Sexta-feira, 11 de março de 2022 - 18h47
A janela facilita a
peregrinação do vento pelo interior da casa, removendo ou renovando odores,
interferindo no humor. Nas asas do vento, velhas lembranças amassadas de tempo
ingressam nos lares pelas portas e saem pelas janelas ou vice-versa.
Desde
as primeiras concepções arquitetônicas de casa, cerca de 4.000 anos antes de
Cristo, na Pérsia, a janela já estava no projeto, nem sempre por harmonia ou
beleza, mas por prazer arejante, uma saída ao sufoco, ao mormaço, à mudança de
clima e a novos ângulos de visão – a janela seria a moldura romântica aos olhos
–, mas também a saída estratégica em caso de necessidade de fuga.
Das casas, a janela migrou para os meios de transporte:
estava nas carruagens, nos trens movidos a vapor, na invenção de Ford, na
navegação marítima, no zepelim, no 14Bis e, cumprindo a evolução, foi à lua,
além de ser presença constante na imaginação criativa, como figura de
linguagem.
Gregos e romanos, para não contrariar a história da
civilização, estavam no limiar das variações estéticas da janela, antes dela
ganhar o mundo conceptivo do barroco e do classicismo: onde ora era redonda, às
vezes quadrada, retangular, elíptica, de geometria livre, sem deixar de cumprir
sua função romântica e estratégica, Romeu e Julieta que o digam.
No
movimento Arte Nova, casou-se com o vidro e esbanjou beleza em cores, tendo o
ferro, o alumínio e a madeira como amantes devotados, sem desprezar,
vaidosamente, a paquera, o voyeurismo de uma rosa, uma violeta, um jasmim, um
cravo, em vasos instalados sobre a concepção artesã de peitoril.
A
racionalização dos espaços lhe alçou a alturas antes inimagináveis.
Internamente as cortinas vestiram-na com inúmeros materiais, atendendo aos
gostos decorativos de cada um.
Mas
foi o racional quem lhe deu o sentimento: a janela incorporou a vista e deixou
de ser mera moldura ao olhar, para ser a aura da presença humana, a extensão
significativa do horizonte e da imaginação. O visual ganha contornos reais,
fantásticos, ficcionais e até mesmo eróticos, dependendo de quem olha, do que
se olha, ou de quem é olhado.
Nem mesmo as paredes do prédio ao lado, na
selva de pedra das grandes cidades, conseguem abater a fabulação criativa do
olhar que enxerga vistas, pelo dom da arte literária, como se o autor estivesse
debruçado sobre a janela da alma.
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