Terça-feira, 13 de julho de 2021 - 10h27
Semana passada, a partir de
uma entrevista de Lula a um jornal chinês, nós mostramos, com variedade de
argumentos, os custos da democracia brasileira e as fortes diferenças com o
sistema político/econômico adotado na China.
Daí recebi inúmeros e-mails, daqui e d’alhures, me confrontando com a Social-
democracia, segundo os questionadores, a verdadeira meta dos partidos de
esquerda, no Brasil. Infelizmente, aqui, os sociais democratas do PT, PSOL,
PSDB, PDT, etc. ainda se inspiram no comunismo/socialismo, num estado forte, autoritário,
nos moldes do Leviatã de Hobbes, que, numa versão regional, poderia ser
comparado com o nosso popular Mapinguari, dono de uma enorme boca na barriga, capaz
de alimentar, igualitariamente, todos os trabalhadores e um gigantesco olho na
testa, que tudo vê, tudo vigia, tudo controla, sem contar que, no tamanho, é um
monstro inviável, arrogante e de alto custo.
No embate entre liberdade e
igualdade, o gigantismo estatal já está ultrapassado. Grandes empresas estatais
rimam com corrupção. Hoje, quanto menor o estado democrático, maior o
progressismo. No Brasil, resta a privatização como forma de diminuir o Estado,
o contrário é mero devaneio, um retrocesso pacífico impossível. Imaginem se
fosse possível diminuir em 30% os custos com o Congresso, o Judiciário e os
Ministérios, quanto sobraria para ser aplicado no bem estar do cidadão…???
O assunto é extenso, porém, para
compreender melhor, recomendamos o estudo dos movimentos que surgiram pós
debacle econômica do EUA, em 1929; as teorias econômicas de John Maynard Keynes
e os planos de ajuda americana aos países europeus, pós 2ª Guerra Mundial,
lembrando que a Europa se dividiu, porque a Rússia, alimentando o sonho de
dominar o mundo, não aceitou ajuda americana (Plano Marshal), para reerguer o
Leste Europeu, daí o plano Marshal se transformou, na Europa Ocidental, em
Doutrina Truman, com orientação social democrata. As diferenças entre as duas
mostra quem tinha razão.
O desastre da administração
russa culminou com a queda do muro de Berlim, encerrando o ciclo aberto pela
Revolução Russa, que continha o sonho de substituição do capitalismo pelo
socialismo, na escala do planeta. No Ocidente, ao longo da Guerra Fria, as lutas
sociais jamais cessaram, mas a revolução proletária nunca ocorreu. A Social-democracia,
enquanto modelo econômico e político, concluiu sua ruptura com os comunistas, voltando-se
para um programa de reforma do capitalismo: uma reação liberal, ignorada no
Brasil, organizada sob o estandarte do “Estado mínimo”, difundiu-se pela
Europa e conseguiu, no século XX, estrondoso sucesso, principalmente nos países
nórdicos, diminuindo as desigualdades sociais, sem aderir ao socialismo
cientifico, mas se aproximando de um Estado de bem estar social democrático,
com incorporações de elementos tanto do socialismo quanto do capitalismo,
dentro de uma perspectiva política e econômica, visando promover o progresso
social.
A Social-democracia implantada nos países nórdicos da Europa,
que defende as liberdades civis, os direitos de propriedade e a democracia
representativa, com eleições regulares e competitividade entre partidos
políticos, também é bem vinda por aqui, desde que o país adquira os requisitos
necessários a sua aplicação – analfabetismo zero e educação coletiva de
qualidade – para não cair na armadilha dos argumentos falsos, das promessas
de palanque, do populismo, nem permitir que o custo da máquina do estado chegue
a níveis absurdos e irreversíveis. Os poderes republicanos brasileiros foram
inchando ao longo do tempo, hoje custam mais caro do que qualquer outro país, se
tomarmos o PIB como referência. Não sobra verbas suficientes para aprimorar a
educação, melhorar o atendimento na saúde e promover a segurança do cidadão,
muito menos para obras de infraestrutura. Além dos altos salários, o governo,
para governar, precisa aceitar a corrupção, em todos os níveis. Não é fácil
alimentar a ganância ideológica “corruptória” de 33 partidos políticos.
O máximo que conseguimos dentro da ótica social, a partir do
século XX, foi a implantação de algumas garantias trabalhistas e
assistencialistas de péssima qualidade, como o salário mínimo, o INSS, o Bolsa
Família e o SUS, um mero remendo, uma enganação. É claro que o aprimoramento dessa ampla
gama de serviços e tarefas do Estado necessita de recursos, que serão obtidos por
meio de uma carga
tributária mais alta: para usufruir, tem que pagar! A reforma
tributária do Paulo Guedes será paralisada no Congresso, exatamente porque
promove o aumento de impostos. Em países latinos, tradicionalmente
corruptos, os ministros da Economia não precisam de conhecimentos, mas de uma
varinha de condão, que transforme retórica em dinheiro.
Os nórdicos, oriundos da monarquia e hoje parlamentaristas,
conseguiram misturar a economia capitalista com valores socialistas e se
transformaram numa alternativa plausível ao capitalismo puro. Lá costumam estar
inclusos, entre os serviços públicos promovidos pelo Estado, assistência médica
ampla e gratuita, programas habitacionais, educação infantil, básica e superior
gratuita, segurança, infraestrutura, justiça, etc. Contudo a carga tributária geral (como
porcentagem do PIB) está entre as mais elevadas do mundo: Suécia 44,1%,
Dinamarca 45,9% e Finlândia 44,1%. No Brasil a carga tributária é de
aproximadamente 33,58% e no Reino Unido é de 32,6%. Os países nórdicos têm alíquotas de impostos
relativamente fixas, o que significa que mesmo aqueles com renda média e baixa
são tributados em níveis relativamente altos. Todo mundo paga satisfeito,
porque o governo é solidário, existe retorno, não há o que reclamar, não existe
a Lei de Gerson e muito menos corrupção. Com a diminuição do custo Brasil e
o fim da corrupção, tudo o que eles conseguiram lá, também seria possível aqui.
Sonho meu! Sonho meu!..
Portanto, meus caros leitores, para se alcançar a verdadeira
Social-democracia ou Estado de bem estar social democrático, seria preciso uma
revolução social intensa ou um governo ditatorial, com força para varrer os
vermes políticos da sociedade, começando tudo de novo, com dois partidos
políticos, metade dos deputados e senadores, teto salarial de dez mil para
todos os cargos públicos, inflação zero e muita vontade de resolver os
problemas nacionais, principalmente diminuir as distâncias sociais. Afora isso,
só pelas vias sobrenaturais: políticos e funcionários do alto escalão, em geral,
precisariam morrer, passar por uma reciclagem espiritual, com foco na
solidariedade e na restauração da honra e reencarnar, novamente, no Brasil,
para consertar os erros da tarefa iniciada há muitos anos. Nosotros ficaríamos
rezando para que a reciclagem não ocorra sob a ótica do budismo, porquanto, aí
eles poderiam reencarnar em forma de hienas. Ai de nós, simples cordeiros
das savanas conservadoras.
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