Segunda-feira, 19 de abril de 2021 - 12h00
Em: “ Olhai os Lírios do Campo”, o
escritor gaúcho, Erico Veríssimo, apresenta-nos a personagem: Eugénio Fontes,
médico, que desprezou a vida fácil de genro de homem rico, para se entregar à
medicina quase como sacerdote.
De médico respeitado, graças ao sogro, após o
divórcio, passa a clínico da classe média e da gente pobre.
Um dia, o amigo, igualmente médico, o Dr.
Seixas, diz-lhe: - ” Você está a tornar-se importante! …”
Apanhado de surpresa, pergunta: Porquê?
-“ É que começam, os colegas, a dizer mal de
si.”- Responde-lhe o Dr. Seixas.
Quando, em qualquer profissão, alguém começa a
ser atacado justamente ou não, é sinal, quase sempre, que está a subir na
escala social; a tornar-se conhecido.
A maledicência, tem raiz na inveja. Miguel
Ângelo, queixava-se que os males entendidos, como Papa, tinham origem em
Bramonte e Rafael, devido à inveja.
Já o Padre António Vieira, dizia:” “
Sabeis porque vos querem mal vossos inimigos? Ordinariamente porque vêm em vós
algum bem que eles quiseram ter e lhes falta.
“ A quem não tem bens, ninguém lhe quer mal.”
Pateadas e calúnias, são resultantes, quase
sempre, do mesmo mal.
É o caso de Anita Ekberg, que foi atacada, no
palco, com tomates, lançados pela cantora Evelyn, porque aquela abandonara a
sala, enquanto cantava.
O escritor, ao ser conhecido, logo é vítima de
inveja e da calúnia.
Camilo, em: “ Noites de Lamego”, refere-se
que o vulgo costuma enxovalhar, por maldade, o homem distinto: “ A
canalha urra triunfalmente a cada homem distinto que sopesa e recalca no seu
esterquilino.”
Entre os intelectuais, basta alguém do seu
meio, ter sucesso ou ter sido premiado, para os confrades e amigos, espalharem
boatos desagradáveis.
Está nesse caso a “ zanga” entre o pintor Júlio
Dupré, grande amigo de Teodoro Rousseau; quando Júlio recebeu o grau de
Cavalheiro da Legião de Honra, Teodoro, afasta-se, por inveja e ressentido.
Helena Sacadura Cabral, referindo-se à calúnia,
declara ao: “ Diário de Notícias”: “ Em Portugal há uma longa tradição de
murmúrio, de inveja, de cobiça e de preguiça, também. Os valores raramente são
reconhecidos e os inteligentes constituem o repasto ideal para a calúnia.” -
“ O Dia” – 09/09/02.
A calúnia costuma andar de braço dado com a
inveja. Sempre que se alcança, em qualquer profissão, lugar de destaque, logo
surge o boato mesquinho - “o dizem…que dizem…”
Mesmo entre figuras da ciência, a inveja,
existe. É conhecida a disputa ridícula entre dois lentes de Coimbra: o Brites e
o Ferrer, no final do século XIX, por antagonismo de doutrina.
Entre os intelectuais, há o costume de criar “
capelinhas”, por ideologias.
Chianca Garcia, disse ao “ Século” (18/01/1959,)
depois do sucesso do filme: “ A Aldeia da Roupa Branca”, teve que ir
para o Brasil, porque sentia má vontade de muitos, de a excluir das “
capelinhas” e de contratos.
Criada a tertúlia, cria-se a “ capelinha”,
elogia-se mutuamente; se o neófito pretende ingressar no reduto, logo é
corrido, a não ser que tenha “ padrinho forte”, na “ capela”.
Que o digam os que se iniciam na difícil e
ingrata Arte das Letras, a dificuldade que sentem em serem acolhidos. Os
próprios editores, em geral, sofrem do mesmo mal.
O medo de serem destronados do pedestal, que
elegeram, leva-os apartar todos, que podem vir a fazer-lhes sombra.
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