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Crônica

A alma da noite


Fátima Ferreira Santos  - Gente de Opinião
Fátima Ferreira Santos

A alma da noite é cheia de estrelas e de brilhos na escuridão. Nos convida a dormir e sonhar, mas eu quero descobrí-la. Abri o portão, cuidadosamente, e fui devagar sentindo o cheiro da noite. Havia um silêncio amável e assustador (não temos o hábito do silêncio). Respirei de olhos fechados numa esquina qualquer e quando abri meus olhos me assustei! Em minha frente, a poucos passos estava ela, uma mulher de beleza inigualável: vestido vermelho como sangue,  pele branca como a neve, lábios carnudos, olhos brilhantes e negros. Seu cabelo parecia uma seda brilhante, cuidadosamente arranjado com uma belíssima rosa vermelha, o que realçava ainda mais a alvura da sua pele e o pretume dos seus cabelos. Eram anéis cacheados e delicadamente colocados do lado direito. Seu cheiro era de um perfume inebriante. Qualquer coisa indescritível! Era puro encanto! Meu coração batia forte, minhas pernas tremeram, minha respiração era ofegante. Salve vós minha moça, me disse em voz delicada e sonora. Queres conhecer a alma da noite? Estou aqui! Abriu os braços e parecia que pequeninas estrelas saiam do seu corpo. Ela gargalhou e eu senti vontade de correr mas não pude, seu encanto era tanto que paralisei.

Ela se aproximou, pegou em minhas mãos e me disse: não tenha medo. Me chamo Rosa e sou da noite, sou a alma da noite, sou das almas da noite. Ouvi seu chamado, estou aqui. Vamos caminhar? Com um gesto aceitei. Ela colocou a mão em minha cintura e me senti flutuar. Feche os olhos, me disse. Em súbito estávamos em um lugar encantador. Seja bem vinda em minha morada. Esse é o meu lar. Uma sala enorme,  com candelabros cheios de luz, uma mesa de material que não conhecia e muitas rosas espalhadas,  de todas as cores, de todos os cheiros e tudo era perfeito e nada era exagero, tinha ordem nos perfumes, não havia mistura, não havia demasia. Ela sentou em uma poltrona ricamente decorada com veludo vermelho e pequenas pedras de cores diversas. Observei suas mãos, eram perfeitas, delicadas, firmes e pareciam dançar quando ela gesticulava. O meu medo foi substituído por uma alegria e ternura e encantamento indizíveis. Aquele lugar, aquela linda mulher era um sonho. Sua casa era um castelo. Aproximei-me da janela, abri uma belíssima e colorida cortina e meus olhos se encheram de luz. Havia um jardim tão magnífico que a terra não poderia descrever. Uma imensa alegria encheu meu coração. O vento soprava e pequeninas pétalas flutuavam no ar brilhantes como vagalumes. Eu chorei de emoção. Ela me observava e sorria.

Esse é o lado lindo da noite, me disse. O outro tu não podes conhecer porque como todo ser humano tem suas sombras, assim é a noite. Te deixo com os encantos, com a luz, os perfumes das flores, a magia da beleza das estrelas e do luar. Já te basta por hora. Das sombras da noite eu cuido. Eu e meus amigos e amigas. Quando olhei para a grande  mesa vi várias mulheres lindas e perfeitas e homens magnificamente vestidos com suas capas e cartolas e bengalas e outras ferramentas. Todos me sorriram. Ela me deu uma rosa e eu acordei.

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