Terça-feira, 29 de março de 2022 - 15h54
A chuva cai torrencialmente dos
céus. Há muito tempo não ouvia o cantar dos insetos que felizes entoam seus
cantares depois das chuvas. São sinfonias de vários tons. Lembrei-me da
infância. Do quanto era bom o banho de
chuva sem medo de resfriar; correr à procura das biqueiras mais fortes; chutar
as poças de água; andar pela rua de braços abertos olhando os pingos da chuva
cair e formar bolhas e escorrer pelas calçadas. Essa é uma boa e terna
lembrança da minha infância. Talvez a melhor delas. Ouço os gatos miando nos
telhados molhados. Será o gato de botas? Indago. Ele já não chora o lamento dos
abandonados e fico pensado que é por causa das pequenas porções de amor e
comida que dou para ele; do carinho que faço em sua cabeça peluda. Eu amo o
gato de botas e ele já reconhece minha voz e vem ao meu encontro ainda com
receio de ser maltratado. Os grilos cantam e os sapos respondem nas lagoas a
festança da chuva. Já é quase sábado e as águas de março encontraram o outono.
Tem carnaval na Páscoa. Tem copa do mundo e eleição para Presidente nesse nosso
país gigante. Tem guerra do outro lado do mundo! Tem gente com fome bem aqui
perto. Panela sem comida e fogão sem gás. Tem carro parado sem gasolina;
cenoura fora das mesas; casais se desapaixonando e sonho com direito a nave
espacial. E a vida segue sem parar e daqui da minha rede escrevo para não
deixar de pensar que ali na esquina com cantos de grilos e sapos a noite
acontece com chuvas e lembranças e vontade de amar.
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