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Gente de Opinião

Crônica

A Chuva que cai lá fora


Fátima Ferreira Santos  - Gente de Opinião
Fátima Ferreira Santos

A chuva cai torrencialmente dos céus. Há muito tempo não ouvia o cantar dos insetos que felizes entoam seus cantares depois das chuvas. São sinfonias de vários tons. Lembrei-me da infância.  Do quanto era bom o banho de chuva sem medo de resfriar; correr à procura das biqueiras mais fortes; chutar as poças de água; andar pela rua de braços abertos olhando os pingos da chuva cair e formar bolhas e escorrer pelas calçadas. Essa é uma boa e terna lembrança da minha infância. Talvez a melhor delas. Ouço os gatos miando nos telhados molhados. Será o gato de botas? Indago. Ele já não chora o lamento dos abandonados e fico pensado que é por causa das pequenas porções de amor e comida que dou para ele; do carinho que faço em sua cabeça peluda. Eu amo o gato de botas e ele já reconhece minha voz e vem ao meu encontro ainda com receio de ser maltratado. Os grilos cantam e os sapos respondem nas lagoas a festança da chuva. Já é quase sábado e as águas de março encontraram o outono. Tem carnaval na Páscoa. Tem copa do mundo e eleição para Presidente nesse nosso país gigante. Tem guerra do outro lado do mundo! Tem gente com fome bem aqui perto. Panela sem comida e fogão sem gás. Tem carro parado sem gasolina; cenoura fora das mesas; casais se desapaixonando e sonho com direito a nave espacial. E a vida segue sem parar e daqui da minha rede escrevo para não deixar de pensar que ali na esquina com cantos de grilos e sapos a noite acontece com chuvas e lembranças e vontade de amar.

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