Terça-feira, 13 de outubro de 2020 - 15h14
No mundo, uma em cada oito mulheres desenvolverá câncer de mama ao longo de sua existência. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima o surgimento de 66 mil novos casos da doença, durante 2020. Trata-se de um grave problema de saúde pública. Disso ninguém dúvida. Contudo, há informações sobre esse tipo de neoplasia que exigem profunda reflexão da sociedade, médicos e, sobretudo, dos governantes.
Em primeiro lugar, é preciso destacar uma boa notícia: o câncer de mama diagnosticado de forma precoce tem altas chances de cura. As estimativas dão conta de que 95% das pacientes que iniciam tratamento cedo conseguem superar essa doença. Por outro lado, os indicadores de mortalidade sugerem que essa não é a realidade no País.
O diagnóstico tardio e a demora da assistência, entre outros fatores, são os principais responsáveis pela alta taxa de mortalidade no País por conta de câncer de mama, que fica em 25%. Esse índice o torna a segunda maior causa de óbitos entre as brasileiras. O quadro piora quando se percebe que as mulheres da parcela da população mais vulnerável são as maiores vítimas dessa doença.
Em síntese, as mortes ocorrem pela dificuldade histórica da rede pública de oferecer acesso a exames e tratamentos no tempo adequado. Para se ter uma ideia do quanto esse problema é sério, basta lembrar que já foram até criadas normas para impedir a redução de chances de cura em casos de câncer de mama decorrentes de falhas de infraestrutura no SUS.
A Lei nº 12.732, de 2012, determina que o SUS tem prazo máximo de 30 dias para oferecer os exames necessários àquelas que têm suspeita da doença. Se o problema for confirmado, o início do tratamento deve ter início em, no máximo, 60 dias. No entanto, essas metas não têm sido cumpridas. Além disso, poucas pessoas sabem desses direitos e deles se apropriam.
Mas a situação pode assumir contornos ainda piores. Em 2020, além dos problemas de acesso, de infraestrutura e de falta de informação, um outro elemento deve contribuir para que o número de vítimas fatais aumente. Em decorrência da Covid-19, na fase mais aguda da pandemia, o número de consultas e exames de diagnóstico de câncer de mama caiu quase em 50%, na rede pública.
O total de mamografias realizadas pelo SUS, entre janeiro e julho deste ano, baixou pela metade em comparação com exercícios anteriores. Até julho desse ano, o volume de exames foi de 1,1 milhão, enquanto, nos períodos de 2018 e 2019, ficaram em 2,1 milhões. Pela lógica, milhares de casos serão confirmados quando a doença já estiver em estágios mais avançados, o que se traduz na prática em maior risco de morte para as pacientes.
Por isso, independentemente da pandemia ou das dificuldades que se apresentem em seu município, as mulheres, em especial com idades entre 50 e 69 anos, devem assumir o protagonismo de suas próprias histórias. É preciso entender que o auto toque e a realização de mamografias, em intervalos máximos de dois anos, são fundamentais para se preservar a saúde e o bem-estar.
No entanto, apesar dessa importante participação, as mulheres merecem contar com amplo apoio nesse processo. Primeiro, dos médicos e outros profissionais da saúde, cujo papel reside na oferta das orientações adequadas na busca da redenção contra o câncer de mama. Finalmente, dos gestores do SUS e tomadores de decisão que precisam tomar as decisões que assegurem mais recursos para a saúde, o que permitirá que estratégias de ampliação de oferta de exames e de tratamentos saiam do papel.
José Hiran da Silva Gallo
Diretor-Tesoureiro do Conselho Federal de Medicina (CFM)
Conselheiro do Cremero
Doutor e pós-doutor em Bioética
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