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Crônica

A janela da alteridade


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

Das vistas que me atormentam a existência, as da janela da alteridade (ou será da empatia?) são as mais difíceis de serem assimiladas, compreendidas, como sendo de fundamental importância, no respeito ao outro, nos relacionamentos. Como é difícil encontrar dentro da gente um ser humano sinceramente psicossocial. A simples empatia, a troca de favores, o altruísmo, o sentir a dor do outro é razoavelmente possível.

Entrementes, se em cada cabeça há uma sentença, assimilar e aceitar as vistas da janela do outro, não é tão fácil assim. Não se trata de diferença de cor, de gênero, de comportamento fora dos padrões éticos, mas de penetrar o pensamento alheio, como se estivesse na pele do outro, e só aí você percebesse que o moreno tem preconceito de cor contra o preto;

Que alguém se acha melhor porque “tem mais”, ainda que este “ter” tenha um passado comprometido com a ética;

Que o outro se acha mais sábio, mais inteligente, ainda que a vida tenha nos ensinado que “o homem que diz sei, não sabe; que diz sou, não é”, etc. etc.

E se você for o reitor de uma universidade, líder de um partido político, presidente da Câmara de Vereadores, da Assembleia Legislativa, da Câmara dos Deputados, do Senado, da República, ou simplesmente presidente de uma academia de letras, formada por juízes, desembargadores, médicos, advogados, professores, cientistas, artistas plásticos, quarenta egos inflados, inclusive o meu, que precisam ser administrados, levando-se em conta o princípio da empatia ou da alteridade? Não, não é fácil! Tomara que a Angella Shilling, nova presidente da ARL, a primeira mulher a administrar nossa Academia de Letras, Ciências e Artes, consiga integrar todas as mentes, sem atropelos. Daí porque é importante termos uma sede própria, conversas olho a olho são mais humanas do que as remotas.

Às vezes eu me ponho a abrir a janela do outro ou a trocar a janela dele pela minha, as vistas são de difícil assimilação, porque envolvem muito mais do que a simples diferença de cor, de gênero, de grau de instrução, de cargo, de status e vão às profundezas da alma, onde se escondem os primeiros comprometimentos genéticos, que determinam de que parte do mundo você veio, quais conceitos você assimilou ao longo do tempo, o que entrou mais no seu cérebro e permanece até hoje, tanto do lado materno quanto do paterno. Gustave Young dizia que no cérebro humano está a soma de todas as civilizações.  

Para conseguir os efeitos da alteridade você precisa atravessar os obscuros labirintos da mente humana, desnudando as paixões, trazendo à tona a inveja, iluminando desejos, apontando os grandes fantasmas que perseguem o homem desde a origem.

Com isto não quero dizer que não seja possível a interação humana, quando você se relaciona com outras pessoas ou grupos, difícil é conhecer e aprender com a diferença, fazendo-se respeitar ao mesmo tempo em que respeita o indivíduo, uma verdadeira via de mão dupla, onde ocorrem invasão de pista alheia, derrapagem, contramão, atropelamento e mortes.

Agir conforme princípios morais deveria ser a norma, nas vistas geradas na janela da relação interpessoal, com grupos, família, trabalho, lazer, etc. Mas, embutidos nas vistas morais, há que se ter um profundo conhecimento do perdão, noções fraternas de diálogo, humildade, consideração e a capacidade psicológica de sentir o que sentiria o outro, numa mesma situação vivenciada, perfil difícil de se encontrar nas vistas advindas da janela humana.   

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