Sábado, 23 de setembro de 2023 - 11h41
A partir da
descoberta do fogo, os sapiens passaram a uma nova etapa da evolução: se
reuniam ao redor de uma fogueira, conspirando pelo surgimento de novas
comunidades, escolhendo lideranças, enfrentando as necessidades com mais
capacidade. O homem aprendeu, então, que pensar em grupo rendia maiores
dividendos. Daí surgiram as grandes fraternidades brancas do oriente, as
sociedades civis, abertas e secretas, as seitas e religiões, as academias
gregas, europeias etc., com influência marcante no poder. Um provérbio africano
segredava aos ouvidos da humanidade: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir
longe, vá em grupo." Entretanto, seja qual fosse o motivo, as estranhices
acompanhavam a vida de muita gente, e não é uma tarefa muito fácil abraçar a
positividade, quando se sente um patinho feio, passando por adversidades. O
nômade é o que vai mais rápido, ele não discute opções, nem parcerias, é um
apaixonado pelo que vem depois.
Desde os primeiros
aglomeramentos que existem os desgarrados, os estranhos, os que pensam mais,
que produzem mais, os que fazem da excelência meio de vida e se destacam, nas
artes e nas ciências, alimentando nos outros o pérfido sentimento da inveja, e
com ela vem a discórdia. Por isso é difícil a pacificação grupal, em todas as
áreas. As lideranças natas são difíceis e as improvisadas nem sempre agregam.
Não é todo dia que aparece um Luther King, um Mandela, um Mahatma Gandhi, mas
os Putin estão por todos os lados, germinam em todos os canteiros de ervas
daninhas. E quando você se destaca no variado jardim cultural, as tesouras
imbecilizadas cuidam de tentar aparar arestas criativas, como se não bastasse a
violência da indiferença dos que pouco sabem, num país carente de leitores.
Os séculos 17, 18 e 19 foram pródigos no surgimento de sociedades, a
maioria voltada para a pseudo fraternidade, a troca de experiências, o
crescimento das artes, das ciências, da justiça, além da implementação de
regras para uma boa convivência. Com o tempo, os homens descortinaram um
comovente segredo: viver não é só durar! Durante a gestão do escritor
Marcus Vinicius na presidência da ABL, era comum, nos discursos de posse de
novos membros da Academia Brasileira Letras - ABL, a referência ao fato de que “agora,
estavam condenados a conviver para o resto da vida”, o que implicava
renúncia a personalismos, ao exercício de atitudes de arrogância ou prepotência,
mas era agradável! Nada mais aliciante do que elogiar, honestamente, a produção
artística do companheiro de academia. Ainda assim, por sermos humanos, regra
geral, estamos sujeitos à convivência com atitudes separatistas egocêntricas, com
invejosos, com extremismos políticos de direita ou de esquerda, com individualismos
poéticos e artísticos doentios, que segregam mais do que agregam. Muitos
desgarrados são melhores do que a turba e sabem disso e incomodam!!!
A História, mestra
da vida, lembra, aos possíveis acadêmicos, que quantidade e qualidade
não pertencem ao mesmo patamar cultural. Está acontecendo com as academias de
letras o mesmo que aconteceu com as faculdades de direito: perderam o crédito,
se desvalorizaram porque estão em toda parte, foram banalizadas! A cultura
artística, literária ou científica, por ser um bem imaterial, singular, proveniente
de muito estudo e dedicação, não é um artigo que se encontra em qualquer feira,
em qualquer esquina ou em qualquer grupo. As artes, como um todo, e mesmo as
ciências, são seletivas e exigentes, não seduzem os olhos ou a atenção de
quaisquer consumidores. Em assim sendo, as agremiações foram obrigadas a
trilharem novos rastros, voltados à convivência sadia, como recompensa pela
unanimidade burra dos que só sabem dizer amém. As academias germinaram tanto,
que a maioria perdeu a qualidade artístico/científica, resta-lhe o encontro com
o outro, o convívio, mas isso depende de certas prerrogativas materiais, o
Silogeu, o local da convergência, a sede, a fogueira, onde se cozinham as
palavras, as ideias e a vontade de bater em políticos.
