. Um desses adjetivos poderia ser usado para justificar minha ausência nos artigos. Sei que deixei os meus dez fié