Domingo, 8 de setembro de 2019 - 09h08
A tal nova Lei do Abuso de Autoridade deu
pano pras mangas. Há mais o que se falar sobre o processo legislativo dela do que
propriamente sobre seu conteúdo. E o mais engraçado disso tudo é ver os
aduladores irresponsáveis do presidente Jair Bolsonaro, aqueles que se opõem
automaticamente a qualquer proposta política que não seja oriunda dele, terem
que rever suas performances nas redes sociais.
Já me manifestei em outros artigos,
sempre expressando minha opinião com identidade, porém me esforçando em não ser
tendencioso. Sei que o fato de ser jornalista há três décadas e meia cria nos
leitores que cativei uma expectativa de isenção e imparcialidade que são se
afasta quando, em vez de uma reportagem, escrevo um artigo de opinião. Preciso
de meus leitores. Um pouco de Exupéry: “Não preciso de ti. Não precisas de mim.
Mas, se me cativares, e se eu te cativar... ambos precisaremos, um do outro.”
Em um quadro generalizado de desinformação jurídica, inseriu-se na
opinião pública a ideia de que se estaria inaugurando uma legislação para
coibir o abuso de autoridade, quando, em verdade, o que o Congresso Nacional
estava fazendo era apenas atualizar a lei que existia desde 1965, sancionada
pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, segundo presidente do regime
de exceção (o primeiro foi Ranieri Mazzilli).
Pois sim, eis que Bolsonaro veio a público e deu seu testemunho de
que o Ministério Público Federal comete, sim, abuso de autoridade. E mais:
Bolsonaro afirma ter sofrido abusos de autoridade do Ministério Público. Mandou
a matéria de volta para o Legislativo com apenas alguns vetos. Daí eu pergunto:
o que os aduladores fanáticos que faziam campanha contra a aprovação e, depois,
pelo veto integral da nova lei têm a fazer agora? Só há uma resposta:
converterem-se em fãs incondicionais de Bolsonaro.
A vida dá voltas. São esses cidadãos imbecilizados pelo fanatismo
que estão agora numa saia justa, pois não podem criticar seu caudilho por ter
agido com certo grau de bom senso, nem tampouco se sentem à vontade para
aprovar seu procedimento notoriamente comedido e racional. Os aduladores de
plantão precisam evoluir para fãs incondicionais de Bolsonaro, se é que querem
realmente tê-lo como um caudilho. “Riam!” E eles riem. “Chorem!” E eles choram.
Até aí é fácil. Difícil é quando é para rir e chorar da mesma coisa.
Ao Bolsonaro vítima do abuso de autoridade do Ministério Público,
minha solidariedade. Sei bem o que é isso. E como sei. Entretanto nunca me
intimidei. E continuo convidando os cidadãos a não se intimidarem, mormente
nós, profissionais da comunicação. Temos um dever cívico a cumprir,
principalmente neste momento em que a repulsa aos erros do “ancien régime”
impele a massa ignara ao extremismo idólatra, prestes a erguer um panteão com
estátuas de ícones de uma nova era.
Ainda prefiro o bom senso. Mantive-me firme posicionando-me a
favor da edição de uma nova lei do abuso de autoridade, com os devidos
ajustamentos. E, segundo Bolsonaro, não é que eu estava certo? Sorry,
periferia...
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