Descobriu-se então que
a discussão sadia de temas que visavam a melhoria do convívio, o sorriso
franco, o tapinha nas costas, o abraço, o jogo de xadrez, o gamão, as cartas, o
vinho, o whisky, o café e o chá em grupo, eram os melhores remédios para uma
vida mental sadia, feliz, alongando o tempo de prazer sobre a Terra. Dói muito
a solidão de quem não quer ser solitário. A simples falta de uma sede, num
universo de vários espaços públicos abandonados, interfere no exercício do
prazer em grupo e na interação cultural com a sociedade. O anti-humanista nega uma sede a
uma academia. A falta do local de encontro encadeia o desencontro, municia a
loucura singular e a consequente violência, o sorriso solitário dos psicopatas
culturais. Eu vou matar a tua edeologia.
Quando fundamos a
Academia Rondoniense de Letras – ARL, adubamos o terreno infértil das
distâncias sociais, achando que cifras e letras poderiam florescer sob o mesmo
manto da cultura. Estávamos imbuídos do propósito maior de que a academia se
transformasse em uma confraria, onde sentimentos mesquinhos, como os da inveja,
do preconceito, da vaidade, do exclusivismo, fossem vencidos pela irmandade,
pelo perdão, pela convivência, pelo amor ao próximo, de tal forma que
desaparecesse do interior de cada um dos membros, o sentimento de solidão. Ledo
engano! Sem uma sede própria fica imensamente difícil a aproximação entre os
participantes, assim como a elaboração de projetos conjuntos, para melhoria da
educação e da cultura de nossa amada região. Academia de laços solidários
é uma utopia necessária.
Ainda que não
sejamos uma super academia, apraz-nos saber que temos componentes do mais alto
nível, literatos minimalistas como Viriato Moura, poetas como Dimis da Costa
Braga e Abel Sidney, repentistas do quilate de José Dettoni, cronistas como
Antônio Serpa do Amaral, contistas como Delcio Pereira, contadores de causos como
Walter Bariani, historiadores e
pesquisadores como Julio Olivar e Aleks Palitot, resenhistas políticos, como
Robson Oliveira; enfim se tivéssemos uma sede própria eu seria uma espécie de
“macaca de auditório” de todos os dias, na esperança de que pudesse inventar um
jogo de trocar palavras, cambiar roteiros, ouvir e aprender e ampliar meus
conhecimentos. Aí sim! teria esperança pela continuidade de um pouquinho mais
de vida, com qualidade!!! E se me faltasse o diálogo do dia a dia, seria
socorrido com as lições de artes plásticas de Maria Miranda e declamaria com
ela os versos de Ferreira Goulart, a arte existe porque a vida não basta.
Nesses pouco mais
de 8 anos de existência, a ARL, de certa forma, cumpriu com a missão
primordial, atribuída a uma academia, vários livros foram publicados,
conferências foram feitas, entrevistas foram dadas, mas, por não possuir uma
sede própria, descuidou-se do lado social, da convivência sadia entre seus
membros. A ARL hoje é um gesto de ousadia!
Ninguém nunca vai
me convencer que um site, uma página no Facebook ou um grupo de WhatsApp
funcionam como sede física de uma associação. É diferente! É como o livro lido
na telinha do celular ou do notebook e o livro impresso, que é tocado,
cheirado, beijado, molhado de emoção. Não é a mesma coisa. Houve uma época em
que eu, quando gostava de um livro, dormia com ele, embaixo do travesseiro. A
solidão é o desamparo da palavra que agrega. Um simples livro, um simples
diálogo com um colega de letras, com um olhar comovente de um fá desconhecido,
pode ser o complemento da busca, pelo sentido da vida, vá em frente, leia, escreva,
procure na ficção a fuga da maldade ensaiada, dia a dia: eu vou dá um murro na
cara desse segregador. Cumprimente você mesmo, no outro, espelhe-se no que vale
a pena. Você vale a pena? Bem vindos à academia sem espelhos.
