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Crônica

Brasília: um sonho maçônico que precisa ser resgatado


Brasília: um sonho maçônico que precisa ser resgatado - Gente de Opinião

Em 1956, quando Juscelino Kubitschek resolveu erguer Brasília, realizou uma cerimônia  no local onde hoje está o Memorial dos Povos Indígenas. Com uma pá dourada, cavou a primeira vala enquanto recitava versos, invocando proteção divina para a cidade. O ato reproduzia o ritual maçônico de lançamento da pedra fundamental, ou pedra angular, onde o líder usa ferramentas simbólicas  para consagrar o terreno. Juscelino, maçom iniciado em 1936, na Grande Loja Comércio e Artes, de Minas Gerais, não estava apenas transferindo a capital do Brasil para o cerrado, estava materializando um projeto de nação, inspirado no simbolismo maçônico, na grandiosidade egípcia e na utopia de um país integrado e justo. Brasília nasceu para ser mais que uma cidade: um templo cívico, onde os três Poderes coexistiriam em harmonia, guiados por princípios éticos e uma espiritualidade laica. Seu traçado, comparado ao de Akhetaton — a cidade solar do faraó Akhenaton —, revelava a ambição de criar um centro de poder iluminado, distante da corrupção e do sectarismo do litoral.

Brasília é uma cidade de linhas limpas e horizontes amplos, onde a arquitetura modernista de Oscar Niemeyer que, embora ateu e comunista, seguiu com seus traçados que dialogavam com o simbolismo ancestral, idealizados por JK. O plano piloto de Brasília foi descrito pelo arquiteto francês Leon Pressouyre, relator da candidatura de Brasília ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, como "um pássaro gigante com asas abertas voando para direção sudeste", reforçando a interpretação simbólica da renovação e, não um avião, como os neófitos conseguem reproduzir. A Catedral Metropolitana, com seus vitrais azuis filtrando a luz do sol, remetia aos templos de Heliópolis, dedicados ao deus Rá. A Praça dos Três Poderes, organizada em triângulo, ecoava a tríade egípcia (Osíris, Ísis, Hórus), Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e o equilíbrio maçônico entre razão e espírito. Até a data de inauguração, 21 de abril, carregava significado: homenageava Tiradentes, mártir da Inconfidência e maçom, reforçando o ideal de libertador. JK, via na capital um laboratório para um Brasil novo, onde a política seria exercida como arte nobre, não como comércio de interesses.

Mas o que restou desse projeto? Sob Lula, Brasília tornou-se palco de um espetáculo de autoritarismo e hipocrisia. O Judiciário, que deveria ser guardião da lei, age como braço político do governo. O caso do ex-deputado Daniel Silveira é emblemático: condenado a 8 anos de prisão por críticas ao STF sob a Lei de Segurança Nacional — uma herança da ditadura militar —, sua pena desproporcional revela o uso seletivo da Justiça para calar opositores. Enquanto isso, aliados do governo envolvidos em escândalos de corrupção, como os irmãos Rodrigues (do MDB), escapam ilesos, protegidos por acordos políticos. A Operação Lava Jato, que expôs esquemas bilionários sob governos petistas, foi enterrada em nome da "reconciliação nacional", enquanto investigações contra adversários são aceleradas com vazamentos estratégicos à mídia.

A Praça dos Três Poderes, desenhada para ser um espaço de diálogo, hoje é um campo de batalha. Os ataques de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram prédios públicos, foram seguidos de uma repressão que misturou criminosos reais com cidadãos pacíficos, muitos presos sem provas. O governo Lula, em vez de buscar a pacificação, alimenta a narrativa de "golpe", usando o episódio para justificar censura e perseguições. Enquanto isso, esquemas como o orçamento secreto — que canalizou R$ 20 bilhões em emendas parlamentares obscuras em 2022 — continuam intactos, financiando aliados em troca de apoio. A corrupção, longe de ser combatida, tornou-se moeda de troca.

JK sonhava com uma capital onde não houvesse lugar para elites segregadas. As superquadras, sem muros ou grades, simbolizavam essa utopia. Hoje, Brasília é uma cidade partida: o Plano Piloto, hoje, uma ilha de privilégios, contrasta com as periferias esquecidas, como Ceilândia, onde falta saneamento e segurança.  Um parêntese, para brincar. Outrora vivi, durante 24 anos, com uma mulher que tinha o seu nome homenageado numa cidade. Cêila! Bons tempos! Só pra relaxar...

O Memorial JK, que deveria ser um farol da história, está abandonado, visitado mais por turistas estrangeiros que por brasileiros. Enquanto isso, o Congresso Nacional, cujas cúpulas representavam abertura ao diálogo, o simbolismo do masculino e do feminino sagrado, transformou-se em um balcão de negócios, onde projetos de lei são barganhados por cargos e verbas.

O mais trágico é a perda do sentido espiritual que JK imprimiu à cidade. Brasília foi concebida para ser um centro de energia cósmica, como as pirâmides do Egito ou os templos maçônicos. O Templo da Boa Vontade, com sua pirâmide de cristal, ainda atrai peregrinos em busca de paz, mas o mesmo não se pode dizer dos corredores do poder. Lula, que se diz "escolhido por Deus", e, depois, cai na macumba, apropria-se de retórica religiosa enquanto promove políticas que dividem o país. Seu governo, marcado por alianças com milícias digitais e grupos radicais, enterrou o ideal de conciliação.

JK, o visionário que mudou a capital em menos de quatro anos, certamente se horrorizaria com o que Brasília se tornou. Em vez de uma cidade que olha para o futuro, é um espelho das piores ambições humanas: poder pelo poder, corrupção sem vergonha, Justiça seletiva. Seu projeto, que unia razão e transcendência, foi substituído por uma máquina de tráfico de influência.

Resta a pergunta: há como resgatar o legado de JK? A resposta exige coragem. É preciso devolver à política seu caráter sagrado — não no sentido religioso, mas como missão de servir. Rejeitar a polarização, punir corruptos de todos os lados e restaurar o Judiciário como instituição neutra. Brasília ainda pode ser a "capital da esperança", mas apenas se lembrarmos por que foi construída: não para celebrar homens, mas para honrar ideais. Como escreveu JK: "Brasília é um desafio ao eterno e ao infinito". Caberá a nós, homens livres e de bons costumes, e às novas gerações, decidir se esse desafio será vencido — ou se perderemos, para sempre, a última centelha do sonho que um maçom ousou tornar realidade. Nós, com a força fraternal que nos une, precisamos resgatar esse legado, como assim escreveu o jornalista e maçom Ozório Duque Estrada, a frase que está gravada no Hino Nacional Brasileiro, "Mas, se ergues da justiça a clava forte. Verás que um filho teu não foge à luta!

Rubens Nascimento é jornalista, formado em Direito, Mestre-Maçom- GOB e ativista do desenvolvimento.

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