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Crônica

Podcasts como vistas da janela da escrita


Podcasts como vistas da janela da escrita - Gente de Opinião

       Incrível como as vistas da janela da escrita vêm se digladiando, no processo de divulgação de conteúdos, ao longo dos últimos anos, como se a vista da visão estivesse cedendo espaço à da audição. É fato que o mais comum seria a interação dos sentidos, visão e audição, se possível, podem e devem se completar, como vem ocorrendo nas últimas versões dos podcasts. O livro, os textos, para uso da visão, estão sendo superados pelo arquivo de voz, direcionado à audição; ainda que, em muitos casos, o arquivo de áudio, não passe de um texto lido. O atrativo é o público alvo de um texto gravado: milhares de ouvintes grudados, no dia a dia, ao fone de ouvido. Cuidado ao atravessarem a faixa de pedestres, o sinal pode estar fechado!

No entanto, pelo andar da carruagem, a tecnologia vai no sentido da substituição do texto a ser lido. Não é à toa que os livros estão em processo de extinção, substituídos pelo arquivo de áudio e vídeo. É fato que um tablet substitui vários livros… Pobre de mim, escravo do texto no papel, para leitura! Tenho que me conformar, o futuro pertence aos netos…

A escrita cuneiforme, os hieróglifos, o papiro, o alfabeto, foram algumas das primeiras vistas da janela da escrita, restritas à visão, registrando manifestações consuetudinárias, colaborando com a memória e dando aos historiadores farto material de estudo. Com o aprimoramento do alfabeto, a invenção do papel e da prensa de Gutemberg, então, foi uma festa, a visão mandava e desmandava. Daí às gráficas modernas foi um salto extraordinário. Hoje estas mesmas gráficas estão em processo de extinção, cedendo espaço às telas de vídeo e aos arquivos de áudio.

No avanço de todas as civilizações, foi de suma importância o registro feito pela escrita. Imaginem quanto se perdeu e quanto teria se perdido dos ensinamentos orais de Sócrates, por exemplo, se Platão não tivesse registrado para a posteridade seus métodos e máximas! Praticamente todo o conhecimento humano, nos quatro cantos do Universo, foi registrado em livros, destinados à leitura, logo para o exercício do sentido da visão.

No passado recente, líamos um, dois e até três livros por semana e ainda discutíamos a qualidade do texto, o enredo, com colegas do mesmo nível. Atualmente a leitura é tida como cansativa, sonolenta e foi substituída por novelas, séries, filmes dublados e, principalmente, áudios. Quem tem o costume da leitura sabe que não é a mesma coisa. Se não gosta de textos longos, leia ao menos livros da literatura minimalista, como os textos do escritor Viriato Moura, um mestre dos nanocontos, mini contos, contos, aldravias etc.

Hoje todas as mídias não se cansam de divulgar podcasts.  A autoria do termo é atribuída a um artigo do jornal britânico The Guardian, em 12 de fevereiro de 2004. É como um programa de rádio com conteúdo de mídia sob demanda, você pode ouvir o que quiser, na hora que bem entender. Vale lembrar que, hoje, a maioria dos podcasts são gravados em áudio e vídeo, tornando-os mais atraentes. Os temas são os mais abrangentes possíveis: cinema, TV, literatura, ciências, profissionais, política, notícias, games, culturais, religiosos, educacionais, humorísticos, musicais, esportivos… E tem muito mais. Haja tempo! Recomendo os podcasts políticos do jornalista Robson Oliveira, não só pela qualidade dos seus convidados, como pela perspicácia e ousadia de seus comentários.

Segundo os divulgadores, o podcast aumenta tua produtividade, te ajuda a crescer e a evoluir. Com a correria de hoje o tempo precisa ser bem administrado, e o conselho é não largar o celular nem os fones de ouvido, quando estiver perdendo tempo no trânsito, viajando, lavando louça, arrumando a casa, ou até mesmo no sanitário.

Antigamente víamos, no transporte coletivo, jovens lendo romances impressos, ou uma revista, um jornal, hoje, todos estão concentrados nos fones de ouvido ou na telinha do celular, enquanto isso as bibliotecas, as livrarias e as bancas de revistas vão desaparecendo aos poucos do cenário cultural.  As crianças, logo logo, não mais ouvirão suas mamães lendo um livrinho de histórias infantis, ou cantando canções de ninar, ouvirão podcasts da mamãe, entrevistando o papai, em formato babá eletrônica, gravados anteriormente. E viva a família. Rsrsr!

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