Mesmo sem teto, a
ARL ainda seduz, no próximo mês empossaremos mais sete membros efetivos, gente
do mais significativo quilate. Não me perguntem de onde vem esse brilho
hipnótico, talvez, parte venha, por tabela, do glamour histórico da Academia
Francesa ou da nobreza literária de alguns escritores da ABL. Fazer parte de
uma academia de letras sempre foi o sonho juvenil de um bom leitor. O brilho talvez
venha dos fios dourados do ridículo fardão dos acadêmicos: a indumentária
estravagante em várias áreas da atividade cultural ainda seduz e destaca, não
fosse assim e não existiria a toga dos diversos níveis de magistrados, o terno
preto, o avental e a espada dos maçons, a batina e demais adereços de padres,
bispos, cardeais e papas, enfim, a carruagem distingue, identifica, ainda que
superficialmente, seus ocupantes. Contudo, a máscara também é um diferencial,
encobre o crime, encoraja a alegria carnavalesca, afasta o vírus, duplica a
personalidade. Na Academia sem teto, estamos todos mascarados, odiando uns aos
outros, no silêncio dos espaços. Sejam bem vindos a academia sem espelhos
narcisistas. A ABL roubou todos os parâmetros, aprisionou a lagoa onde seus
membros encaram as próprias imagens. Os espelhos da ABL são como os de
delegacias de filme americano: todos veem a ABL, mas a ABL não enxerga a ARL. Entrementes
o desejo de se ver numa vitrine da pretensa elite cultural, mesmo que nesta
vitrine tenha produtos chineses, atrai muita gente. E os que não conseguem
aparecer nas vitrines da Rua Frederic Chopin,
Jardim Europa, se contenta com as calçadas da 25 de Março. Assim é a
vida!
A ARL não possui
fardão, mas se veste de sonho, todo dia. O brilho vem das estrelas, da vontade
de um dia trilhar a imensa seara encantada das artes literárias. O dia mais
feliz de minha foi quando uma adolescente me identificou, apontando o dedo para
mim, você é escritor, eu lhe conheço, eu estava na palestra que você deu na
Biblioteca Viveiro das Letras. Ufa! Enfim alguém me identificou. Melhor do que
uma atendente de banco que ao ler num formulário de abertura de conta, no local
destinado a profissão, o vocábulo “escritor”, veio me pedir explicações: − como assim, escritor, eu queria saber em
qual profissão o senhor ganha um salário, escritor é hobby e não profissão.
Por um instante fiquei órfão de palavras, elas me deixaram a ver navios, quando
dei por mim, a atendente já tinha deletado o escritor e trocado por professor,
justificando a retificação, com um largo e atraente sorriso. No dia seguinte,
inconformado, foi minha vez de calar a bela jovem, dei-lhe um dos meus livros,
autografado, Réu do Sexo, dizendo em breve discurso com a voz
alta, que eu não havia mentido, eu era realmente um escritor e não fazia da
profissão um hobby. Eu escrevia e escrevo por prazer, por gostar do convívio com
as palavras em seus vários níveis. Ela ficou corada, envergonhada e foi se
justificar com o gerente. No entanto, num país tão carente de leitores, eu
sabia que ela estava com a razão, não se enche barriga com palavras, mas se
enche um revólver, o cérebro, o desejo, o ódio, a inveja, um punho fechado. Com
elas, se enche a ficção, a ciência e até mesmo o amor – bem aventurados os
ricos de verbos, falas e discursos de quaisquer naturezas!
Tomara que a nossa sede própria
se materialize, para que o êxito, social e literário, acarinhe o convívio
despretensioso, que dará coesão e irmandade a um grupo renovável
de literatos, cientistas e artistas ad immortalitatem. Sejam bem vindos ao mundo das palavras vazias,
cheias e encantadas, tem para todos os gostos. Ou fujam, enquanto há tempo. Não
fica bem tomar posse e nunca mais aparecer nas reuniões dos sem teto. Essa vai
ser nossa 3ª festa de posse, na tentativa da estabilização de 40 membros
efetivos. Um gaiato, que mal escreve o próprio nome, me segredou pelo zap,
vocês deveriam apelidar a academia de vocês de AB -
Academia da Busca, deixando o L, navegando na terra do nunca, Never, Never Land. Quem sabe o Peter Pan
ceda a Ilha da Caveira para ser a sede de vocês. Na linguagem do chefe de
gabinete do prefeito, um bom start seria startar a ler os textos rondonienses,
Never more!
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