Terça-feira, 11 de outubro de 2022 - 12h42
Das vistas que me atormentam a
existência, as da janela da alteridade (ou será da empatia?) são as mais
difíceis de serem assimiladas, compreendidas, como sendo de fundamental
importância, no respeito ao outro, nos relacionamentos. Como é difícil
encontrar dentro da gente um ser humano sinceramente psicossocial. A simples
empatia, a troca de favores, o altruísmo, o sentir a dor do outro é razoavelmente
possível.
Entrementes, se em cada cabeça
há uma sentença, assimilar e aceitar as vistas da janela do outro, não é tão
fácil assim. Não se trata de diferença de cor, de gênero, de comportamento fora
dos padrões éticos, mas de penetrar o pensamento alheio, como se estivesse na
pele do outro, e só aí você percebesse que o moreno tem preconceito de cor
contra o preto;
Que alguém se acha melhor
porque “tem mais”, ainda que este “ter” tenha um passado comprometido com a
ética;
Que o outro se acha mais
sábio, mais inteligente, ainda que a vida tenha nos ensinado que “o homem que
diz sei, não sabe; que diz sou, não é”, etc. etc.
E se você for o reitor de uma
universidade, líder de um partido político, presidente da Câmara de Vereadores,
da Assembleia Legislativa, da Câmara dos Deputados, do Senado, da República, ou
simplesmente presidente de uma academia de letras, formada por juízes,
desembargadores, médicos, advogados, professores, cientistas, artistas
plásticos, quarenta egos inflados, inclusive o meu, que precisam ser
administrados, levando-se em conta o princípio da empatia ou da alteridade?
Não, não é fácil! Tomara que a Angella Shilling, nova presidente da ARL, a
primeira mulher a administrar nossa Academia de Letras, Ciências e Artes,
consiga integrar todas as mentes, sem atropelos. Daí porque é importante termos
uma sede própria, conversas olho a olho são mais humanas do que as remotas.
Às vezes eu me ponho a abrir a
janela do outro ou a trocar a janela dele pela minha, as vistas são de difícil
assimilação, porque envolvem muito mais do que a simples diferença de cor, de
gênero, de grau de instrução, de cargo, de status e vão às profundezas da alma,
onde se escondem os primeiros comprometimentos genéticos, que determinam de que
parte do mundo você veio, quais conceitos você assimilou ao longo do tempo, o
que entrou mais no seu cérebro e permanece até hoje, tanto do lado materno
quanto do paterno. Gustave Young dizia que no cérebro humano está a soma de
todas as civilizações.
Para conseguir os efeitos da
alteridade você precisa atravessar os obscuros labirintos da mente humana,
desnudando as paixões, trazendo à tona a inveja, iluminando desejos, apontando
os grandes fantasmas que perseguem o homem desde a origem.
Com isto não quero dizer que
não seja possível a interação humana, quando você se relaciona com outras
pessoas ou grupos, difícil é conhecer e aprender com a diferença, fazendo-se
respeitar ao mesmo tempo em que respeita o indivíduo, uma verdadeira via de mão
dupla, onde ocorrem invasão de pista alheia, derrapagem, contramão,
atropelamento e mortes.
Agir conforme princípios
morais deveria ser a norma, nas vistas geradas na janela da relação
interpessoal, com grupos, família, trabalho, lazer, etc. Mas, embutidos nas
vistas morais, há que se ter um profundo conhecimento do perdão, noções
fraternas de diálogo, humildade, consideração e a capacidade psicológica de
sentir o que sentiria o outro, numa mesma situação vivenciada, perfil difícil
de se encontrar nas vistas advindas da janela humana.
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